Desafios da retomada do crescimento

Marcel Domingos Solimeo

Economista e consultor. É diretor do Instituto de Economia da Associação Comercial de São Paulo, onde também atua como superintendente institucional. Autor dos livros "O Plano Real Para ou Continua" e "O Plano Real Acabou?".

Escreve a coluna Economia

Desafios da retomada do crescimento

Publicado em 15/08/2022

O Brasil foi duramente atingido pela crise internacional, pela pandemia e pelas incertezas externas e internas. Embora tenha sido beneficiado pelo aumento dos preços dos produtos agrícolas e minerais, foi impactado pela forte subida dos preços dos combustíveis, pois apesar de autossuficiente na produção do petróleo, depende da importação dos derivados, pela insuficiência de refino. Além disso, o câmbio foi afetado pelas incertezas, refletindo nos preços da energia e combustíveis e, inclusive, nos alimentos, que acompanham as cotações do exterior.

Depois da retração em 2020, com a expansão da vacinação e redução das restrições, a economia se recuperou em 2021, mas com aumento da inflação, embora, muitos setores, ainda estejam abaixo do patamar pré-pandemia.

As perspectivas do mercado financeiro para o ano em curso, que começaram excessivamente pessimistas, vêm sendo ajustadas, mas, mesmo que o Brasil retome a taxa de crescimento dos anos anteriores à crise, isso não será suficiente para atender aos problemas acumulados ao longo das décadas de desempenho medíocre da economia, agravados pelo elevado passivo social, resultante da pandemia.

Nos últimos 40 anos. a taxa de crescimento foi na média dos 2% ao ano, insuficiente para escapar da “armadilha da renda média”, conceito criado pelo Banco Mundial para definir países que, depois de atingirem nível intermediário de renda, não conseguem alcançar patamares superiores de renda per capita.

O Brasil também não soube aproveitar o “bônus demográfico”, quando a taxa de nascimento é superior à de mortalidade, representando aumento da mão de obra disponível para alavancar o crescimento. O aumento da longevidade, por sua vez, exige mais recursos para o setor saúde e a reformulação da previdência, para se adequar à nova realidade de menor entrada de novos contribuintes e aumento do número de beneficiários que receberão por mais tempo. Segundo alguns especialistas, "o Brasil ficou velho, antes de ficar rico”.

Essa nova realidade populacional e o objetivo de sair da “armadilha da renda média” exigem uma política abrangente que envolva não apenas o governo em suas três esferas, mas também os empresários, que terão que ser os agentes do desenvolvimento.

O aumento significativo da produtividade e da inovação deverá ser o vetor dessa política, que vai exigir fortes investimentos em pesquisa, integração dos institutos com as empresas, maior abertura da economia e inserção nas novas cadeias de produção mundial, que vêm sendo redefinidas a partir da crise. A formação de mão de obra para atender à nova realidade tecnológica precisa começar pelo aprimoramento do ensino básico, seguindo para expansão de cursos técnicos e profissionalizantes e incentivos para a expansão nas áreas de exatas do ensino superior.

A produtividade, que pode ser definida de forma simplista como “fazer mais com menos”, deve ser sistêmica, isto é, incluir tanto o governo como o setor privado.

O governo atual tomou muitas medidas para aumentar a eficiência do setor público, como a informatização da burocracia, a redução de exigências burocráticas com a Lei de Liberdade Econômica e a da automação dos registros públicos, a privatização de empresas estatais e os marcos regulatórios, que devem contribuir para o aumento da produtividade estatal.

Embora os ganhos dessa redução de custos ainda não tenham sido repassados para os contribuintes com menor tributação, deve propiciar algum ganho para as empresas na forma de menor burocracia e maior agilidade nas relações com o governo. Falta, contudo, o mais importante, a simplificação do sistema tributário e, quando possível, redução da carga tributária.

É evidente que a produtividade exige também a ampliação e modernização da infraestrutura, o que depende muito dos investimentos dos governos, o que tem faltado nos últimos anos.

Essas são apenas ideias gerais que visam muito mais chamar a atenção para os problemas, do que apresentar soluções. O País precisa de planejamento de longo prazo que ofereça um horizonte para as decisões empresariais e dos investidores internos e externos.

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