Professor da FEARP/USP e da EAESP/FGV. Membro do Conselho da Associação Mundial de Alimentos (IFAMA) e criador da plataforma DoutorAgro.com. Publicou, com sua equipe, mais de 50 livros em 10 países.
Escreve a coluna Agronegócio
A contribuição do agro e dos biocombustíveis para a descarbonização no Brasil: o programa RenovaBio
Publicado em 21/02/2022
Dentre as principais pautas da atualidade, está a transição para a economia de baixo carbono e a procura pela minimização das mudanças climáticas. Nas últimas décadas, diversas iniciativas ocorreram a favor dessas questões, como a assinatura do Protocolo de Kyoto, o Acordo de Paris e, mais recentemente, a COP 26. Esta última trouxe o compromisso mundial da diminuição gradual do uso de combustíveis fósseis e o comprometimento dos governos de finalizar a venda de motores de combustão interna até 2035 nos principais mercados e, na sequência, em 2040 no mundo todo.
Em tempos em que todo o mundo está em busca de uma solução para a substituição dos combustíveis fósseis, o Brasil mostra-se muito à frente no que diz respeito a essa questão. Nos últimos anos, diversos países da Europa têm proposto a expansão da eletrificação de seus automóveis para a diminuição da emissão de carbono na atmosfera, porém isso requer investimentos expressivos ainda. Enquanto isso, o Brasil já possui, há décadas, o uso de biocombustíveis em larga escala, que, com o crescimento da preocupação mundial com as questões ambientais, deve se intensificar ainda mais.
A fim de expandir a participação do uso de biocombustíveis na matriz energética, foi desenvolvida no país uma política única no mundo, o programa RenovaBio. A política nacional de biocombustíveis é voltada a produtos diversos, tais como o etanol, o biodiesel e o biometano. Ela impacta fortemente diversos setores do agronegócio brasileiro, com destaque para o sucroenergético, de onde advém a maior parte do etanol do país.
Para atingir o objetivo de alavancar o uso dos biocombustíveis no Brasil, o programa utiliza do estabelecimento de metas de descarbonização progressivas ano a ano. Além disso, o RenovaBio dá aos produtores de biocombustíveis o direito de comercializar créditos de descarbonização, denominados CBIOs, de acordo com a quantidade comercializada e a quantidade de carbono que o seu produto deixa de emitir em relação ao seu substituto fóssil, no caso do etanol, a gasolina. Os distribuidores de combustíveis fósseis possuem a obrigação de adquirir os CBIOs de acordo com a meta pré-estabelecida, mas qualquer empresa ou pessoa que desejar, também pode adquirir o título através da bolsa de valores (B3).
Cada CBIO equivale a 1 tonelada de gás carbônico que deixou de ser emitido na atmosfera. Apenas no ano de 2021, mais de 24 milhões de toneladas de gases de efeito estufa foram evitados por meio da utilização de biocombustíveis. A negociação dos CBIOs gerou, ainda no ano passado, uma movimentação de R$ 1,17 bilhão. Espera-se que o RenovaBio gere até R$ 1,4 trilhão de investimentos até 2030.
A política nacional de biocombustíveis mostra-se de grande relevância não somente para as questões voltadas à sustentabilidade, mas também para o surgimento de novas usinas e o desenvolvimento regional em todo o país. Além de promover a expansão do mercado de etanol, o programa incentiva o crescimento da indústria de biocombustíveis ainda relativamente pouco produzidos em relação ao seu potencial, como o biometano.
O RenovaBio vem sendo um sucesso desde a sua implantação. Atualmente, a maior parte do etanol comercializado no país é produzido por empresas que possuem a certificação do programa, já emitem e vendem CBIOs. Isso mostra, mais uma vez, o agronegócio brasileiro como exemplo de sustentabilidade e seu potencial de crescer e gerar renda favorecendo o meio ambiente.
Encerramos nosso texto de hoje trazendo um pouco dos números atuais do RenovaBio: no mês de janeiro, cerca de 5,9% da meta anual da emissão de CBIOs foi cumprida. Segundo dados divulgados pelo Itaú BBA, advindos do relatório de Monitoramento Quinzenal – RenovaBio, isso equivale a um total de 12,45 milhões de títulos. Houve também um crescimento de 34,6% no volume de CBIOs disponíveis no mercado. O preço médio das negociações no primeiro mês de 2022 foi de R$ 70,49/CBIO. Já no dia 11 de fevereiro, os títulos foram negociados na bolsa de São Paulo a um preço médio de R$ 85,12, o que representa uma alta de 45% em relação ao valor vigente do último pregão de 2021. Este valor é duas vezes maior do que o valor médio do ano passado, que foi cerca de R$ 39, segundo dados do website renovabio.org.
Leticia Martinez
Confira textos, vídeos e outros materiais de Marcos Fava Neves no site doutoragro.com. A coluna de Marcos Fava Neves é escrita em parceria com Leticia Franco Martinez e Gabriel de Oliveira Teixeira. Letícia é mestre e doutoranda na Faculdade de Administração da USP em Ribeirão Preto, professora no Centro Universitário Barão de Mauá e especialista em sustentabilidade no agronegócio. Confira os materiais produzidos por Letícia no Instagram Tripé Sustentável e no Linkedin.
Gabriel Teixeira
Gabriel de Oliveira Teixeira é graduado em ciências econômicas e mestrando em administração de organizações ambos na USP de Ribeirão Preto. É também consultor e pesquisador na área de agronegócios, especialista em bioenergia e sustentabilidade. Confira seus materiais Linkedin.
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Sócio da BDO RCS Auditores Independentes – líder da área de Esporte Total. Responsável técnico da plataforma Fair Play Financeiro, da CBF. Professor da CBF Academy e do curso de Gestão e Marketing Esportivo, da Trevisan Escola de Negócios.
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Presidente do Instituto Chiavenato. Um dos autores nacionais mais respeitados na área de Administração e RH, com mais de 30 livros publicados. Professor convidado de várias universidades nacionais e do exterior.
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