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Empreender é correr risco

João Appolinário, fundador e presidente da Polishop, fala sobre os desafios de empreender no Brasil e as lições que a jornada empreendedora lhe proporcionou ao longo dos 22 anos da empresa

“Dedicação, foco, trabalho e não ter medo de errar”. Para João Appolinário, fundador e presidente da Polishop, esses fatores são fundamentais para todo empreendedor que almeja o sucesso de seu negócio. “Não é algo novo, mas aprendi nesses 22 anos da empresa que isso é muito importante”, revela.

O empreendedor, que também é um dos tubarões do programa Shark Tank Brasil, exibido atualmente pelo Sony Channel, conta nesta entrevista exclusiva concedida à ADM PRO o conceito que criou para que a Polishop se destacasse entre os grandes varejistas que já atuavam no mercado e que a tornou a maior empresa omnichannel do País, com um faturamento anual de aproximadamente um bilhão de reais. 

No bate-papo, Appolinário comenta também sua expectativa para o varejo neste ano e, ainda, dá importantes conselhos para quem deseja começar a empreender. Confira.

Revista ADM PRO – Trocar o trabalho CLT pelo empreendedorismo está nos planos de muitos brasileiros. Entretanto, empreender no País é um grande desafio. O que você sugere às pessoas que planejam ter seu próprio negócio?

João Appolinário - A melhor coisa é você aprender a empreender sendo um CLT, ou seja, empreender no CNPJ de outra pessoa e, depois, no seu CNPJ. Muitas vezes, as pessoas confundem ser dono e ser empreendedor. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Eu posso ser dono de alguma coisa e não empreender nesse negócio e posso ser empreendedor e não ser dono. É muito importante essa divisão, porque muitas pessoas acabam “quebrando a cara”, pois sempre estiveram no CLT como alguém acomodado, sem ter uma atitude empreendedora, e aí resolvem partir para o seu próprio negócio e nunca dá certo. E é exatamente por isso, porque para empreender não basta ser dono, tem que ter consciência e aproveitar a oportunidade de aprender no CNPJ de outra pessoa. Normalmente essas empresas têm um departamento de treinamento, uma companhia inteira dando suporte naquilo que você está fazendo, tem o Jurídico, o RH, tem tudo. Então, haja como empreendedor no CNPJ de outra pessoa e depois que estiver preparado, saia e empreenda por conta própria, sendo dono do seu negócio. 

ADM PRO – Atualmente, com a chamada Nova Economia, as empresas têm direcionado suas estratégias para os seus clientes. No entanto, a ideia de focar no consumidor você teve em 1999, quando lançou a Polishop. O que o levou a pensar dessa forma naquela época?

João Appolinário - Eu gosto daquilo que se resolve, interpreta e executa de forma simples. E eu me coloquei como consumidor: o que eu, como cliente, gostaria ou não de ter? As pessoas, às vezes, se esquecem disso: montam o seu negócio, querem que ele tenha sucesso, mas tanto o atendimento quanto o produto são tão ruins que elas mesmas não aceitariam. Então, na verdade, é simples. Coloque-se primeiro como consumidor, veja se aquilo faz sentido para você. Eu, naquele momento, questionei aquilo que já existia. Inovação, pra mim, é isso, questionar o que já existe. Eu resolvi fazer algo que pudesse agregar benefício não só nos produtos, mas também nos serviços, ou seja, uma experiência diferente na hora de consumir. O modelo omnichannel pede isso, pois são pontos de contato com o cliente. Antigamente, toda rede de consumo era linear e hoje a jornada do consumidor é completamente diferente, pois o digital e outras coisas permitiram isso. É muito importante estar focado sempre no consumidor, todo mundo já sabia e falava isso, mas uma coisa é falar, outra coisa é criar ferramentas para que isso realmente aconteça.

ADM PRO – No seu livro (Inovar é questionar o que já existe – Buzz Editora) há a seguinte frase: “um bom empreendedor tem que ter faro para negócio”. No papel de tubarão, no programa Shark Tank Brasil, você tem a oportunidade de fechar boas parcerias em diferentes segmentos. Que detalhes apresentados pelos participantes mais chamam sua atenção ao ponto de motivá-lo a fazer uma proposta?

João Appolinário - A coisa mais importante é o empreendedor, aquele que está à frente do negócio. De ideias, o mercado está cheio. Eu mesmo tenho muitas ideias, o problema são pessoas para executá-las. Uma coisa que eu sempre deixo claro é que aquelas ideias e o sucesso ou não das empresas e startups dependem de quem está à frente delas e não de quem vai fazer o investimento. Eu só entro com o dinheiro, se ele [empreendedor] for bom, ele segue. Se for ruim, torra todo o investimento e o negócio vai acabar fechando. Eu não pego a ideia de alguém e faço com que aquilo aconteça, isso porque quem tem que fazer acontecer é o empreendedor e não o investidor. A gente entra para ajudar e existe muito essa confusão, a pessoa acha que entrou ali e porque alguns dos sharks fecham negócio que a vida dele está resolvida. Não! Ali é que começa o problema de fato (risos). Como tudo na vida, eu gosto sempre de usar o exemplo do acidente, que nunca acontece por um motivo só, mas sim por uma somatória de coisas. E o sucesso também, ele não acontece por um motivo só, é uma somatória. E assim funciona ali no programa. Na hora de escolher, a primeira que eu olho é quem está à frente, o conhecimento e a capacidade que tem. Às vezes, a gente se engana, sem dúvida, mas errar faz parte do empreendedorismo.

ADM PRO – Nesses 22 anos de Polishop, quais lições essa jornada empreendedora lhe trouxe?

João Appolinário - São muitas lições diariamente. Empreender é realmente correr risco. É errar, corrigir os erros e fazer daquele erro um aprendizado. Não tem algo que posso dizer que foi mais importante, porque o que eu sei é o seguinte: dedicação, foco e trabalho são essenciais. Não é algo novo, as pessoas já sabem e ouvem muito, mas o que aprendi nesses 22 anos da empresa é que isso é verdade. Sem dedicação, você não tem liderança. Sem liderança, você não consegue fazer as coisas andarem. Sem foco e sem muito trabalho, também não. 

ADM PRO – Qual o diferencial da Polishop em relação às outras lojas de varejo?

João Appolinário - São três pilares: produto inovador, exclusivo e de qualidade. Por outro lado, têm outros três fatores: saúde, beleza e tempo, ou seja, tudo aquilo que entrega benefícios é muito valorizado pelos consumidores. Então são essas duas bases de tripés que dão a nossa trilha.

ADM PRO – Apesar da pandemia, a Polishop conseguiu apresentar uma estabilidade e até cresceu no número de vendas. A que se deve esse crescimento?

João Appolinário - Em relação ao mercado, sim, houve um crescimento, mas também sofremos bastante com a pandemia. Somos uma empresa que nasceu no digital, então quem estava preparado sofreu menos. Por mais que nos primeiros três meses da pandemia as mais de 255 lojas físicas tenham ficado fechadas, conseguimos superar bem a crise, na medida em que o digital nos permitia. 

ADM PRO – Qual perfil o empreendedor precisa ter para chegar ao sucesso?

João Appolinário - Além da dedicação, foco e trabalho, ele não pode ter medo de errar. Quem tem medo de errar não dá para o empreendedorismo, mas tem que errar e corrigir muito rápido. Além disso, existe o problema das pessoas que, muitas vezes, não querem aceitar que aquilo está errado. Uma característica do empreendedor de sucesso é exatamente aceitar opiniões e entender que se aquela decisão ou pensamento não está dando certo, é preciso buscar uma forma que dê. Ele não pode ter amor ao negócio ou às suas ideias, mas sim amor ao empreendedorismo, que é gerar emprego, recursos e riqueza. É isso que é empreender. Não adianta só pensar em ter seu CNPJ e ficar à frente daquilo se matando sem conseguir, de fato, alcançar o sucesso.

ADM PRO – Apesar das constantes oscilações na economia nos últimos anos, qual é a sua expectativa para o varejo em 2022?

João Appolinário - O varejo já vinha sofrendo muito entre os anos de 2015 a 2019. Várias crises econômicas, muitas coisas acontecendo, como o impeachment e a instabilidade do governo. Então, nós não vínhamos de uma situação boa. Em 2022, também não teremos um ano fácil. Nós ainda vemos um desemprego muito alto e vai ser um ano bem desafiador, por isso temos que fazer um trabalho muito focado nos custos e naquilo que temos o controle para enfrentar esse novo momento. É um ano de eleições, com várias instabilidades e eu entendo que nós, do varejo, somos sempre o para-choque, pois recebemos tudo primeiro que os outros setores. Se a economia vai mal, o varejo é o primeiro a sentir e, neste semestre, vamos sentir isso sem dúvida nenhuma. 




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