Cultura intraempreendedora: o segredo da inovação corporativa - CRA-SP
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Cultura intraempreendedora: o segredo da inovação corporativa

Popularizado pela evolução do empreendedorismo no Brasil nos últimos anos, o conceito de intraempreendedorismo ou empreendedorismo corporativo vem ganhando importância em organizações que, pressionadas pelo desenvolvimento tecnológico, buscam por soluções em que a inovação – um dos principais eixos de crescimento organizacional – faça parte de seus modelos de gestão e facilite a sua sobrevivência em um cenário de constantes transformações. De acordo com Sandro Magaldi, coautor dos best sellers “Gestão do Amanhã” e “Novo Código de Cultura”, para se adequarem a esse novo modus operandi corporativo, é preciso que executivos tenham, dentro das organizações, o mesmo impulso empreendedor que teriam para gerar negócios fora delas. Nesta entrevista, Magaldi, que também é cofundador da plataforma de empreendedorismo meusucesso.com, fala sobre a importância do fomento ao desenvolvimento autônomo do intraempreendedorismo nas organizações para superar vantagens competitivas transitórias e, a exemplo do Google - cujo estímulo concreto à cultura interna da inovação deu origem a serviços como Gmail, Google News e Google Alerts -, manter-se à frente do mercado.  

Revista Administrador Profissional – ADM PRO: Quais são as principais características do profissional intraempreendedor e que tipo de benefícios sua postura pode gerar às empresas?

Sandro Magaldi: O benefício é o fomento à inovação. O profissional que adota essa postura leva à organização o desenvolvimento de novas ideias, conceitos e, de preferência, projetos que tenham potencial de gerar outras empresas. Quanto ao perfil, essa é uma questão bastante abrangente, visto que não existe um job description ou uma definição clara do perfil do empreendedor. Em minha experiência estudando e produzindo estudos de casos de empreendedores, já encontrei empreendedores tímidos, expansivos, introvertidos, extrovertidos, enfim, não há uma especificidade consagrada, porém, existem algumas características muito claras que estão presentes no empreendedor e sobre as quais vale a pena refletirmos. Uma delas é o que eu chamo de think bold, que é aquela capacidade de enxergar além das fronteiras do seu dia a dia. Eu sempre digo que o empreendedor bem-sucedido é aquele que olha para onde todo mundo está olhando e vê o que poucos enxergam. A segunda, que advém da primeira, é a capacidade de implementação e execução da sua ideia, porque a ideia, por si só, não tem valor. O que tem valor é a sua execução. E a terceira, para ter um referencial mais claro, é a capacidade ou a propensão a tomar riscos. Se há uma ideia inovadora, inusitada, significa que ela não foi validada e, se não foi validada, é possível que não se consubstancie em êxito, então é muito importante ter uma boa capacidade de resiliência para tomar riscos. 

ADM PRO: Quais são os benefícios do intraempreendedorismo para o profissional?

Magaldi: Os benefícios são, sobretudo, de protagonizar sua própria carreira e, mais do que isso, protagonizar a sua existência, na medida em que consegue sair da rotina diária de atividades que muitas vezes o transformam em um ser autômato, em um protagonista das suas ideias, dos seus conceitos. A capacidade de empreender dentro da organização traz consigo um sentimento e uma perspectiva individual muito rica e interessante de autorrealização e essa experiência vai ser fundamental para todas as outras experiências que estão por vir.

 ADM PRO: Como potencializar a capacidade intraempreendedora de um profissional?

Magaldi: Um dos pontos fundamentais para fomentar o empreendedorismo dentro da organização é desenvolver uma cultura que permita às pessoas desenvolverem os seus próprios projetos, ideias e inovações. A cultura é a filosofia, é o modo como a organização pensa. Se a empresa é inflexível, fechada e não estimula o protagonismo do indivíduo, dificilmente vai conseguir um ambiente de incentivo ao empreendedorismo corporativo. Se, pelo contrário, a organização possui uma estrutura de pensamento que fomenta iniciativas individuais, que favorece o protagonismo do indivíduo e cria, inclusive, estruturas formais para isso, como sistemas de estímulo por remuneração financeira para o reconhecimento de novas ideias, ela promoverá o empreendedorismo. A cultura organizacional é que irá ditar a forma como uma empresa enxerga esse fato. 

ADM PRO: As características intraempreendedoras são mais comuns entre os jovens ou profissionais com mais anos de carreira também carregam essa marca?

Magaldi: Eu tenho sentenciado que o grande virtuosismo dessa nova era está no que eu chamo de encontro de gerações. É quando a impetuosidade, a ambição do jovem encontra a experiência, o conhecimento, a sabedoria de quem está na caminhada há mais tempo. É do encontro desses dois conhecimentos que emerge um terceiro tipo de sabedoria virtuosa para essa nova era, que alia o novo ao tradicional. A mesma coisa ocorre no intraempreendedorismo. Nada tem a ver com idade, mas com mentalidade. Conheço jovens que pensam de uma forma velha e também conheço pessoas de mais idade que estão muito mais ativos do que alguns jovens. É claro que o jovem tem uma impetuosidade natural à sua idade e aquele que tem mais idade, o mais experiente, possui uma tendência à estabilidade maior, devido às lições que teve ao longo da vida. Porém, é absolutamente exequível, requerido e necessário nutrir a mentalidade com todos na organização. Cabe à empresa criar o contexto para que emerja o empreendedorismo em todas as faixas etárias, raças, credos, origens etc. 

ADM PRO: Como fomentar o intraempreendedorismo, também, nas pequenas empresas?

Magaldi: Cultura empreendedora. Essa história de que inovação e desenvolvimento de cultura é só para empresa grande é uma grande balela. Pelo contrário, organizações menores têm mais flexibilidade de geração de ideias, de intimidade e proximidade com os seus colaboradores, menor percepção de riscos do que uma grande empresa, que vira um mastodonte. Hoje, pela primeira vez na história dos negócios, não é o forte que irá sobreviver e, sim, aquele que se adaptar melhor ao meio. E isso representa um prato cheio para as pequenas e médias empresas que conseguirem entender que inovar também faz parte da sua proposição; que intraempreender também é uma possibilidade para instilar junto a seus colaboradores e que é possível construir uma cultura de inovação no seu negócio. Eu sempre comento que uma empresa não é pequena, ela está pequena e vai poder ser do tamanho que a sua evolução assim a levar. E um dos pontos fundamentais para isso é a mentalidade dos seus líderes, dos seus fundadores, dos seus proprietários. 

ADM PRO: As competências generalistas de um administrador são favoráveis para o exercício do intraempreendedorismo?

Magaldi: Sim. Em um ambiente de transformações tão grandes, percebemos a evolução de um tipo de executivo que eu chamo de especialista-generalista. Não há mais espaço para executivos, profissionais ou empreendedores que tenham apenas uma visão especializada, isso porque, hoje, a economia caminha para a multidisciplinaridade. Pense em um médico especializado em diagnóstico. Esse médico sempre teve e ainda tem como necessidade ser hiperespecialista na habilidade de realizar excelentes diagnósticos. Hoje, com o advento da tecnologia, inteligência artificial e realidade virtual, esse profissional tem que adquirir outros tipos de conhecimento para lidar com a sua atividade. Tem que conhecer sobre tecnologia, algoritmos, lógica, porque se ele for só um especialista em sua atividade original, ficará em descompasso com a evolução do mercado. Esta metáfora serve para qualquer organização. Hoje é requerido um pensamento multidisciplinar, que represente uma visão sistêmica em relação a todos os vetores que impactam no negócio, na organização e nos seus colaboradores. Dessa forma, o profissional especialista terá dificuldades de prosperar nesse ambiente. 

ADM PRO: Um bom intraempreendedor pode chegar a ser, também, um bom empreendedor?

Magaldi: Não só pode como deve. Eu recomendo que as organizações que fomentem o intraempreendedorismo deem espaço para que esse empreendimento gerado pelo colaborador dentro da empresa tenha condições de ser um spin-off, ou seja, de sair da empresa e se tornar um outro negócio. E, assim sendo, quem vai ser o líder desse novo projeto, senão aquele intraempreendedor? É inegável que exercitar o intraempreendedorismo é um fomento para que o indivíduo também se desenvolva como empreendedor. Se a organização conseguir dar espaço para isso, ela ganha um novo negócio, um novo sócio, um novo parceiro, enquanto o colaborador ganha a possibilidade de gerar o seu negócio, o seu empreendimento em um ambiente muito mais seguro, como todo o aparato e suporte de uma organização já consolidada. É um contexto muito virtuoso. 





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