E o que o consumidor acha do agro sustentável? - CRA-SP
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Marcos Fava Neves
Marcos Fava Neves

Professor da FEARP/USP e da EAESP/FGV. Membro do Conselho da Associação Mundial de Alimentos (IFAMA) e criador da plataforma DoutorAgro.com. Publicou, com sua equipe, mais de 50 livros em 10 países.

Escreve a coluna Agronegócio


E o que o consumidor acha do agro sustentável?

Publicado em 19/10/2021

O consumidor está cada vez mais atento ao que as organizações pensam e fazem em relação à sustentabilidade. O produto finalizado, que está sobre a mesa, é a principal evidência que ele tem em mãos para fazer questionamentos sobre o processo produtivo daquilo que está consumindo. A embalagem é reciclável? O selo de qualidade e de boas práticas está visível? Como é o tratamento de animais nesse processo? São algumas perguntas que podem ser levantadas, dentre muitas outras.

Exemplos de selos de sustentabilidade são o Carne Carbono Neutro (CCN), marca conceito da Embrapa, que indica a preocupação com a neutralização do CO2 e a utilização da técnica de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Vale leitura aprofundada, pois essa ideia brasileira ganhou o mundo e já está sendo utilizada em outros países. O selo B Corporation é outro que pode ser mencionado e que pontua as organizações sobre os critérios ESG, trazendo uma avaliação nos aspectos ambiental, social e de governança, incluindo empresas do setor de alimentos do mundo todo.

Além disso, fomentando, cada dia mais, a curiosidade do consumidor responsável, está a tecnologia. Com ajuda dos computadores, celulares, tablets, revistas eletrônicas e câmeras inteligentes leem, por exemplo, um “QR Code”, rastreando o produto e respondendo de onde ele veio e para onde ela vai. Ou seja, ele está rodeado de informação precisa e de qualidade, o que demanda cuidado e também total transparência não só das empresas, mas também dos negócios rurais, para que a imagem não seja afetada negativamente. 

Em entrevista feita pela Food Processing, um executivo da Fonterra, uma cooperativa de laticínios da Nova Zelândia, comentou que “os consumidores hoje estão ficando cada vez mais preocupados em saber se as empresas de alimentos estão levando a sustentabilidade a sério e se estão dispostas a pagar mais por isso. Muitos irão embora se tiverem dúvidas - isso se aplica a toda a indústria de alimentos”.

De acordo com o Índice de Participação no Mercado Sustentável emitido pela Stern School of Business da New York University, cerca de 55% do crescimento em bens de consumo embalados de 2015 a 2019 é atribuído a produtos sustentáveis. A sustentabilidade, nesse sentido, aparece como uma estratégia de marketing, desde que seja verdadeira, obviamente, e não se trate do famoso “greenwashing”, ou seja, quando a comunicação é sustentável, mas na prática não ocorre de fato como exposto.

Ainda na matéria da Food Processing comentada anteriormente, Corey Chafin, diretor da Kearney comentou que um indicador-chave para sabermos quão seriamente as empresas estão pensando a sustentabilidade é a estrutura organizacional, pois, hoje, as empresas não têm apenas o diretor de sustentabilidade, e que este também começou a ter que se reportar diretamente ao CEO, o que significa que o tema não é mais percebido apenas como um aspecto da responsabilidade social corporativa, sendo agora uma função crítica do negócio e considerada em investimentos organizacionais para priorização.

Aspectos de sustentabilidade que devem ser considerados na indústria de alimentos são: impacto ambiental como o desmatamento, influência na biodiversidade com uso de defensivos; energia utilizada, sendo a renovável algo que deve ser seriamente considerado; impacto poluente das ações, seja no ar ou na água; resíduos do processo, utilização de plástico; desperdício de alimentos e outras atividades que colaboram para o aumento dos gases do efeito estufa. Sabendo investir e gerir com responsabilidade esses aspectos, é importante, então, saber quais deles são priorizados pelo consumidor também, para que seja comunicado com mais atenção.

Após essas observações, é possível compreender que o consumidor está sim interessado em saber sobre como o agronegócio pode ser sustentável e cabe aos executivos se atentarem e se planejarem estrategicamente para isso.

Para o aprofundamento no tema, indicamos a leitura do capítulo sobre Marketing de Alimentos do livro “Ferramentas para o Futuro do Agro” (Editora Gente, 2021), que pode ser baixado gratuitamente do site www.DoutorAgro.com, em que somos autores. Esse capítulo resultou em uma lista simples com 15 principais tendências, oportunidades e argumentos, seguindo a filosofia de orientação à demanda, buscando o fomento na criação de novos negócios ou o olhar mais cuidadoso para novos nichos de mercado.  Pode ser utilizada por executivos para repensar seus negócios, em função das mudanças sociais, tecnológicas e ambientais do século XXI. Esperamos que gostem.

Confira textos, vídeos e outros materiais de Marcos Fava Neves no site doutoragro.com

   Leticia Franco Martinez 

A coluna de Marcos Fava Neves é escrita em parceria com Leticia Franco Martinez, mestre e doutoranda na Faculdade de Administração da USP em Ribeirão Preto, professora no Centro Universitário Barão de Mauá e especialista em sustentabilidade no agronegócio.  Confira os materiais produzidos por Letícia no Instagram Tripé Sustentável e no Linkedin.




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