Empreendedoras: quais os cenários futuros? - CRA-SP
Faça download do App |
Empreendedoras: quais os cenários futuros?

O Brasil fechou o ano passado com quase 53,5 milhões de pessoas, entre 18 e 64 anos, envolvidas em algum tipo de atividade empreendedora. De acordo com o GEM Brasil 2019, a maioria dos entrevistados, cerca de 80%, apontou o próprio negócio como uma oportunidade de ganhar a vida diante da escassez dos empregos no País. Se antes da pandemia provocada pelo novo coronavírus a realidade era de mais de 12 milhões de brasileiros desempregados, agora, com essa crise sem precedentes e sem prazo definido para o fim, empreender pode continuar sendo a melhor opção para quem foi demitido ou quer tentar novas oportunidades empresariais. 

Fazendo um recorte para o empreendedorismo feminino, podemos dizer que as empreendedoras são protagonistas muito antes dessa crise e, desde março, quando o impacto do novo coronavírus chegou ao Brasil, continuam ratificando esse destaque. De acordo com uma pesquisa do SEBRAE, cerca de 52% dos negócios liderados por mulheres foram afetados pela nova recessão, o que provocou o fechamento temporário ou definitivo das atividades. A mesma situação também aconteceu com 47% das empresas geridas por homens, mas foram elas que conseguiram ser mais ágeis na hora de tomar decisões.  

Entretanto, mesmo comprovando suas habilidades e apresentando cases de sucesso, as empreendedoras ainda ficam em desvantagens empresariais em relação aos homens, sendo isso visto, por exemplo, quando elas buscam financiamentos. Muitos estudos apontam que a retomada da economia estará diretamente ligada ao empreendedorismo feminino, mas como será esse cenário para as empresárias de pequeno e médio porte? 

Para entender quais serão os cenários futuros para as empreendedoras no Brasil, o CRA Entrevista Live convidou Ana Fontes, empreendedora há 13 anos, presidente do Instituto Rede Mulher Empreendedora e considerada pela Forbes como uma das 20 mulheres mais poderosas do País. Ana contextualizou o passado do empreendedorismo nacional com a atual situação do setor, deu dicas sobre como os empreendedores devem se preparar para enfrentar um ambiente obscuro social e economicamente, como o que estamos vivendo, e, apesar de tudo, se mostrou bastante otimista com o crescimento de novos negócios. 

“A pandemia também trouxe uma constatação muito importante para a sociedade: a nossa economia é movimentada pelos pequenos negócios. Quase 70% dos empregos são gerados pelas pequenas empresas e isso trouxe uma comoção muito grande em função da pandemia porque milhares, ou talvez até milhões de negócios, tenham sido prejudicados e afetados de alguma forma por ela”, esclareceu a ex-executiva que começou a empreender em uma época na qual não se falava muito em empreendedorismo. 

  Ana Fontes

Desafios 

Ana relembrou também uma pesquisa divulgada pelo IBGE recentemente que apontou que, em um único mês, mais de 1,5 milhão de pessoas ficaram desempregadas, fato esse que ela usou para reforçar o cuidado que se deve ter ao abrir um negócio apenas para que ele se torne uma fonte de renda. É aí que empreender se torna um instrumento de inclusão social, mas a LinkedIn Top Voices 2020 alertou: “não adianta as pessoas empreenderem sem ter apoio público, sem ter política pública, sem acesso à crédito, sem condições de formalização dos negócios. Se as pessoas não tiverem apoio das políticas públicas, elas irão se frustrar mais uma vez, porque empreender não é uma corrida de curta distância. É uma maratona, cheia de obstáculos e, por isso, é muito importante que haja apoio”. 

Não há uma fórmula para se tornar um empreendedor de sucesso, mas Ana elencou alguns cuidados principais que o empresário deve ter na hora de abrir uma empresa: definir o tipo do negócio pensando se ele tem aceitação do público (se resolve algum problema, se há muitos concorrentes, por exemplo); começar pequeno, para dar tempo de testar o produto ou serviço antes de fazer grandes investimentos, além de planejar melhor; procurar um mentor que já passou por esse processo de empreender; além de ficar atento a tudo que vem por aí. “O bom empreendedor ou empreendedora é aquela pessoa que está atenta a tudo que está acontecendo à sua volta. No atual momento que estamos vivendo existe bastante conteúdo qualificado, muita gente oferecendo informação, diversas lives etc. Aproveite para se envolver e buscar muito conteúdo”, aconselhou. 

Os desafios do empreendedorismo brasileiro por questões de raça e gênero também foram citados por Ana na entrevista. Ela lembrou que atualmente 25% dos novos empreendedores do País são formados por mulheres e negros, os dois grupos mais atingidos pelo desemprego no Brasil. Para a convidada, houve uma evolução com relação a esse aspecto nos últimos tempos, mas ainda existe um caminho bem longo a ser percorrido.   

Destaque para a mulher 

Em 2010, Ana resolveu criar um blog para compartilhar os ensinamentos que recebia em um curso de capacitação promovido pela Fundação Getulio Vargas para apenas 35 selecionadas (ao todo cerca de 1000 mulheres se inscreveram). Ela sabia que do lado de fora daquelas aulas existiam pessoas que buscavam orientações e compartilhamento de experiências e assim, nasceu a Rede Mulher Empreendedora. Hoje, aquele blog se transformou em um Instituto com quase 1 milhão de empreendedoras impactadas com produtos, informações e serviços desenvolvidos para o aprimoramento delas.  

“Não são só mulheres. Cerca de 10% da Rede é composta por homens que acompanham a gente também”, acrescentou Ana ao ratificar a importância de existirem mais instituições que ofereçam esse tipo de trabalho para fomentar o empreendedorismo nacional. “Não é uma guerra de brancos contra negros, nem de mulheres contra homens. Na verdade, nós estamos falando de direitos humanos, nós estamos falando de inclusão”, concluiu. 

Questionada sobre como vê os cenários futuros para o empreendedorismo, Ana apontou para algumas vertentes como, por exemplo, o empreendedorismo social e humanização do trabalho. Entender o novo consumidor, segundo ela, também será um dos exercícios mais importantes daqui para frente. “As pessoas estão valorizando, cada vez mais, as empresas que estão sendo solidárias genuinamente”, alertou. Ana ainda apontou que as pessoas estão pensando em consumir menos, surgindo aí um perfil minimalista, mais sustentável, com a construção de um caminho de consumo com menos compras e mais aproveitamento. Para ela, tudo isso tem que ser levado em consideração na hora de definir o tipo de negócio que será criado ou incrementado. 

Se você não conseguiu acompanhar ao vivo ou quer rever essa edição do CRA Entrevista Live, basta acessar o vídeo abaixo. Essa, porém, não foi a primeira vez que a empreendedora Ana Fontes participou do Canal a Serviço da Administração. No ano passado, ela foi uma das convidadas do Mulheres em Foco, uma série de vídeos que traz histórias inspiradoras de diferentes personalidades femininas do ambiente corporativo. Reveja aqui!


Youtube Video




O conteúdo foi útil para você?    
Faça login para deixar sua opinão

Assuntos relacionados com Empreendedorismo

Revista Administrador Profissional - ADM PRO
Publicação física com periodicidade trimestral
Conteúdo produzido pelo Departamento de Comunicação do CRA-SP
Todos os direitos reservados