Professor da FEARP/USP e da EAESP/FGV. Membro do Conselho da Associação Mundial de Alimentos (IFAMA) e criador da plataforma DoutorAgro.com. Publicou, com sua equipe, mais de 50 livros em 10 países.
Escreve a coluna Agronegócio
Sustentabilidade e prosperidade econômica são assuntos complementares e não antagônicos
Publicado em 22/09/2022
Na esfera da sustentabilidade organizacional temos três pilares principais: o econômico, o social e o ambiental. O pilar econômico até hoje, por vezes, é associado a algo negativo, pois o lucro, o dinheiro e o capitalismo podem remeter a um modelo que visa o consumo desenfreado e sem preocupações com o futuro. Essa associação se deve ao fato de que por muitos anos a economia linear era socialmente aceita, ou seja, uma economia em que as pessoas não se preocupavam com a sustentabilidade da produção, como o uso e o descarte de materiais. Com o avanço da conscientização da população para assuntos voltados às metas do clima, as visíveis ameaças ambientais e o medo do futuro literalmente não existir para as próximas gerações, a economia circular entrou em cena, evidenciando consigo o conceito dos 3Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar).
Com essa evolução de pensamento, o tema sustentabilidade vem ganhando força e conceitos como ESG (Environmental, Social, Governance) pincelam uma nova era, na qual os investimentos também se tornam importantes para o desenvolvimento sustentável, financiando projetos verdes e fomentando economias locais.
Outro termo que se fortalece nesse sentido é o Capitalismo Regenerativo, sendo ele também importante para o pilar econômico da sustentabilidade por ser um modelo que compreende que o mercado global não se regula de forma autônoma. Nele entende-se que os recursos naturais são escassos e geram custos em sua utilização. Trata-se de um capitalismo que não enxerga apenas o seu acionista (shareholder) mas também todas as partes interessadas (stakeholders), inclusive a sociedade, tornando-o menos agressivo. Tal conceito foi trazido por Elkington, autor também dos tradicionais três pilares da sustentabilidade anteriormente mencionados.
Em sua palestra no KES Summit, Elkington evidenciou alguns resultados advindos de uma pesquisa com 10 mil pessoas jovens realizada por sua consultoria: entre os países com as maiores porcentagens de pessoas jovens se sentindo “muito preocupadas” ou “extremamente preocupadas” com as mudanças climáticas estão Filipinas (84%), Índia (68%) e Brasil (67%). Considerando os países com renda mais alta, destaca-se Portugal (65%). As mudanças do clima fazem com que essas pessoas se sintam “tristes, temerosas, ansiosas, com raiva, impotentes e culpadas” (mais de 50% das respostas). A sensação de otimismo foi mencionada por apenas 32% dos participantes.
Elkington descreveu ainda, o que ele chama de “cisnes verdes”, uma transformação profunda do mercado resultante de fortes mudanças de valores e atitudes. O “cisne verde” proporciona um progresso exponencial na forma de criação de riqueza econômica, social e ambiental. Na pior das hipóteses, alcança-se esse resultado em duas das dimensões, mantendo-se a terceira estável, conforme exposto pela Exame. Nesse contexto é que vem se desenvolvendo o Capitalismo Regenerativo.
Diversas empresas estão se transformando com modelos de negócios inovadores que visam atender as mais recentes demandas dentro da temática sustentabilidade e que se fortalecem diariamente. Um bom exemplo é a Mahta, uma foodtech que tem a agricultura regenerativa como base e soluções que se alinham com os princípios para o desenvolvimento sustentável e cadeias produtivas verdes. A Viva Floresta é também um exemplo dentro do capitalismo regenerativo, apoiando o sistema agroflorestal.
Não se sabe se os esforços das empresas serão suficientes para lidar e resolver os cenários apresentados pelo Painel de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC), que diz que o mundo já atingiu a alta de 1,09ºC na temperatura e que se as emissões continuarem nesse ritmo, o valor de 3ºC deve ser ultrapassado até 2100. Desta forma, esta década é decisiva para o que as próximas gerações podem vir a enfrentar. A boa notícia é que do ano de 2015 em diante ocorreram boas mudanças de rota relacionadas ao clima, com a ajuda de tecnologias que estão sendo cada vez mais facilmente acessadas, melhorando produtividade e diminuindo emissões de gases do efeito estufa.
Uma estimativa da gestora de fundos BlackRock, segundo o Valor, aponta que serão necessários US$ 125 trilhões até 2050 para a transição para uma economia de baixo carbono. Hoje, esse mercado movimenta cerca de 1 trilhão ao ano, ou seja, terá que triplicar para lidar com esse desafio de descarbonização das economias mundiais.
Novos conceitos e estratégias são sempre bem-vindas para tentar superar este desafio climático vivido por todos nós. Assim como a agricultura regenerativa, existem diversas outras técnicas e iniciativas que podem colaborar com este cenário, seja no agronegócio ou em vários outros setores. É muito importante compreender os conceitos, mas muito mais do que isso, fazê-los acontecer!
Marcos Fava Neves é professor titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com
A coluna de Marcos Fava Neves é escrita em parceria com Letícia Franco Martinez e Gabriel de Oliveira Teixeira
Letícia Franco Martinez
Gabriel de Oliveira Teixeira
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Economista e consultor. É diretor do Instituto de Economia da Associação Comercial de São Paulo, onde também atua como superintendente institucional. Autor dos livros "O Plano Real Para ou Continua" e "O Plano Real Acabou?".
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CEO da W Futurismo, Futurista Global, Estrategista, especialista em Foresight, em Comportamento Humano e em Gestão Positiva de Mudanças. Faz parte da comunidade da UNESCO em Futures Literacy.
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Sócio da BDO RCS Auditores Independentes – líder da área de Esporte Total. Responsável técnico da plataforma Fair Play Financeiro, da CBF. Professor da CBF Academy e do curso de Gestão e Marketing Esportivo, da Trevisan Escola de Negócios.
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Presidente do Instituto Chiavenato. Um dos autores nacionais mais respeitados na área de Administração e RH, com mais de 30 livros publicados. Professor convidado de várias universidades nacionais e do exterior.
Escreve a coluna Tendências da Administração
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Administrador com pós-graduação em Marketing. CEO da Giros Filmes, sócio da Mundo Real e ex-CEO da Agência TUDO. Um dos mais reconhecidos profissionais de Marketing do País
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Cofundador e presidente do Grupo Empreenda, consultor, palestrante e autor do bestseller “Seja o Líder que o Momento Exige”. Criador da metodologia “Passaporte para o Futuro”
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