Pilar ambiental e econômico em sintonia no agro brasileiro - CRA-SP
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Marcos Fava Neves
Marcos Fava Neves

Professor da FEARP/USP e da EAESP/FGV. Membro do Conselho da Associação Mundial de Alimentos (IFAMA) e criador da plataforma DoutorAgro.com. Publicou, com sua equipe, mais de 50 livros em 10 países.

Escreve a coluna Agronegócio


Pilar ambiental e econômico em sintonia no agro brasileiro

Publicado em 06/08/2020

O isolamento social ainda traz reflexos em escala mundial. O PIB dos EUA sofreu a maior redução da história nos últimos três meses, segundo o Departamento de Comércio. Foram cerca de - 32,9% entre abril e junho de 2020. Tentando visualizar de maneira um pouco mais otimista, alguns países emergentes prevalecem com o não aparecimento de segundas ondas de infecções e a retomada gradual das atividades econômicas. Na economia brasileira, as expectativas do mercado para o PIB 2020 melhoraram, mas ainda com retração de 5,77%, e recuperação em 2021 de 3,5%. 

Novas oportunidades devem surgir no período pós pandemia, com uma sociedade ainda mais exigente e a sustentabilidade vem forte nesse sentido, dando destaque para os fundos verdes que possuem perspectivas muito boas, em conjunto com projetos que tragam ganhos ambientais. Temos grandes grupos financeiros ampliando o direcionamento de recursos para negociação de fundos verdes no País. Esse tema é insipiente no Brasil, que possui R$ 30 bi em fundos desse tipo, valor pequeno quando comparado ao mundial de U$ 1 tri. Emissões de Certificados Recebíveis do Agronegócio (CRA) em dólar vêm sendo estruturadas por investidores tanto estrangeiros quanto de organizações brasileiras. Tal ação visa o financiamento do setor produtivo, com investimentos de, provavelmente, cerca de US$ 550 milhões em títulos envolvendo uma cerealista e uma usina de biocombustíveis. As emissões de títulos de CRA cresceram 78,5% em 2019. No primeiro semestre de 2020, as emissões são 11,5% superiores que o mesmo período de 2019 e já movimentaram mais de 8,3 bilhões.

No agro brasileiro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima em 251,4 milhões de toneladas a produção de grão, expectativa de recorde (+3,9% que no ciclo anterior). A área plantada deve chegar a 65,8 milhões de hectares (+4% a mais que na passada).

Para as exportações do agro de junho, segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), um novo recorde foi atingido com US$ 10,17 bi, o que significa, aproximadamente, 25% a mais que o mesmo período de 2019. Isso representa 56,8% das exportações totais do Brasil. Destaque para o complexo soja, exportando US$ 5,42 bi (+53,4%).

O estudo realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) “Perspectivas Agrícolas 2020-29”, consolida a América Latina como fornecedor mundial agrícola nos próximos dez anos, com a produção crescendo em 14%, e exportações 1,7% por ano. Nesse período, deve crescer o consumo médio de carnes por habitante (+0,24% a.a., em países desenvolvidos e +0,8%, nos países em desenvolvimento).

Tais perspectivas de crescimento podem levantar discussões ambientais, mas, na verdade, devem ser analisadas sob a lente tecnológica super avançada e do aumento da conscientização acerca da sustentabilidade no agronegócio. É possível aumentar a produtividade de carne bovina no Brasil e ao mesmo tempo reduzir as emissões de poluentes e evitar o desmatamento utilizando o conceito de Carne Carbono Neutro (integração lavoura pecuária floresta), por exemplo. A metodologia foi desenvolvida pela EMBRAPA do Mato Grosso do Sul e tem sido replicada pela Austrália e Nova Zelândia, com metas para 2030 e 2050, respectivamente. É uma ideia sustentável brasileira mundo afora.

A cana de açúcar é outro exemplo forte, trabalhando perfeitamente com economia circular de ponta a ponta na sua cadeia produtiva.

Os números do agro dessa cultura, em relação ao processamento da cana de açúcar, no acumulado da safra 2020/21 até 15 de julho estamos com uma moagem 6,5% superior, atingindo cerca de 276 milhões de toneladas e devemos ter passado da metade do total moído desta safra, segundo dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA).

O mix para açúcar saiu de 34,9% para 46,7%. Isto fez com que a produção acumulada de açúcar esteja 50% superior que na safra passada, saindo de 10,9 para 16,3 milhões de toneladas.  

O consumo total de combustíveis para frota de veículos leves caiu 12,7% no 1º semestre de 2020, com 22,72 bilhões de litros de gasolina comercializados. A ANP estabeleceu padrões maiores para a gasolina que passaram a valer a partir de 3 de agosto. O novo combustível será mais eficiente e reduzirá as emissões de CO2.

As metas do RenovaBio (nova política de biocombustíveis e que torna o mercado mais competitivo, diminuindo as emissões de carbono), passaram por reavaliação e foram reduzidas pelo Governo Federal, ficando com 14,53 milhões de Cbios, (reduzidas pela metade). A Frente Parlamentar luta para que a redução seja de 30%. A certificação já está em um total 220 unidades de usinas. A Copersucar é uma delas e finalizou o processo de certificação de suas 34 unidades no programa RenovaBio, agora habilitadas a emitir 6 milhões de Créditos de Descabonização (CBios) por ano. É o pilar ambiental em sintonia com o econômico no Brasil. 

Essa política deve colaborar ainda mais com os biocombustíveis, pois possui a meta de retirar quase 700 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera em 10 anos. A FS Bioenergia, uma das grandes brasileiras de etanol de milho, captou financiamentos atrelados ao alcance de metas “verdes”, tanto via empréstimos quanto CRI. Caso a empresa atinja as metas apontadas, terá um custo de capital mais baixo vinculado aos contratos.

A proposta que fizemos ao setor para que nos postos, seja informado ao consumidor o volume de emissões por litro de cada tipo de combustível, baseados numa tabela da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), foi aceita e os estados produtores buscaram seus lideres e Deputados na busca por escrever projetos de lei e tramitar nas Assembleias. Esse desafio visa a conscientização do consumidor e questões ambientais também serão parte de sua decisão. Uma conquista muito boa a ser realizada.

Confira textos, vídeos e outros materiais de Marcos Fava Neves no site doutoragro.com

  Leticia Franco Martinez

A coluna de Marcos Fava Neves é escrita em parceria com Leticia Franco Martinez, mestre e doutoranda na Faculdade de Administração da USP em Ribeirão Preto com pesquisas em marketing estratégico com ênfase em sustentabilidade e agronegócio. Confira os materiais produzidos por Letícia no Instagram Tripé Sustentável e no Linkedin.




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