Startup: entenda o que é e qual o seu diferencial - CRA-SP
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Startup: entenda o que é e qual o seu diferencial

Saiba mais sobre esse modelo ágil de negócio, suas principais características, os tipos que existem e como criar uma startup do zero

Ideias inovadoras, diferentes tipos de investimentos, crescimento acelerado e escalabilidade: essas são algumas das características que definem o ecossistema das startups. Embora este seja um modelo de negócio em crescimento nos últimos anos, o termo startup ainda traz consigo várias dúvidas: no que essas empresas diferem dos negócios tradicionais? Em quais segmentos podem atuar? Como recebem investimentos? Por que algumas são alçadas ao sucesso e outras não?

Para esclarecer essas e outras questões, a ADM PRO traz, a partir de hoje, a série Especial Startups, publicada exclusivamente aqui, no portal da Revista. Nela, vários especialistas compartilham sua expertise no assunto e pontuam sobre como os profissionais da Administração podem colaborar para que essas empresas decolem.

Nesta primeira reportagem, a série vai abordar:

  • O que é uma startup?

  • Startups x negócios tradicionais

  • Em quais segmentos atuam? 

  • Como criar uma startup?

  • Quais os desafios desse modelo de negócio?

  • Como tornar o negócio escalável?

  • Mercado de trabalho para os profissionais da Administração. 

O que é uma startup?

Startup é uma empresa que tem por natureza um negócio com crescimento de receita acelerada, que busca meios inovadores de gerar valor para seu cliente final. “É comum que este crescimento acelerado signifique para a startup a não obtenção de lucro durante um período, porém, no médio prazo, é esperado que o retorno financeiro positivo ocorra”, explica o founder & CEO da BR Angels, grupo de investidores anjos, Orlando Cintra.

O termo surgiu no Vale do Silício, região da Califórnia especializada em tecnologia e inovação. Embora a expressão já fosse usada nos EUA há várias décadas, ela se tornou conhecida em todo o mundo durante a época chamada de bolha.com (ou Bolha da Internet), entre 1996 e 2001, impulsionando o surgimento de inúmeras lojas virtuais.

Normalmente, são empresas criadas a partir da identificação de uma necessidade do consumidor, que não está sendo atendida pelos players atuantes no mercado. Um fator relevante para o aumento da chance de uma startup ser bem-sucedida é que o negócio beneficie todos os stakeholders ao longo da sua cadeia de valor. 

  Isabella Vasconcellos

“O Uber, por exemplo, teoricamente beneficia a empresa Uber; os donos dos carros, que têm nesse negócio uma alternativa de gerar renda; e os usuários do serviço, que encontram melhores preços e mais comodidade. O AirBnB oferta quartos ou imóveis por preços mais acessíveis que os hotéis e em lugares mais convenientes. O iFood amplia o mercado para os restaurantes e aumenta a conveniência dos consumidores. O Quinto Andar solucionou o problema de encontrar um fiador para aluguel, ou seja, são startups cujos modelos de negócio foram desenvolvidos com foco na solução de problemas e necessidades do consumidor”, exemplifica a professora do curso de Administração da ESPM Rio, Isabella Vasconcellos.

Startups x negócios tradicionais

Além de serem flexíveis nos processos, inovadoras, potencialmente disruptivas, dinâmicas, escaláveis e repetitíveis, outras características que definem as startups são a facilidade de mudar de direção sempre que necessário, a fragilidade financeira, a atuação em um mercado incerto e o alto risco em sua pretensão de sucesso.

Essas peculiaridades as diferenciam dos negócios tradicionais, que costumam ser mais rígidos, ter mais regras e menos rapidez nas decisões, pois já estão consolidados em um determinado setor e possuem uma estrutura financeira maior. “Apesar de serem diferentes, é importante lembrar que uma startup trabalha para um dia ser uma grande empresa. Eventualmente, o negócio mais disruptivo de hoje pode ser considerado o negócio tradicional amanhã”, comenta Cintra.

As empresas tradicionais também podem desenvolver núcleos de inovação para o seu próprio negócio, dentro da empresa. “Para isso é preciso ter uma equipe alocada exclusivamente para isso, para que ela não seja contaminada pela rotina diária e nem pelos processos e rotinas já existentes na empresa, que costumam prejudicar as iniciativas de inovação”, orienta a docente da ESPM. 

Em quais segmentos atuam?

As startups estão presentes em quase todos os segmentos: saúde (healthtechs), educação (edtechs), seguros (insurtechs), financeiro (fintechs), marketplaces, logísticas (logtechs), construção (construtechs), real state (proptechs), jurídico (lawtechs), agtech (agronegócio), varejo (retailtechs), tecnologia (adtechs/martechs), terceiro setor (socialtechs), entre outras.

Isso deixa claro que qualquer área pode fazer uso da tecnologia para criar algo disruptivo. “Na construção civil, por exemplo, a técnica tradicional é a do assentamento de tijolos. Porém, hoje existem impressoras 3D para imprimir casas”, comenta Marcelo Krieger, CFO - Chief Financial Officer na FNX Participações, holding especializada em unificar e sistematizar ferramentas de gestão, e sócio da Digitaliza Brasil, distribuidora de e-books no Brasil.

Como criar uma startup?

Para quem pensa em começar uma empresa inovadora do zero e deseja escalar o seu negócio é importante ficar claro que as etapas são praticamente as mesmas que as de qualquer outro negócio. 

Logo no início são definidos os fundadores/cofundadores, um dos pontos mais importantes em uma startup early state (estágio inicial). Em seguida, vem a etapa da ideação, ou seja, o momento de definir sobre o que será o negócio e o seu propósito. É nessa fase que o empreendedor entende as dores, necessidades e desejos dos clientes e de que forma seu produto/serviço pode agregar valor ao seu público-alvo.

                                                             Orlando Cintra

Depois de analisar se o negócio pode mesmo decolar e se ele faz sentido na prática, o empreendimento entra na fase da validação. O meio mais usado para isso é o lançamento de um MVP (Minimum Viable Product - ou Produto Mínimo Viável) como forma de testar o produto ou serviço antes de lançá-lo no mercado. “O objetivo é não gastar muito esforço ou dinheiro antes de ter certeza que o produto/serviço está pronto para o mercado. O MVP permite testar, corrigir, adequar, testar novamente e, então, lançar para valer”, esclarece Cintra.

De acordo com Krieger, a abordagem do MVP tem o objetivo de ser o “first mover” (o primeiro que surgiu), com algo que atenda a necessidade do público-alvo. Assim, o empreendimento ganha a fatia do mercado que estava à espera do que quer que fosse e, além disso, tempo e fôlego para fazer melhorias. 

“Um exemplo de MVP é a história do Instagram. Dois estudantes de Stanford, Kevin Systrom e o brasileiro Michel Krieger,  tinham um projeto. De uma troca de ideias, surgiu o conceito básico da primeira versão do produto: tirar fotos, aplicar filtros e compartilhar. Num primeiro momento, foi disponível só para a plataforma da Apple. Da captação da primeira rodada de investimentos até o lançamento da versão inicial passaram-se apenas 133 dias. Depois de quase dois anos foi lançada a versão para o Android, que teve mais de 1 milhão de downloads em menos de um dia. Seis dias depois, o Facebook comprou o Instagram por US$1 bilhão”, conta Krieger.

Se a validação for positiva, a startup entra em operação, buscando seus primeiros clientes e faturamentos, fazendo, de fato, o negócio funcionar. “Tudo funcionando, é hora de crescer, e a fase de growth (tração) busca escala, maturidade e expansão. Poucas startups chegam aqui de forma bem-sucedida e, quando chegam, é um indicativo que possivelmente o negócio deve prosperar. Indo bem, a startup passa ser scale-up (fase de expansão), lançando seus negócios para um patamar de empresa média, indo em direção a se tornar uma grande empresa”, explica Cintra.

Desafios do modelo de negócio

Adversidades para esse modelo de empreendimento não faltam. No entanto, dentre os principais, Krieger cita a quebra de paradigma, afinal, o usuário pode ou não enxergar vantagem no que está sendo proposto e aceitar (ou não) a migração para o novo modelo. 

  Marcelo Krieger

Outra dificuldade que ele aponta é em relação ao poder de quem já está estabelecido, pois uma startup propõe algo novo e quem está forte no segmento se defenderá. “Dependendo do caso, o desafiado pode simplesmente copiar o modelo, aplicar em sua base de clientes e a startup morre. Um desfecho bem comum é que se o projeto for bom, a empresa grande compra a startup e os envolvidos ficam satisfeitos. Exemplo é o Facebook que comprou o WhatsApp em 2014”, diz Krieger.

E há, também, a possibilidade de surgir algo ainda melhor antes que haja tempo de o modelo se estabelecer e garantir a permanência da startup no mercado, bem como aconteceu com a tecnologia do videolaser, discos do tamanho dos antigos LPs, nos quais eram colocados filmes, sendo a metade da história de um lado do disco e o restante do outro lado. O modelo, lançado no mercado na década de 90, logo foi substituído pelo DVD. ”Ele dominou até o surgimento do Blu Ray, que nem teve tempo de se expandir e foi substituído pelos streamings”, conta o sócio da Digitaliza Brasil.

Já o CEO da BR Angels acredita que os outros pontos críticos são a volatilidade do mercado e a falta de caixa que, consequentemente, leva à busca constante por fundraising (capital externo). “Crescimento em vendas também é algo que a startup busca com frequência, e pelo fato de não ter um nome consolidado é sempre um desafio manter a máquina de vendas funcionando de forma plena no início do negócio. Outro fator que dificulta o processo é a contratação e retenção de talentos nas startups”, opina.

Como tornar o negócio escalável?

A escalabilidade do negócio depende principalmente da certeza de que o nicho de mercado para o produto/serviço tem alta demanda para sustentar o crescimento do negócio. “Consultorias que dependem de pessoas e talentos são menos escaláveis que um Software as a Service (SaaS), ou software de serviço na nuvem, que é desenvolvido uma vez e pode ser vendido quantas vezes quiser, com o mesmo custo de infraestrutura e operação. Portanto, para ter um negócio escalável, mais do que pensar em modelos de vendas ou precificação, é válido pensar em dois pontos: no tamanho de mercado e no seu produto/serviço”, orienta Cintra.

O grande segredo para tornar o negócio escalável, na opinião de Krieger, é estruturar uma operação de forma a conseguir crescer a receita, sem que isso aumente proporcionalmente os custos operacionais.

Mercado de trabalho para os profissionais da Administração

De acordo com o CEO da BR Angels, o administrador pode atuar em várias posições, como founder (criador da startup), CEO, CFO - Chief Financial Officer (responsável pelas atividades financeiras da empresa), líder de marketing ou, ainda, integrar o time que desenvolve a startup. “É importante que o administrador pense em empreendedorismo, seja dentro da empresa (intraempreendedorismo) ou mesmo fora de uma organização”, acrescenta Cintra.

Já a docente da ESPM Rio aponta que um dos maiores desafios em uma empresa é a administração de recursos humanos. Afinal, conseguir conciliar um trabalho em grupo, com harmonia e extraindo o melhor de cada profissional, não é fácil. “Essa é a função do administrador, manter a equipe estimulada, trabalhando em conjunto e focada em objetivos e metas bem definidos e do conhecimento de todos. A hierarquia, a departamentalização, normalmente não são foco de uma startup, por isso ela exige liderança e não mais os ‘chefes’ tradicionais”, esclarece.

Diante da crescente tendência do desenvolvimento de negócios disruptivos, as Instituições de Ensino Superior - IES já investem no aprimoramento dos alunos para torná-los aptos nessa jornada.  “Na faculdade se discute muito os novos modelos de negócio, voltados para parcerias, e os modelos exponenciais que permitem um crescimento mais rápido. O empreendedorismo é foco dos cursos de Administração e, além de muitos alunos terem interesse nisso, até mesmo as empresas grandes e multinacionais se interessam por investir em novos negócios, novas categorias de produtos e novas praças geográficas, que exigem uma postura empreendedora de exploração de oportunidades”, conclui Isabella.





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