Semana Carreiras da Administração

Idalberto Chiavenato

Presidente do Instituto Chiavenato. Um dos autores nacionais mais respeitados na área de Administração e RH, com mais de 30 livros publicados. Professor convidado de várias universidades nacionais e do exterior.

Escreve a coluna Tendências da Administração

Semana Carreiras da Administração

Publicado em 20/05/2022

O administrador sempre é levado a trabalhar orientado para planejar, organizar e dirigir o trabalho de terceiros, focando o cliente, o mercado e os públicos estratégicos envolvidos. Mas, nem sempre está orientado para si próprio ou para a sua própria carreira futura. Ela, a carreira, fica navegando ao acaso e nas oportunidades que eventualmente surgem. Isso faz parte da velha mentalidade de manutenção do status quo.

Sugiro aos jovens iniciantes que levem em conta dois aspectos importantes de suas características individuais em uma autoavaliação preliminar:

Sua inteligência predominante: quais as suas aptidões predominantes. Aquilo que você tem mais facilidade de fazer.
Sua vocação predominante: quais são suas preferências predominantes. Aquilo que você gosta de fazer.

Ambas fazem parte da sua personalidade e nem sempre se combinam. Portanto, adote aquela que for mais dominante e passe a ver as oportunidades no mercado, isto é, as opções de carreira. Aproveite a sua inteligência e vocação. Embarque nesta.

Na Semana Carreiras da Administração, evento promovido pelo CRA-SP no final do mês de abril, estivemos frente a um verdadeiro compêndio sobre aquilo que podemos chamar de Gestão da Carreira. No programa, dezenas de pessoas bem sucedidas na vida profissional apresentaram uma enorme sucessão de caminhos e veredas que a moderna Administração oferece para o seu futuro profissional. Vimos visões incríveis, oportunidades maravilhosas, fronteiras enormes. Aspectos que somente um evento daquela envergadura poderia apresentar, em um nível de profundidade impressionante. Tenho certeza que se você assistiu, muitas ideias vieram em seguida como caminhos futuros. Trajetórias impensáveis.

O que passou?

A Administração nasceu em plena Era Industrial no início do século passado. E boa parte das empresas que conhecemos foi criada e iniciada na Era Industrial e estão hoje amarradas em suas próprias estruturas rígidas e ainda presas ao velho modelo burocrático. E com pesadas fronteiras verticais (hierarquias decisórias separadas e isoladas contendo diretores, gerentes, supervisores); horizontais (áreas ou departamentos separados e isolados como marketing, finanças, produção industrial ou operações de serviços, gestão humana, logística, etc.) e externas (o que é a empresa e o seu ambiente externo), separando verdadeiros silos fechados e isolados. Não há uma integração ou coesão sistêmica e existem fronteiras que sobreviveram à Era do Conhecimento e que ainda não estão preparadas para enfrentar os desafios da Era Digital. Elas foram criadas para durar para sempre em uma época de estabilidade, previsibilidade e manutenção do status quo. Um sinal do atraso em relação ao mundo veloz e caótico em que estamos vivendo agora.

Mas voltemos à Administração. Ela passou por várias etapas, desde o seu modelo clássico, burocrático, neoclássico, estruturalista, comportamental, sistêmico e contingencial demonstrando a sua crescente flexibilidade e adaptabilidade na medida em que as mudanças e transformações cresciam. Claro, com a cibernética, a robótica, o computador, a internet e o surgimento de novas tecnologias emergentes, as facilidades de comunicação, interação, relacionamento e de consumo aumentaram exponencialmente. As novas gerações passaram a ter características peculiares totalmente diferentes. E não estão se adaptando às velhas condições sociais e laborais.

Tudo isso não foi simples moda passageira, mas uma evolução crescente da Administração no sentido de preparar as nossas organizações e empresas para as mudanças e transformações que vieram crescendo ao longo do tempo. Foram vários modelos que rapidamente se tornaram ultrapassados e obsoletos. E outros mais recentes que permaneceram como equipes multifuncionais, o ágile, etc. E muitas novidades estão chegando com uma velocidade inesperada. O fato é que temos muito o que aprender e começar a fazer.

O que virá

As tecnologias emergentes que estão surgindo trazem novas e inesperadas soluções, como a IA, algoritmos, realidade virtual, realidade aumentada e aprendizagem de máquina que, quando juntas, certamente apresentam resultados exponenciais. Além das plataformas e ecossistemas que concentram e ampliam resultados.

Precisamos ligar o nosso radar rapidamente e vislumbrar cenários futuros e prepararmos para os desafios que surgirão, com certeza. Hoje, estamos buscando modelos organizacionais simples, adaptáveis, flexíveis e ágeis para enfrentar um mundo de negócios mutável, inesperado, dinâmico, complexo, confuso e exponencial. São tantas as variáveis envolvidas que temos total incerteza dos desafios que surgirão no próximo mês ou no exercício seguinte.

E percebemos que as mudanças e transformações irão se expandir cada vez mais rapidamente e seus desdobramentos ficam confusos face à sua rapidez e complexidade.

O que fazer? Lidar com o futuro é totalmente diferente do que lidar com o passado e redimensioná-lo para o futuro. O imperativo ESG (meio ambiente, social e governança corporativa) e a visão do metaverso nos trazem muita esperança. A adaptabilidade exige aprendizado contínuo e constante, virtual e imersivo, seja em ações conjuntas, em trabalho em equipe, com trabalhadores remotos ou híbridos. É preciso enfrentar os desafios da Era Digital com as soluções adequadas fazendo as trocas, substituindo:

estabilidade por mudanças;
previsibilidade por construção de cenários alternativos;
manutenção por transformações;
certeza por flexibilidade;
eficiência por adaptabilidade e agilidade;
eficácia por resiliência;
durabilidade por criatividade;
lucratividade por criação e entrega de valor;
retorno de investimento por inovação. -

Todavia, o nível e o volume de mudanças e transformações organizacionais ainda estão bem abaixo do ritmo e velocidade de que precisamos. As mudanças e transformações externas são muito mais amplas, intensas e rápidas. Esse gap entre o interno e o externo tende a aumentar gradativamente. Ou exponencialmente.

A transformação digital se tornou uma prioridade. Um imperativo para a sobrevivência de nossas empresas e organizações para que possamos ingressar na Era Digital e na 4ª Revolução Industrial. Elas vão aumentar a velocidade das transações, liberar o potencial das pessoas e produzir retornos incríveis. Foi o que vimos na Semana de Carreiras da Administração. Se você não conseguiu ver as apresentações, acesse o canal do CRA-SP no YouTube. Está tudo lá. Um forte abraço a todos!

Idalberto Chiavenato abriu a Semana Carreiras da Administração, no CRA-SP. Para ele, o evento pode ser representado pela imagem abaixo, que possibilita uma visão integrada de tudo o que foi abordado.