O tom da gestão pós-moderna

Jaqueline Weigel

CEO da W Futurismo, Futurista Global, Estrategista, especialista em Foresight, em Comportamento Humano e em Gestão Positiva de Mudanças. Faz parte da comunidade da UNESCO em Futures Literacy.

Escreve a coluna Futurismo

O tom da gestão pós-moderna

Publicado em 15/12/2020

A sociedade tem passado por transformações contínuas e aceleradas e a maneira de pensar e agir da liderança está sendo desafiada intensamente. Os métodos que trouxeram resultados no passado não funcionam mais no novo contexto. Um dos grandes desafios das organizações atuais é adaptar a gestão tradicional e industrial para uma gestão pós-moderna.

A gestão pós-moderna é digital ou promove a migração para os modelos digitais, criando novas frentes de negócios dentro do negócio que já existe. Revisar o modelo, a estrutura, a dinâmica e digitalizar processos com metodologias ágeis é o início do caminho, mas não o aspecto final.

Empresas pós-modernas pensam globalmente e agem localmente de forma integrada ao todo global. O lucro está associado a impacto social que vira propósito e traz uma causa nobre como convite para o trabalho engajado. Empresas precisam ter responsabilidade e consciência ambiental, fazendo com que o discurso de antes passe a ser uma prática contínua.

Olhar para o futuro de longo prazo é mandatório. Observar sinais de mudança que podem fomentar decisões com foco no longo prazo é uma demanda estratégica. Só uma visão maior constrói o “mantra” que levará o negócio ao futuro preferido e engajará pessoas de forma inabalável no processo de transformação.

O mindset da gestão organizacional precisa estar conectado com o modelo mental da sociedade, entendendo que a diversidade favorece a criatividade, que existirão novas relações de trabalho (informal, livre e remoto) e que a nova medida é a entrega que gera resultado orgânico e não a produtividade. Criar o que ainda não existe é a nova forma de sair na frente, sem garantias de perpetuidade de qualquer forma.

Enxergar oportunidades no caos, ter foco no cliente interno e externo e liderar de forma transparente, disruptiva e exponencial são receitas de sucesso no mundo pós-Covid-19.

Veja os pilares de empresas modernas e da pós-gestão:

Objetivos e metas de longo prazo, mesmo no cenário Super V.U.C.A.;
Produção flexível;
Pessoas e trabalhadores são investimento e não custo;
O planejamento é horizontal;
O foco está no cliente e nas demandas emergentes do mercado;
O clima é de colaboração. A competição não tem espaço;
As equipes são multidisciplinares, inclusivas e diversas;
As redes são flexíveis e com fronteiras permeáveis;
O poder distribuído é um ativo;
A eficiência diminui com especialização, formalização, rotinas, fragmentação e divisão do trabalho;
A autoridade está com as equipes e não com o líder;
Empoderar é condição para que o trabalho funcione;
Pessoas se autogerenciam;
A remuneração é equiparada entre diferentes gêneros e minorias;
O discurso é plural;
O incentivo financeiro ou de compartilhamento do lucro é uma constante.

Fonte: O Reset da Liderança, W Foresight Brasil / W Futurismo

Na liderança, o assunto fica complexo. Líderes de formato tradicional ou pouco preparados para este novo jeito de comandar negócios não estão escassos, o que traz um novo apagão ao mercado: a falta de líderes exponenciais coerentes e preparados. Veja a diferença:

Liderança	Teoria do X ou Y de Douglas McGregor	Teoria do líder servidor
	Centralização, com muitos níveis hierárquicos e muitas regras	Descentralização, com poucos níveis hierárquicos e amplo alcance
	Centrada no chefe	Centrada nas pessoas
	Que diz aos outros o que fazer	Que oferece uma visão
Controle	Inspeção no final do processo	Qualidade é responsabilidade de todos
Controle	Micro gerenciamento e supervisão	Supervisão de mão dupla

As diferenças na gestão:

EMPRESAS TRADICIONAIS	EMPRESAS PÓS-MODERNAS
Burocracia	Sem burocracia
Muitos procedimentos e regras	Eliminação de procedimentos
Métricas baseadas em resultados	Métricas baseadas em processos
Informações são reservadas	Todos têm informações
Controle baseado em medo	Autocontrole

Fonte: adaptado de Managing in the postmodern world, de David M. Boje e Robert F. Dennehy.

E qual é a lição de casa?

Pensar apenas na Transformação Digital é reforçar nosso atraso. Em 2002 já haviam sinais de que grandes transformações se aproximavam. Mais uma vez não fomos antecipatórios no Brasil!

Em meio a tantos trabalhos cito, por exemplo, “Biologia Digital”, lançado em 2002 e relançado em 2011, que traz na narrativa uma intrigante viagem ao futuro da tecnologia e que foi escrito por um dos mais criativos pensadores da ciência atual, Dr. Peter J. Bentley, escritor britânico, cientista da computação baseado na University College London e professor honorário na UCL (London Global University)

Como ele explica, “o próximo grande passo da tecnologia já está a caminho conforme os cientistas da computação tentam criar universos digitais que copiam o mundo real. Dentro desses universos digitais, podemos desenvolver soluções para problemas, construir cérebros digitais capazes de aprender e de pensar e até edificar sistemas imunológicos que aprisionam e destruam vírus. É também a explorar a biologia a partir de uma nova perspectiva”.

Se a tecnologia continuar a evoluir neste ritmo, aonde iremos parar? Realidades como as dos filmes “Eu, o Robô”? Ou “Better than us”?

Precisamos transitar para a nova identidade cultural do mundo, que vai além do mundo digital e tecnológico da inovação de curto prazo e inclui pessoas, criatividade, imaginação, colaboração em ambientes ágeis e sem burocracias, com vista para longo prazo.

Quem permanecerá? Qual a importância da liderança neste momento tão crucial?

No cenário corporativo, onde o poder está distribuído e cada um tem o seu papel, a necessidade de coordenação e cooperação de forma orgânica e integrada é imperativa. Aqui entra a figura da nova liderança, pós-moderna, com experiência em negócios e um lado acentuado de desenvolvimento humano. Equipes se autogerenciam nesse novo ambiente, cooperam ao invés de disputar e são compostas por mini líderes em posições rotativas constantes. Equilíbrio entre a saúde do ambiente e a felicidade das pessoas que fazem o negócio acontecer para a empresa e para o consumidor final são as grandes premissas da gestão pós-moderna.

Para concluir, a mudança agora é radical. Não temos mais tempo nem espaço para adiar decisões, tomar riscos e trabalhar com novos formatos. Se isso acontecer pagaremos o altíssimo e desagradável risco de sermos extintos ou reduzidos a presenças de mercado insignificantes.

Future-se e atualize seu mindset, ele é a única coisa que levamos do passado para o futuro que se aproxima a cada dia.

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