Negócio fechado. E agora? - CRA-SP
Faça download do App |
Negócio fechado. E agora?

As restrições impostas aos comerciantes por conta da pandemia fizeram com que muitos deles fechassem as portas definitivamente. Com o fim do negócio, reinventar tem sido a única opção dos empreendedores

O decreto do governo estadual de São Paulo que implicou no fechamento obrigatório de todos os serviços não essenciais, na tentativa de conter a disseminação do novo coronavírus no País, trouxe prejuízos para diversos setores da economia. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelaram que a decisão de pausar as atividades levou ao fechamento de 716 mil empresas na primeira metade de 2020. Esse número representa mais de 50% do total de 1,3 milhão de negócios encerrados, temporária ou definitivamente, neste período.

A crise econômica que assola o Brasil e o mundo afetou desde as renomadas marcas globais, como a Hertz, o Cirque du Soleil e a Latam, que entraram com pedidos de recuperação judicial (recurso que autoriza que a empresa deixe de pagar seus credores temporariamente), até os micro e pequenos empreendedores que, inevitavelmente, sentiram ainda mais os impactos negativos da quarentena. 

Para superar a dificuldade, eles estão buscando alternativas para se manterem ativos e relevantes. “Muitos conseguiram se reinventar e hoje estão recuperando seu faturamento ao apostar em novos canais ou, até mesmo, em um novo modelo de negócio”, revela o analista de negócios e gestor de projetos do Sebrae-SP, Marcos Rabello.

     Marcos Rabello, gestor do Sebrae-SP

Por onde recomeçar?

O fim inesperado de um negócio traz com ele inúmeras incertezas, dentre elas, a dúvida sobre como e por onde recomeçar. Mas, afinal, em meio a um cenário econômico oscilante, qual seria a melhor saída para quem precisa partir do zero de novo? Para Rabello, quem quer iniciar um novo negócio (ou mesmo remodelar o já existente) deve ter, logo no início, um bom planejamento, pois quanto mais tardio ele for, mais dificuldades a empresa terá para superar as adversidades.

Rabello diz, ainda, que outro fator importante é conhecer bem o perfil do seu público-alvo. Assim, é possível acompanhar e monitorar as tendências de consumo que podem impactar positivamente na empresa. “Criar um modelo de negócio e definir sua proposta de valor, pesquisar sobre o mercado que deseja atuar, definir e conhecer seu público-alvo para criar uma comunicação direta e segmentada e identificar sua necessidade de capital para o início desse novo negócio são alguns passos que ajudam a tornar a jornada empreendedora menos desafiadora”, afirma o gestor de projetos do Sebrae-SP.

          Irmãos Alexandre e Adriano

Atente para as novas oportunidades 

A identificação das novas necessidades do mercado consumidor durante a pandemia foi exatamente o ponto de partida para a reformulação dos negócios dos irmãos Adriano e Alexandre Salvador. Sócios nas empresas ProMaxi, que produz aviamentos e fabricação de etiquetas, e na Neo Soul, voltada à comunicação visual e eventos, eles sentiram os impactos da crise logo no início. “Com o comércio fechando e os eventos cancelados, ficamos sem chão e com a dúvida se conseguiríamos permanecer mais um mês aberto”, conta o diretor Adriano. 

Sem novos pedidos, clientes suspendendo pagamentos e com o caixa para honrar os compromissos se esgotando, a ideia para reinventar o negócio surgiu de forma inesperada. “Após uma reportagem na TV, apostamos na fabricação de máscaras face shield (protetor facial) e, em menos de 24 horas, já tínhamos elaborado o projeto, adequado nossa produção e iniciado as vendas nas mídias sociais. Foi um sucesso”, comemora Adriano. 

A partir da venda das máscaras, surgiu a ideia de iniciar um e-commerce nos principais marketplaces, onde apostaram em um novo produto, o tapete sanitizante, que também foi sucesso de vendas e se mantém em alta até hoje. Atentos à possibilidade de a pandemia passar e perderem mercado, os irmãos ampliaram e diversificaram a linha de produtos vendidos na loja virtual, iniciando um novo empreendimento, a NS Departamentos. “São milhares de itens que estamos investindo nesse novo negócio. O mais recente é a linha de maquiagens com 33 opções de produtos. A cada mês melhoramos o faturamento, pois adotamos a cultura de criar e vender os produtos fabricados em nossa loja”, conta Adriano.

 Apesar do caos que viveram no início da crise, o empresário acredita que nesse período eles aprenderam a exercitar a persistência, a resistência e a fé, ao buscar alternativas para atender mercados nunca antes explorados por eles. “Uma dica aos empresários que tiveram que fechar seu negócio é: nunca se acomode. Se estiver tudo bem e sob controle, desconfie, pois a zona de conforto é o maior inimigo do empreendedor”, aconselha Adriano.

  Equipe do Carburadores

Reinventar: regra básica para empreendedores

A determinação de lockdown também acertou em cheio o restaurante Carburadores, que fez história no tradicional bairro da Mooca ao inovar a culinária local com suas carnes defumadas e um menu enxuto, criativo e autoral.

Com a chegada da pandemia, os proprietários perderam os clientes físicos e tiveram que reestruturar o negócio para atender apenas por delivery. Com as contas chegando e sem ter como pagá-las, não restou outra opção a não ser dispensar grande parte da equipe. Se não bastasse a baixa de funcionários, o proprietário do imóvel não aceitou negociar o valor do aluguel nesse período e os custos ficaram muito altos em comparação ao que estavam vendendo. Sem conseguir nenhum tipo de auxílio ou desconto em contas básicas como água e luz, em maio de 2020 eles anunciaram em suas redes sociais o encerramento das atividades. “Foi muito difícil ter que desistir de tudo, mesmo querendo continuar. É um sentimento de impotência não conseguir fazer nada. Não tínhamos escolha”, desabafa Erika Onomura, chef e uma das proprietárias do Carburadores.

Assim que fecharam as portas, após três anos de funcionamento, Erika e seu sócio se sentiram perdidos e sem um norte para seguir. Como o ganho deles dependia 100% da empresa, decidiram levar todos os equipamentos para casa dela e continuaram na ativa com os boxes e combos no sistema delivery e, desde então, eles estão reinventando a forma de trabalhar. “Foi engrandecedor. Tivemos que acompanhar o mercado de entregas, algo que não tínhamos muita experiência. Estudamos formas de entregar algo bem feito e embalado. Os boxes saíram muito bem e vimos uma maneira de sobreviver na pandemia”, conta Erika.

Outro meio que os empreendedores encontraram para manter a churrasqueira acesa foi oferecer seus serviços em outras casas. Eles receberam convites para assumir a cozinha de vários lugares e, num primeiro momento, tiveram uma parceria fixa no Soul Botequim e agora estão com operação na Cervejaria Tarantino e no Fenda 315. “Parceiros de verdade que só somam no nosso trabalho. Nesse período tão difícil é muito gratificante poder contar com estes espaços e permanecer na ativa”, agradece a chef.

Embora a economia esteja dando sinais de melhora, Erika é categórica ao dizer que, neste momento, não há a intenção de abrir uma nova casa e ressalta que pretendem continuar com as parcerias por um bom tempo. 

         Maria de Fátima e José Antônio Gonçalves

“Muitos clientes nós vimos crescer”

Outro empreendedor que se viu sem saída foi o comerciante José Antônio Vasconcelos Gonçalves, que entregou definitivamente as chaves do seu negócio no último dia 31 de janeiro. Por 17 anos, ele e sua esposa, Maria de Fátima de Jesus Gonçalves, administraram um comércio de doces em geral, na Vila Romana. O empreendedor revelou que há dois anos já pensava na possibilidade de encerrar as atividades. Com a pandemia, o que antes era uma hipótese se tornou inevitável.

Depois do decreto para fechar as portas, Gonçalves viu o faturamento da loja ficar muito abaixo da média, algo em torno de 55% a menos em relação ao mesmo período de 2019. Para tentar amenizar o prejuízo, ele e a esposa, ambos do grupo de risco, retomaram as atividades após 50 dias sem funcionar. Eles adaptaram o espaço de acordo com as medidas de segurança, mas com a diminuição do número de clientes não conseguiram reverter o cenário criado pela crise.

Essa foi a gota d’água e, assim, veio o duro entendimento de fechar de vez o espaço comercial. “Foi difícil chegar a essa decisão. Não vemos melhora breve na economia. Muitos dos nossos clientes nós vimos crescer, vinham aqui quando eram crianças e continuaram vindo agora que estão maiores. O sentimento que fica é de saudade, vamos sentir muita falta da rotina que fez parte das nossas vidas por tantos anos”, conta o comerciante.

Questionado sobre possíveis planos daqui para a frente, ele diz que, por enquanto, não tem expectativas, mas que está tranquilo quanto a isso. “Vamos aguardar e torcer para que a saúde e a economia melhorem para todos”, deseja. 

Suporte e orientações

Para o empreendedor que precisa de suporte ou orientações para retomar as atividades, a sugestão é recorrer ao Sebrae. Lá são oferecidos diversos projetos, treinamentos, consultorias e orientações técnicas para quem deseja empreender, já empreende e precisa melhorar ou, até mesmo, para quem necessita repensar seu negócio. “No Sebrae há produtos como o Empreenda Digital e o Projeto ALI (Agente Local de Inovação), que acompanha as empresas durante um período de quatro meses e trabalha um plano de ação para aumento de faturamento e redução de custos”, aconselha Rabello.




Revista Administrador Profissional - ADM PRO
Publicação física com periodicidade trimestral
Conteúdo produzido pelo Departamento de Comunicação do CRA-SP
Todos os direitos reservados