Vivemos num mundo acelerado com mudanças cotidianas. Pessoas, empresas e países, outrora desconectados, hoje integram ecossistemas que buscam inovações nem sempre planejadas adequadamente. Variáveis que não estão sob o controle das organizações impactam os negócios: competição, fatores ambientais, epidemias e ocorrências políticas e econômicas. Nesse contexto, como equilibrar a gestão dos riscos? Em teoria, muitas vezes, ela traz burocracias e processos mais rígidos e como a inovação precisa ser ágil, prática e flexível, este é um interessante desafio.
Em nenhuma metodologia com foco na gestão de riscos há um enfoque completo na inovação. Muitas dessas tratam desde a estratégia até a implementação de projetos, no entanto, a inovação ainda é pouco explorada. A inovação está relacionada à aplicação de invenções e melhorias para o atendimento das necessidades dos clientes, potencializando as oportunidades e minimizando as ameaças. Compreende-se, assim, que inovação e gestão de riscos caminham juntas, pois a inovação traz oportunidades e ameaças à competitividade, retorno do investimento, disponibilidade de recursos, aproveitamento de ativos, entre outras.
Diversos são os riscos que permeiam a prática da inovação nas organizações, mas talvez os mais significativos sejam os seguintes: a) aceitação de novos produtos pelo mercado, b) dificuldade de transformação e adaptação da cultura corporativa avessa aos riscos e às novas demandas por experimentação, c) prazos longos para a implantação de projetos em organizações inflexíveis que impedem o retorno financeiro sobre os investimentos e custos em inovação, d) desalinhamento entre os executivos e os times executores, e) a falta de clareza em relação aos resultados esperados.
Nesse momento, a gestão de riscos deve ser protagonista e auxiliar na criação de cenários considerando as probabilidades e impactos. Pelo prisma da tecnologia, também novas situações de riscos surgem devido ao uso de soluções de inteligência artificial, internet das coisas, robotização, dentre outras. Importante lembrar que estas tecnologias devem ser utilizadas a favor da própria gestão de riscos, de forma a minimizar processos manuais, agilizar análises documentais, permitir a verificação de grandes volumes de dados e o mapeamento estratégico de riscos com o uso de ferramentas visuais.
Por fim, deve-se ter em mente que a inovação está demandando uma mudança fundamental no perfil de risco das organizações. Dessa forma, precisamos de novos controles, forte emprego de tecnologias, metodologias e abordagens ágeis e a redefinição do papel dos gestores de riscos, que devem trabalhar mais próximos aos líderes de negócios. O dilema atual é: a gestão de riscos precisa evoluir e se adaptar ou a inovação terá dificuldades de ocorrer. O alcance dessa mudança pode ser a diferença entre permanecer no mercado de forma competitiva ou sucumbir devido aos concorrentes mais flexíveis que alcançam um grau acima de agilidade e adaptação.
Por Adm. Marcos de Araujo
CRASP n° 59121
Mestre em Estratégia de Projetos. Sócio-diretor de gerenciamento de riscos para soluções digitais e tecnologia da informação na KPMG Brasil
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