Professor da FEARP/USP e da EAESP/FGV. Membro do Conselho da Associação Mundial de Alimentos (IFAMA) e criador da plataforma DoutorAgro.com. Publicou, com sua equipe, mais de 50 livros em 10 países.
Escreve a coluna Agronegócio
Agricultura Regenerativa: atitude que começa no campo e beneficia a natureza, o agricultor e o consumidor final
Publicado em 24/01/2022
Faz um bom tempo que escutamos falar que a natureza proporciona a matéria-prima essencial para que vários setores funcionem e sejam produtivos, inclusive no agro. Mas e se o correto for pensar justamente o inverso: produzir pensando, primeiramente, em suprir as necessidades do meio ambiente?
Essa é a ideia que pessoas e organizações sustentáveis tentam desenvolver na busca incansável por soluções climáticas. A consciência para utilização dos recursos naturais demorou a vir e, por isso, hoje, o desafio é gigante, principalmente para lidar com os Gases do Efeito Estufa (GEE).
A agricultura regenerativa é um exemplo do agronegócio se movimentando a favor deste pensamento, que inverte as prioridades desde o campo até o prato das pessoas. É válido ressaltar o fato de que práticas conectadas a esse conceito já existem há um bom tempo. Trata-se, basicamente, de um modelo mais “amigo da natureza”, que vai além dos orgânicos, envolvendo técnicas agrícolas e de pastagem que visam a restauração do solo, que colabora com a biodiversidade e proporciona melhorias para a captura de carbono do solo. As principais práticas desse tipo de agricultura, segundo a Aegro são: a rotação de cultura, o plantio direto, a redução no uso de químicos, o controle biológico de pragas e doenças, a agricultura de precisão, entre outras.
A Cargill é um exemplo do agro que vem adotando práticas de agricultura regenerativa. A organização declarou em meados de 2021 que tais práticas seriam incorporadas em cerca de 4,04 milhões de hectares até 2030, segundo a Forbes.
Outro caso que se destaca é a Nestlé, que possui metas interessantes relacionadas ao tema no Brasil. Segundo a revista Valor Econômico, a companhia estimula práticas de adoção e reabilitação com foco no cacau, no café e no leite, e está divulgando a iniciativa “Generation Regeneration” que mostra o compromisso, com metas e ações para incentivar e acelerar a transição a sistemas alimentares. A empresa quer que 30% de sua matéria-prima tenha como origem a agricultura regenerativa, além de reciclar todo o plástico colocado no mercado brasileiro e conservar 300 mil hectares, gerando renda e promovendo educação para 4 mil pessoas na Amazônia.
No início de 2020, a Whole Foods havia anunciado que a agricultura regenerativa seria a tendência número 1 para a indústria de alimentos. Apesar de ter sido um ano bastante complexo devido ao início da pandemia, ainda assim, esse tipo de produto aumentou em 138%, segundo informações divulgadas em meados de 2021 pela Revista Forbes.
Além disso, segundo a Nielsen, 75% dos millennials estão modificando seus hábitos de consumo, que são muito mais direcionados ao meio ambiente. As certificações colaboram para a transparência com esses consumidores, a exemplo do Regenerative Organic Certified que é voltado para alimentos, têxteis e ingredientes de cuidados pessoais, visando três aspectos principalmente: a saúde do solo, o bem-estar animal e a justiça do trabalhador, destacando-se o primeiro item que vai ao encontro dos princípios da agricultura regenerativa.
Além dos certificados, outras ações estão ganhando espaço para colaborar para o avanço da agricultura regenerativa. A rePlant é um exemplo de empresa de serviços financeiros no exterior que foi criada para dimensionar soluções climáticas, financiando a transição de terras agrícolas americanas para a agricultura regenerativa e orgânica. Nos Estados Unidos, os agricultores enfrentam graves dificuldades financeiras e esgotamento do solo, devido ao uso de um modelo de agroquímicos que se estendeu por anos. Segundo a organização, somente 1% da cadeia de suprimentos do país é orgânica, enquanto 80% dos consumidores estão comprando algo orgânico e 75% das categorias de supermercados carregam algo orgânico. Diante desse cenário, a empresa identificou a oportunidade de tentar reestruturar o sistema alimentar, já que essa conta “não bate” de jeito nenhum. A ideia da rePlant é reverter o cenário negativo por meio de financiamentos para os agricultores.
Em suma, os agricultores, a partir da agricultura regenerativa, ao mesmo tempo que obtém a saúde adequada do solo, economicamente podem se sair melhor, lucrando mais por diminuírem os custos com insumos e otimizando o uso de suas terras. Além disso, o meio ambiente ganha, assim como o consumidor final, pois recebe produtos saudáveis na sua mesa diariamente.
Confira textos, vídeos e outros materiais de Marcos Fava Neves no site doutoragro.com. A coluna de Marcos Fava Neves é escrita em parceria com Leticia Franco Martinez e Gabriel de Oliveira Teixeira.
Letícia Franco Martinez
Letícia é mestre e doutoranda na Faculdade de Administração da USP em Ribeirão Preto, professora no Centro Universitário Barão de Mauá e especialista em sustentabilidade no agronegócio. Confira os materiais produzidos por Letícia no Instagram Tripé Sustentável e no Linkedin.
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Sócio da BDO RCS Auditores Independentes – líder da área de Esporte Total. Responsável técnico da plataforma Fair Play Financeiro, da CBF. Professor da CBF Academy e do curso de Gestão e Marketing Esportivo, da Trevisan Escola de Negócios.
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Presidente do Instituto Chiavenato. Um dos autores nacionais mais respeitados na área de Administração e RH, com mais de 30 livros publicados. Professor convidado de várias universidades nacionais e do exterior.
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