Professor da FEARP/USP e da EAESP/FGV. Membro do Conselho da Associação Mundial de Alimentos (IFAMA) e criador da plataforma DoutorAgro.com. Publicou, com sua equipe, mais de 50 livros em 10 países.
Escreve a coluna Agronegócio
Investindo em boa governança, ninguém segura o agro brasileiro
Publicado em 16/07/2021
Começamos com uma informação incômoda: uma pesquisa realizada em 2020 pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) com diferentes stakeholders do setor, intitulada como “Agronegócio: desafios a` competitividade do setor no Brasil”, o tema governança foi indicado como o segundo principal gargalo brasileiro, atrás apenas de infraestrutura. Como um dos principais players do agro global, que lidera e exportação de diversas commodities agropecuárias possui governança reconhecido dessa forma?
Pausa para analisarmos brevemente alguns cenários do agro brasileiro para os próximos 10 anos. Segundo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a produção agrícola do Brasil deve crescer cerca de 20% até 2030. Além disso, dados da Embrapa mostram que a demanda por energia deve crescer em 40%, a demanda por água em 50% e que a expansão necessária para a produção de alimentos deve chegar a 35%. Com os números em mãos, podemos refletir mais sobre a sensibilidade da questão anteriormente trazida e levantar uma nova: como os gestores do agronegócio pretendem lidar com os avanços, tendências, sem considerar questões como ética, transparência tributária, gerenciamento de riscos, compliance ou adoção de práticas ESG?
A governança corporativa é fundamental para passar segurança para acionistas de que o plano de negócios tem uma perspectiva de futuro sustentável e promissor. Confiança tem tudo a ver com governança. Resultados são importantes, mas as estratégias que levaram a eles são ainda mais, pois os fins não justificam os meios quando se fala em sustentabilidade, é preciso considerar o todo sempre, por isso é tão importante a transparência organizacional. Uma pesquisa da PwC Brasil realizada em 2020 apontou que 47% de seus respondentes dizem que e´ tão importante ter acesso a informações ESG quanto a informações financeiras da empresa, o que fortalece o argumento de um pensamento conjunto.
Algumas formas de fortalecer a governança corporativa envolvem engajar os acionistas a pensarem em oportunidades e desafios, sempre com foco em assuntos que estão conectados a eles; desenvolver o plano de negócios respeitando os valores organizacionais, assim como o tempo necessário definido para alcance dos objetivos; identificar os riscos envolvidos e que são considerados limitadores para ações de médio e curto prazo; desenvolver treinamentos que incluam os times de toda organização.
Fica nosso aviso de que precisamos de muito mais do que aumentar a produtividade com tecnologia, sendo a responsabilidade é a palavra-chave, envolvendo a atividade agropecuária em termos ambientais e sociais. Para além disso, comunicação adequada desta postura sustentável vem como grande impulsionador gerando valor para o negócio. As certificações e os selos de sustentabilidade podem ser um caminho, pois possuem grande força para uma imagem positiva do produto e/ou serviço.
Um exemplo de certificação em Governança Corporativa alinhada ao aspecto Social e Ambiental é a “B Corp” que avalia como as operações da empresa e o modelo de negócios impactam seus funcionários, comunidade, meio ambiente e clientes. Considera desde a cadeia de suprimentos e materiais de entrada até doações de caridade e benefícios para funcionários, tendo como pilares o desempenho verificado, a responsabilidade legal e a transparência pública. A Happy Valley Meat é um exemplo de organização de fora que possui o certificado “B Corp”, desenvolvendo parcerias exclusivas com pequenos produtores da Pensilvânia e que realizam o manejo adequado dos animais. Importante observarmos as iniciativas pelo mundo.
Diante disso, vale destacar o fato de que, aqui no Brasil, a governança é adotada no meio rural, mas bem pouco desenvolvida por produtores menores, ponto de atenção para todos nós que precisamos criar ainda mais mecanismos de incentivos aos negócios menores e familiares nesse sentido. O País tem hoje aproximadamente 5 milhões de propriedades rurais, dos quais aproximadamente 4,5 milhões são de pequeno ou médio portes, segundo o Portal DBO, ou seja, a realidade do nosso país está nelas.
Quem está neste setor sabe bem que os riscos naturais são bem delicados, relacionados às intervenções climáticas, problemas como a geada recente, solo, entre outros, porém, os riscos na comercialização e financeiros também são preocupantes e possuem mesmo nível de importância. Em suma, a governança pode ser o “link” que faltava entre estes dois temas, pensando na sustentabilidade pura e clássica que envolvia os 3Ps no início: pessoas, planeta e lucro. Assim fica bem mais fácil entender o porquê dos critérios ESG ganharem tanto espaço atualmente, com o “G” sendo o grande diferencial. Quanto mais nosso país seguir nesse sentido, maior será o nosso sucesso (que já é grande). Ai ninguém segura mais o Brasil.
Leticia Franco Martinez
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Economista e consultor. É diretor do Instituto de Economia da Associação Comercial de São Paulo, onde também atua como superintendente institucional. Autor dos livros "O Plano Real Para ou Continua" e "O Plano Real Acabou?".
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CEO da W Futurismo, Futurista Global, Estrategista, especialista em Foresight, em Comportamento Humano e em Gestão Positiva de Mudanças. Faz parte da comunidade da UNESCO em Futures Literacy.
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Sócio da BDO RCS Auditores Independentes – líder da área de Esporte Total. Responsável técnico da plataforma Fair Play Financeiro, da CBF. Professor da CBF Academy e do curso de Gestão e Marketing Esportivo, da Trevisan Escola de Negócios.
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Presidente do Instituto Chiavenato. Um dos autores nacionais mais respeitados na área de Administração e RH, com mais de 30 livros publicados. Professor convidado de várias universidades nacionais e do exterior.
Escreve a coluna Tendências da Administração
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Administrador com pós-graduação em Marketing. CEO da Giros Filmes, sócio da Mundo Real e ex-CEO da Agência TUDO. Um dos mais reconhecidos profissionais de Marketing do País
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Cofundador e presidente do Grupo Empreenda, consultor, palestrante e autor do bestseller “Seja o Líder que o Momento Exige”. Criador da metodologia “Passaporte para o Futuro”
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