O agronegócio e a produção bioquerosene: o caso da descarbonização no setor de aviação - CRA-SP
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Marcos Fava Neves
Marcos Fava Neves

Professor da FEARP/USP e da EAESP/FGV. Membro do Conselho da Associação Mundial de Alimentos (IFAMA) e criador da plataforma DoutorAgro.com. Publicou, com sua equipe, mais de 50 livros em 10 países.

Escreve a coluna Agronegócio


O agronegócio e a produção bioquerosene: o caso da descarbonização no setor de aviação

Publicado em 16/12/2022

Em diversos dos nossos artigos anteriores discutimos a importância do agronegócio e da produção de biocombustíveis como o etanol e o biometano. Estas são importantes soluções para que possamos utilizar nossos veículos de forma sustentável e ter um setor de transportes com uma quantidade reduzida de emissões de gases de efeito estufa. Nesse contexto, surge a preocupação de como promover de forma efetiva a descarbonização também na área da aviação.

Sabe-se que apesar de ter sofrido um forte impacto da pandemia, a demanda global e doméstica deste setor é crescente e já vem retornando à normalidade. Desta forma, é importante o desenvolvimento de um combustível sustentável e que possa ser utilizado em substituição aos fósseis que abastecem atualmente as aeronaves, já que o setor de aviação é responsável por aproximadamente 11% das emissões mundiais do setor de transportes, segundo a organização global voltada à sustentabilidade Roundtable on Sustainable Biomaterials (RSB). 

Considerado um biocombustível avançado, o bioquerosene de avião, também conhecido como BioQAV, é uma das soluções mais promissoras para esse problema. Ele pode ser produzido a partir das mesmas matérias-primas do biodiesel, dentre as quais estão o sebo bovino, os óleos vegetais como o de soja, por exemplo, e outros diversos produtos que existem em abundância no agronegócio brasileiro.

Para se ter uma ideia, as pesquisas da RSB mostram, ainda, que no período de apenas um ano os aviões chegam a emitir mais de 1 bilhão de toneladas de CO2 a nível global. Somente no Brasil, essa emissão se aproxima de 17 milhões de toneladas, o que representa 4% do total nacional. Segundo a ANP, o setor da aviação chega a consumir mais de 6 bilhões de litros de querosene fóssil anualmente. 

A Associação Internacional de Transporte Aéreo acredita que a produção de combustíveis sustentáveis para aviação, os SAF, deve ser responsável por 65% da redução de gases de efeito estufa liberados na atmosfera pelo setor até 2050. Podendo atingir 30 bilhões de litros até 2030, estes são primordiais para que as companhias aéreas consigam atingir o objetivo de se tornarem carbono neutras nas próximas décadas.

Acredita-se que os resíduos da cana-de açúcar podem ser os principais a serem adotados como matérias-primas para a produção de bioquerosene devido à sua ampla disponibilidade e ao seu potencial de diminuir o custo da produção. O biogás produzido a partir da vinhaça e da torta de filtro é um interessante produto que pode ser utilizado para a sua fabricação. 

Em novembro de 2022, a Geo Biogás & Tech anunciou um investimento de R$ 15 milhões em uma planta-piloto para produção de bioquerosene a partir do biogás, na cidade de Tamboara, Paraná. A fábrica terá uma capacidade inicial de até 660 litros por dia. A iniciativa, em parceria com a Universidade Estadual de Maringá, terá ainda o apoio financeiro da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) e poderá ser um exemplo a ser seguido por outras indústrias do setor sucroenergético.

Já se sabe que a produção de bioquerosene é viável e que há no Brasil o potencial para se produzir 9 bilhões de litros do biocombustível a partir de resíduos, o que seria o suficiente para suprir toda a demanda do setor de aviação nacional. Além disso, os produtores do combustível são apoiados pela Política Nacional de Biocombustíveis, o RenovaBio, e podem também comercializar créditos de descarbonização (CBIOs) de acordo com a quantidade que venderem do produto e a eficiência energético-ambiental da sua produção.

A bioenergia e o agronegócio brasileiro já são exemplos mundiais no que diz respeito à sustentabilidade e devem continuar crescendo nos próximos anos. O bioquerosene certamente é mais um produto que irá impulsionar o setor, gerar novas oportunidades e permitir que todos possamos, em um futuro próximo, voar ainda mais alto!

Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com

A coluna de Marcos Fava Neves é escrita em parceria com Letícia Franco Martinez e Gabriel de Oliveira Teixeira.

      Leticia Franco Martinez

Leticia Franco Martinez é mestre e doutoranda na Faculdade de Administração da USP em Ribeirão Preto, professora no Centro Universitário Barão de Mauá e especialista em sustentabilidade no agronegócio. Confira seus materiais no Instagram Tripé Sustentável e Linkedin.x

          Gabriel de Oliveira Teixeira

Gabriel de Oliveira Teixeira é graduado em ciências econômicas e mestrando em administração de organizações, ambos na USP de Ribeirão Preto. É também consultor e pesquisador na área de agronegócios, especialista em bioenergia e sustentabilidade. Confira seus materiais Linkedin.





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