Perspectivas Brasil 2019 - CRA-SP
Faça download do App |
Perspectivas Brasil 2019

O ano de 2019 começou em clima de otimismo para os negócios no Brasil. Com a troca de governo e a sinalização da implantação de medidas pró-mercado, a expectativa de empresários, consumidores e investidores é de que, a partir de agora, as decisões sejam tomadas em benefício da economia e reverberem positivamente no crescimento do país. Para o doutor em História Econômica e professor do Insper, Vinícius Müller, parte dessa onda positiva se deve à atuação da equipe de governo de Michel Temer, que promoveu a melhora das condições macroeconômicas nos últimos dois anos e deu início à recuperação fiscal da economia brasileira, seriamente prejudicada pelo governo Dilma. “No biênio 2015/2016, a queda do PIB foi de aproximadamente 3,5% ao ano. Em 2017, tivemos um crescimento de pouco mais de 1,0%. A inflação, que em 2015 foi de pouco mais de 10%, chegou a cerca de 4,0% em 2018. A base estava tão deprimida, que pequenas mudanças, tanto nas expectativas, quanto na execução de políticas voltadas à reorganização institucional promoveram melhora efetiva”, explica.

Felipe Martins Silveira, analista de investimento da Coinvalores, acredita que esse começo de ano deve ser crítico para definir se a “lua de mel” dos investidores com o novo governo continuará e se a Bolsa de Valores seguirá trajetória em alta. De acordo com ele, o comprometimento do governo com os ajustes fiscais necessários para o país, personificado na figura do novo ministro da Economia, Paulo Guedes, são os ingredientes que faltavam para a retomada consistente dos investimentos. “Isso soa como música para os ouvidos dos investidores. A expectativa é que a equipe econômica acelere a venda de ativos iniciada no antigo governo, como forma de melhorar a rentabilidade das empresas públicas, que foram as que mais rapidamente responderam ao resultado das eleições, com a perspectiva de que a governança siga melhorando”, pontua o especialista. Ele lembra, ainda, que o rali do Ibovespa nos últimos meses veio sem a presença forte de capital estrangeiro devido à saída maciça de investidores, que partiram em busca de ativos menos arriscados que ações de países emergentes, como o Brasil.

Entre os fatores que influenciaram o cenário externo complicado, Silveira destaca as disputas comerciais iniciadas por Donald Trump, que têm colocado em risco o crescimento das principais economias, em especial a da China, com quem ele tem sido mais duro. “O ano começou com uma trégua entre as partes, mas ela tem data marcada para acabar: 2 de março. Caso não haja acordo, novas tarifas entrarão em vigor. A atividade chinesa já apresentou sinais negativos, com indicadores econômicos no final de 2018 demostrando considerável desaceleração. Ao mesmo tempo, a elevação de juros nos EUA gera ainda mais preocupações quanto à pujança da atividade econômica por lá, que vem de um período de forte crescimento.”

O especialista também não descarta a influência da economia europeia no hall de riscos importantes para investimentos no Brasil. Segundo ele, a inexistência de um acordo aprovado pelo parlamento britânico quanto à saída do Reino Unido da União Europeia (EU), o Brexit, gera incertezas e também aumenta a aversão ao risco de investidores. Além disso, diz, há a questão dos protestos na França e um governo italiano que parece pouco engajado em reduzir o déficit primário. “O otimismo com o cenário doméstico é grande, especialmente após anos tão complicados, mas os fatores de risco estão presentes e devem ser acompanhados com muita atenção”, previne.

Desafios econômicos 

De acordo com Müller, a equipe de Paulo Guedes e seu ideológico apego à agenda ortodoxa-liberal enfrentam um duplo desafio. De um lado, gera expectativa positiva entre os que esperam que tais medidas pró-mercado possam melhorar os investimentos. Por outro, esta agenda, para ser efetivada e bem-sucedida, depende de mudanças que sofrerão grandes resistências de partes significativas da sociedade. “A diminuição do Estado e de seu funcionalismo, o reforço de políticas fiscais mais responsáveis e o avanço de reformas microeconômicas relacionadas à legislação trabalhista e de estímulo ao crédito e ao emprego são impopulares e rechaçadas por grupos organizados e influentes. O ambiente mais amplo do governo Bolsonaro não ajuda a superar este impasse, já que inclui pautas culturais e de costumes que, mesmo distantes da economia, contaminam o debate e dificultam o avanço institucional”, esclarece.

A dificuldade será maior, segundo o especialista, quando o novo governo enfrentar questões que envolvam as reformas institucionais, que também se relacionam com problemas estruturais de prazos mais longos, tais como educação (cuja estrutura, mesmo com o aumento da escolaridade nas últimas décadas, não reverberou na ampliação da produtividade); legislação trabalhista (que mesmo com algumas mudanças já aprovadas, tramita em meio a uma persistente taxa de desemprego na casa dos 13% e apresenta resultados abaixo do esperado) e reforma da previdência (tema que envolve a situação fiscal do Estado e será feita sob forte pressão popular, em um ambiente político de agressiva disputa, aumentando a desconfiança e a apreensão entre investidores, produtores e trabalhadores). “O ritmo será definido por uma combinação entre a capacidade de o novo governo enfrentar um tema delicado com a determinação política que ele requer, ao mesmo tempo em que deve manter o debate em temperatura suportável a todos, ou seja, à população brasileira. Caso contrário, corre o risco de vulgarizar a discussão e transformá-la em uma encruzilhada política”, alerta. 

Franchising em retomada 

Com o aumento do desemprego e a queda no consumo, unidades franqueadas tiveram desempenho menor em 2018 e isso se traduz em menos royalties e fundo de propaganda. Segundo Melitha Novoa Prado, advogada especializada em relacionamento de redes, foi necessário mais planejamento e maior atenção das empresas a processos internos. “Como em toda crise, algumas aproveitaram a oportunidade para se estruturar, mas, outras perderam esse momento. De qualquer forma, percebemos que houve empresas que dispensaram mão de obra qualificada, trocando a equipe por pessoal de menor custo, mas, bem mais despreparado – o que causou deficiência na gestão”, conta.

Para 2019, Melitha aponta um quadro positivo para o setor. “Após as eleições, surgiu uma segurança maior no empresariado. Pelo menos, existe a percepção de que haverá uma linha de atuação econômica mais dirigida que, se realmente adotada, poderá fazer muitos projetos saírem do papel. Além disso, uma possível aprovação de reformas, como Previdência e Política, pode atrair novos investimentos ao Brasil e reduzir as taxas de juros. Esse possível reaquecimento da Economia pode fazer com que a franquia seja novamente uma opção mais rentável do que deixar o dinheiro aplicado em mercado financeiro”, espera.

“Precisamos da reforma tributária, redução da burocracia e aumento dos investimentos em infraestrutura. Essa é a pauta do Brasil”, acredita André Rebelo, da FIESP

Voltando a crescer           

Após enfrentar um período delicado em 2018, com eventos que impactaram diretamente nos resultados, como, por exemplo, a greve dos caminhoneiros e o agravamento da crise argentina - que atingiu a exportação de manufaturados - o setor da Indústria espera deixar de lado o sobe e desce dos índices registrados no ano passado e, finalmente, voltar a crescer de forma consistente em 2019.

Para o assessor de assuntos estratégicos da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo - FIESP, André Rebelo, para reverter os resultados ruins do setor em 2018, a primeira medida imposta ao governo seria equilibrar as contas públicas, para criar condições de crescimento. Em seguida, seria necessário adequar o cenário à produção. “O Brasil carece de infraestrutura e possui um ambiente de burocracia muito elevado, com alta carga tributária e taxa de juros elevada, o que cria um clima hostil ao empreendedorismo, ao investimento, à atividade produtiva. Isso acaba incentivando as importações e dificultando a produção local e é justamente esse ambiente que a gente tem que mudar. Precisamos da reforma tributária, redução da burocracia e aumento dos investimentos em infraestrutura. Essa é a pauta do Brasil”, revela.

Ainda segundo Rebelo, é importantíssimo aproximar o governo do setor produtivo para favorecer a criação de um ambiente mais propício aos negócios, à geração de emprego, ao crescimento econômico. “Possuímos um mercado muito grande e que pode crescer ainda mais. Nossa capacidade produtiva poderia nos levar a exportar para o mundo, mas temos dificuldade porque os custos no Brasil são muito altos. O país precisa voltar a ser solvente e baixar os juros para que investidores acreditem que aqui é um lugar seguro e ajudem a nossa economia a retomar o crescimento”, finaliza. 




Revista Administrador Profissional - ADM PRO
Publicação física com periodicidade trimestral
Conteúdo produzido pelo Departamento de Comunicação do CRA-SP
Todos os direitos reservados