Esqueça: o Brasil não gosta, não entende e não realiza suas estratégias e segue retroagindo nos avanços e nas conquistas rumo ao futuro

Maurício Magalhães

Administrador com pós-graduação em Marketing. CEO da Giros Filmes, sócio da Mundo Real e ex-CEO da Agência TUDO. Um dos mais reconhecidos profissionais de Marketing do País

Escreve a coluna Marketing aplicado

Esqueça: o Brasil não gosta, não entende e não realiza suas estratégias e segue retroagindo nos avanços e nas conquistas rumo ao futuro

Publicado em 12/03/2021

Por que avançamos dez casas para a frente, retornamos sete e, ao custo de dez, avançamos três?

Claro que é uma metáfora e uma conta simbólica, porém super verdadeiro o princípio, a meu ver.

Como daremos certo se as grandes conquistas sempre são contestadas e, em vez de entronizadas, sempre retroagem?

Um exemplo é a Lei da Responsabilidade Fiscal. É sistemática a luta de políticos na criação de artifícios na lei, com foco na superação dos tetos de gastos de estados, municípios e do governo federal. Como uma das principais conquistas pode ruir pela irresponsabilidade de políticos e governantes sob a passividade da sociedade civil organizada, cujo efeito virá seguramente para nossos filhos e netos. Décadas atrás, a Lei da Responsabilidade Fiscal foi aprovada, gerando enormes avanços nos controles e restrições em gastos absurdos e no combate a corrupção. Deveria ser sagrada, mas...

Por que avanços no controle e combate à impunidade são sistematicamente desqualificados por nuances ou filigranas jurídicas e, mais importante do que as correções e ajustes processuais, são os recuos de visível manipulação para benefícios de poucos e perpetuação do modus operandi da corrupção?

Poderia citar dezenas de outros exemplos, mas meu objetivo é trazer a reflexão dos porquês isso acontece e como devemos navegar nesse Brasil inóspito. Temos empresas, escolas, universidades, organizações do terceiro setor que avançam e prosperam na sociedade civil. E os exemplos são citados quase sempre para explicitar que temos condições de transformar esse País em escala. Porém, os avanços ficam nos exemplos pontuais e o sonho de rapidamente termos uma nação mais justa e prospera cai na desesperança. Sentimento que recentemente percebo crescer em escala, associado a acomodação e passividade.

Fomos às ruas, trocamos pela democracia governos, vibramos com vitórias sobre impunidades e, na prática, nada se concretiza em um movimento consistente. Somos condenados a viver em solavancos?

Tenho várias teses e uma delas é o modelo de democracia, cujo poder político e econômico é muito centralizado em Brasília. Essa Brasília dependência gera essas distorções e carimba modelo na contramão do mundo, cuja tendência é o fortalecimento nas pontas, onde vivem as pessoas, ou seja, nas cidades e nos estados.

Os debates estratégicos sobre esses modelos e projetos de leis que mudariam essa realidade e nos fariam avançar não prosperam e, pior, os avanços conquistados que geraram transformações positivas retroagem, como citei.

Alguns exemplos que precisamos encarar, debater e agir, patinam há anos e, seguramente, nos fariam avançar muito: voto distrital misto, reforma fiscal com mais distribuição de recursos e responsabilidade para estados e municípios, leis que tornem o ambiente de negócios mais amigável, preocupação com o meio ambiente, ter cultura e educação como prioridades, além de definir com urgência qual papel do estado. Parece ficção científica encararmos essas questões.

Temos zero de noção e uma visão destorcida sobre capitalismo, que é vilanizado como um mal necessário. A razão disso é que nunca tivemos um capitalismo de verdade. Aquele com regras claras e duradouras, definindo e restringindo a participação dos governos no essencial. Cá para nós, de quem é a Petrobras e o Banco do Brasil? Dos políticos e de quem lá trabalha, pois na prática tenho certeza de que você abastece seu carro em qualquer posto. E, duvido, que sua conta esteja no BB, se tiver, por favor, ao acabar de ler esse texto, corra e abra em qualquer outro banco privado.

Entendo que a ciência da Economia é a melhor ciência social, a ciência da Administração é seu complemento perfeito, junto à ciência Política. Economia de mercado, gestão com políticas em prol da sociedade fazem a diferença na prosperidade e distribuição de riqueza e desencadeiam uma prosperidade sem fim na saúde, na ciência, na educação, cultura, meio ambiente.

As Federações, Associações, Sindicatos (patronais-empresariais ou de trabalhadores), que poderiam se mobilizar em questões comuns de nação, onde todos ganhariam, se unem no propósito de tirar uma lasquinha para o seu setor. Não se unem em causas comuns, para um capitalismo livre e prospero, aquele que restringe privilégios e avança pela força da produtividade, do investimento de longo prazo, pela qualificação de seus trabalhadores.

Não estou inocente ao ponto dessa visão tangenciar a utopia ou não entender os conflitos de interesses ou as visões diferentes, mas tem princípios e avanços que são inegociáveis: democracia, combate à corrupção, educação urgente para hoje e para preparar o País no amanhã, preservação do meio ambiente (alguém ainda tem dúvidas?).

O que fazer nesses tempos difíceis?

Minha sugestão é focar em sua vida, trabalhar por sua empresa, parar um pouco de consumir notícias, tentar poupar para ter conquistas, se divertir com amigos, cuidar de seus aprendizados, não entrar em debates inócuos (pra não dizer medíocres), pois um pouco de Adam Smith te fará bem. Segundo ele, a base do capitalismo está no egoísmo:

Para muita gente, Adam Smith é o filósofo que justificou moralmente o egoísmo. Na Riqueza das Nações, Smith argumenta que a busca individual pelo auto interesse leva a resultados socialmente desejáveis, exibindo ceticismo quanto a pessoas que agem em nome do “bem comum” e que querem mudar o mundo.