Professor da FEARP/USP e da EAESP/FGV. Membro do Conselho da Associação Mundial de Alimentos (IFAMA) e criador da plataforma DoutorAgro.com. Publicou, com sua equipe, mais de 50 livros em 10 países.
Escreve a coluna Agronegócio
O agronegócio e o futuro do setor de transportes no Brasil: o caso do carro elétrico movido a etanol
Publicado em 19/10/2022
O uso do em larga escala do etanol como combustível para veículos leves é algo que ocorre de forma única no Brasil. Essa tendência se iniciou no País na década de 1970 com o Proálcool e o surgimento dos primeiros carros movidos a etanol, intensificando-se a partir do ano de 2003, quando começaram a ser comercializados os carros flex.
Produzido principalmente por meio da cana-de-açúcar, esse biocombustível impulsionou fortemente esse setor, que hoje é um dos maiores do agro brasileiro. Além disso, o etanol faz com que o país seja exemplo mundial no que diz respeito à sustentabilidade, já que ele não emite gases de efeito estufa e diversos outros poluentes em sua queima, evitando os males causados pela gasolina, como o aquecimento global e problemas relacionados à saúde.
Atualmente, o mundo todo vem buscando alternativas aos carros movidos por combustíveis derivados do petróleo. Dentre elas, os automóveis elétricos estão se tornando tendência. Com seu uso crescente nos últimos anos, esse tipo de tecnologia tem sido alvo de investimento de uma grande parte da indústria automobilística.
Nesse contexto, surge uma preocupação para o agronegócio no Brasil: “qual será o futuro do etanol no país?”. Com o iminente fim dos motores a combustão, o desuso do tão bem-sucedido biocombustível brasileiro poderia gerar um forte impacto negativo para o país.
Especialistas apontam que isso não deve acontecer. Já existe tecnologia capaz de aliar a tendência de eletrificação ao nosso biocombustível: o carro elétrico movido a etanol. Esse tipo de automóvel substitui a bateria dos elétricos convencionais, gerando um carro que não precisa ser ligado na tomada para ser recarregado, podendo ser abastecido em um posto de combustível da forma tradicional.
Esse tipo de carro funciona da seguinte forma: primeiramente, se abastece o tanque parte com etanol e parte com água. Feito isso, essa mistura é quebrada em CO2 e hidrogênio que é, posteriormente, direcionado à célula de combustível, onde são produzidos água e a eletricidade que recarrega a bateria responsável pelo funcionamento do motor elétrico que move o carro. Pelo escapamento elimina-se vapor de água e uma quantidade de CO2 que pode ser capturada pela própria cana-de-açúcar, fazendo com que esse processo seja considerado carbono neutro.
O carro elétrico movido a etanol tem potencial para ser o mais sustentável do mundo já que a sua eletricidade é gerada de forma completamente renovável, ao contrário do que ocorre em outros países. Além disso, ele pode ser visto como mais uma oportunidade para a consolidação dos produtores de biocombustível e para o agro brasileiro.
Este é mais um exemplo dos produtos do agronegócio gerando de forma única alternativas sustentáveis para as próximas gerações e, com elas, renda e novas oportunidades para as pessoas. Esse é o agro brasileiro!
Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com
A coluna de Marcos Fava Neves é escrita em parceria com Letícia Franco Martinez e Gabriel de Oliveira Teixeira.
Leticia Franco Martinez
Gabriel de Oliveira Teixeira
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