Professor da FEARP/USP e da EAESP/FGV. Membro do Conselho da Associação Mundial de Alimentos (IFAMA) e criador da plataforma DoutorAgro.com. Publicou, com sua equipe, mais de 50 livros em 10 países.
Escreve a coluna Agronegócio
Grandes oportunidades ao agro no sequestro de carbono
Publicado em 14/09/2020
A situação política brasileira ainda tem o incômodo das contínuas especulações sobre a permanência do Ministro Paulo Guedes e os programas na área econômica apresentados. No âmbito sanitário, para a pandemia, os números começam a diminuir lentamente, no entanto, ainda são extremamente altos. Na economia, já se observa retomada em algumas atividades e foi anunciado a continuidade do apoio mensal, mas com uma redução em R$ 300 por mais 4 meses. Nesse sentido, o macroambiente ainda vem influenciando fortemente os pilares da sustentabilidade, principalmente o econômico e social, não apenas no Brasil, mas no mundo, e a retomada mais forte virá com um maior controle sobre a pandemia. Quanto ao pilar ambiental, grandes organizações do agronegócio vêm dando passos no combate ao desmatamento ilegal. Exemplos são a Cargill e Marfrig, acompanhando suas cadeias de suprimentos e rastreando fornecedores que saírem dos padrões ambientais aceitáveis e éticos, atitude importante na garantia da produção responsável, corroborando com a imagem do Brasil.
No agronegócio brasileiro, especificamente, a safra 2019/20 de grãos segue para seu fechamento com novo recorde: produção de 253,7 milhões de toneladas (+ 4,8% frente ao ciclo passado). A questão é: quanto será plantado nesta safra que se inicia? Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), a estimativa é que que a produção do Brasil sairá de 254 para 278 milhões de toneladas (+ 8%) e a área provavelmente crescerá de 2 a 2,5 milhões de hectares. Milho, soja, algodão, arroz e feijão participam com 95% do total deste volume.
Segundo o MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), as exportações do Agronegócio chegaram à marca de US$ 10,0 bilhões no mês de julho (+11,7% que 2019), o que representa 51,2% de toda exportação do País. A soja em grão segue sendo a força maior do setor, com 10,4 milhões de toneladas (+39,4%) exportadas, ou seja, US$ 3,61 bilhões (+39%). A China é o principal destino com 76% desse volume. Em seguida, vêm as carnes com US$ 1,5 bilhão, destaque para bovina com US$ 776 milhões (+23%). As exportações dessas duas culturas (soja e carnes - incluindo todos os tipos) para a China totalizaram US$ 24 bilhões nos 6 primeiros meses de 2020 (+29% que o mesmo período de 2019), representando 39,2% do total exportado pelo Brasil.
Momentos de crise trazem grandes oportunidades e não é diferente nessa que vivemos. O chamado “Mercado Verde” representa a negociação da emissão de carbono no Brasil podendo ser considerado um investimento de impacto, visto que leva em conta critérios ESG – Environmental, Social and Governance (em português, Ambiental, Social e de Governança). Este mercado trata dessas chances imperdíveis oferecidas em fases turbulentas. Ainda está em desenvolvimento, mas algumas empresas grandes já começaram a entender o “preço” da liberação de gases do efeito estufa no ambiente. A taxação das emissões virou tendência na busca por competitividade no mercado que se prepara com base no Acordo de Paris (2015). O objetivo é diminuir a poluição, precificando as emissões.
O Brasil é um forte candidato a sair ganhando quando se fala em ir além das metas de diminuição da poluição, podendo os créditos de carbono advindos da Amazônia, render cerca de 10 bilhões a.a., segundo informações do Conselho Empresarial Brasileiro para Desenvolvimento Sustentável (Cebds).
Um estudo feito pela WRI (World Resources Institute) mostrou que o PIB brasileiro pode crescer em até 15% na próxima década em função da priorização de tecnologias de baixo carbono. Em termos reais, esse aumento poderia gerar mais de 2 milhões de empregos. Segundo o MAPA, o potencial de investimentos em agricultura sustentável pode chegar a US$ 692 bilhões até 2030. A alemã Bayer é um exemplo que quer conectar o agricultor brasileiro ao mercado de créditos de carbono, comercializando o que gerar de excedente. Em parceria com a Embrapa desenvolverá projetos com provável investimento superior a R$ 1,2 milhão.
A redução das emissões é parte de um conjunto de objetivos que visam atender os aspectos relacionados aos “3Ps da sustentabilidade” (People; Profit; Planet). Entram nas discussões também as questões relacionadas à conduta ética, envolvendo as condições trabalhistas, direitos iguais para todos, independentemente do sexo, cor, raça, opção sexual. O Walmart, maior varejista do mundo, é um exemplo que leva em consideração os temas mencionados: cortou cerca de 230 milhões de toneladas de gases de efeito estufa de sua cadeia de suprimentos nos últimos 3 anos. Conforme um relatório ESG divulgado pela organização recentemente, o Walmart priorizou a contratação de mais mulheres e pessoas de cor, a redução do desperdício de embalagens e o uso de menos energia, seguindo o caminho certo para atingir sua meta de emissões para 2030 e raciocinando sistematicamente sobre o impacto que possui no mundo.
Para reflexão de hoje, o Brasil precisa compreender e usar suas vantagens em relação ao mundo no que diz respeito à sustentabilidade. O País pode melhorar a qualidade dos produtos e a sua imagem de produtor sustentável de alimentos internacionalmente, relacionando assuntos como baixa intensidade de carbono da matriz elétrica, por exemplo. Temos muitas oportunidades pela frente!
Letícia Franco Martinez
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Economista e consultor. É diretor do Instituto de Economia da Associação Comercial de São Paulo, onde também atua como superintendente institucional. Autor dos livros "O Plano Real Para ou Continua" e "O Plano Real Acabou?".
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CEO da W Futurismo, Futurista Global, Estrategista, especialista em Foresight, em Comportamento Humano e em Gestão Positiva de Mudanças. Faz parte da comunidade da UNESCO em Futures Literacy.
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Sócio da BDO RCS Auditores Independentes – líder da área de Esporte Total. Responsável técnico da plataforma Fair Play Financeiro, da CBF. Professor da CBF Academy e do curso de Gestão e Marketing Esportivo, da Trevisan Escola de Negócios.
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Presidente do Instituto Chiavenato. Um dos autores nacionais mais respeitados na área de Administração e RH, com mais de 30 livros publicados. Professor convidado de várias universidades nacionais e do exterior.
Escreve a coluna Tendências da Administração
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Administrador com pós-graduação em Marketing. CEO da Giros Filmes, sócio da Mundo Real e ex-CEO da Agência TUDO. Um dos mais reconhecidos profissionais de Marketing do País
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Cofundador e presidente do Grupo Empreenda, consultor, palestrante e autor do bestseller “Seja o Líder que o Momento Exige”. Criador da metodologia “Passaporte para o Futuro”
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