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Na última segunda-feira, os conselheiros do CRA-SP receberam, durante a Reunião Plenária do Conselho, a visita do economista-chefe da Associação Comercial de São Paulo – ACSP, Marcel Domingos Solimeo, que fez uma importante análise sobre as projeções econômicas no pós-pandemia.

No início da sua fala, Solimeo abordou como o cenário nacional e internacional vem reagindo neste período de incerteza decorrente da pandemia. Já no âmbito internacional, o economista citou que a China está se recuperando fortemente, mas que ainda não se sabe se haverá alguma consequência com o recrudescimento da crise da covid-19. Solimeo apontou, também, que nos EUA o crescimento tem sido maior que o esperado, no entanto, com o lançamento dos inúmeros recursos de infraestrutura e tecnologia, há preocupação sobre uma possível volta da inflação, que implicaria no aumento da taxa de juros e, consequentemente, refletiria no Brasil. 

Para o economista, as incertezas no Brasil ainda são relacionadas à pandemia. Embora tenha havido um avanço com a vacinação, não é possível considerar que a crise já esteja superada e é preciso considerar que ela deixou muitas consequências, como a desorganização das cadeias produtivas. “Tivemos o problema de falta de aço e temos um problema de parar a produção de automóveis por falta de chips. Isso pode se resolver até o final do ano, mas já teve um impacto muito grande sobre os preços dos produtos industriais, que ajudou a alimentar o IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna)”, comentou.

Outro problema, que para Solimeo talvez seja ainda mais sério, é a questão da energia. Relatórios recentes apontam que não há possibilidade de haver racionamento em 2021, porém não se pode garantir como será o próximo ano. “Desde 2001 muitos investimentos têm sido feitos em usinas a combustível e já tivemos algum avanço da energia eólica, embora ainda bastante limitada. A seca, se continuar muito forte, poderá impactar na agricultura e os preços agrícolas serão bastante preocupantes”, avaliou.

Desafios

Solimeo citou que o País tem inúmeras preocupações na retomada do pós-pandemia e deu como exemplo a educação, que teve as classes menos favorecidas mais prejudicadas. “Esses estudantes não vão conseguir recuperar o estágio que estavam anteriormente. Simplesmente voltar às aulas não será suficiente, é preciso um programa específico”, sugeriu.

Outro grande desafio econômico e social apontado pelo economista é o desemprego, afinal 14,5% da população encontra-se nessa situação. “Tivemos uma forte mudança no mercado de trabalho. Grande parte das empresas digitalizou e passou a necessitar de uma mão de obra que é carente, ao mesmo tempo em que destruiu vagas que existiam para o trabalho não especializado. É preciso uma política específica, pois só a recuperação não vai ser suficiente para retomar o nível de emprego que tínhamos antes”, destacou.

Economia reativada

Para Solimeo, a economia vem se reativando, pois, segundo ele, não é possível recuperar o que se perdeu. Tal reativação deve-se ao avanço da vacinação, à maior flexibilidade da população e aos setores que estão voltando a operar não com normalidade, mas já diferente em relação ao ano passado. “Se olharmos os últimos dados do Banco Central, o IPC-R (Índice de Preços ao Consumidor em Real), que é um indicador de prévia do PIB, mostra uma recuperação que já supera até 2019 no mesmo período, embora ligeiramente”, disse.

Alguns segmentos, segundo o economista, já apresentam sinais de recuperação, como a indústria e serviços, na comparação com o período mais agudo da pandemia. “Algumas áreas, como a da Saúde, apresentaram expansão e aumento de emprego neste período, enquanto outras, que exigem a presença física, estão começando a se recuperar agora. Inclusive, o governador (João Dória) anunciou grandes eventos, como o Réveillon, o que parece indicar que não há um temor por parte do governo de eventos presenciais de grande público. Isso favorece segmentos, como o de eventos em geral e convenções, o hoteleiro (que foi um dos mais fortemente afetados), além de bares e restaurantes”, apontou. 

Expectativa para os próximos meses

Na visão Solimeo, a economia continuará se recuperando gradativamente, porém de forma mais rápida. Ele acredita que até o final do ano o novo normal já esteja se definindo e, provavelmente, irá combinar o presencial com o online na maior parte das atividades.

“Nossa expectativa para esse ano é um crescimento entre 5 e 5,5%. Se chegarmos a 5,5% praticamente recuperamos os 3,5% que foram perdidos em 2020. Algumas projeções mais ambiciosas preveem até 6%, mas estamos apostando mais no crescimento na casa dos 5%, por causa de algumas dificuldades que surgiram ao longo do ano. E em relação à 2022 espera-se um crescimento de 2,2% e não se vislumbra um avanço mais forte em curto prazo”, concluiu.