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Uma luz no fim do caos

Sustentar uma empresa em meio à crise causada pela disseminação do novo coronavírus no País se tornou um desafio para micro e pequenos empreendedores, mas vale lembrar que os “erros”  de planejamento revelados no cenário atual podem (e devem) servir como degraus para o sucesso dos negócios no futuro

No centro da crise causada pelo avanço do novo coronavírus no Brasil, micro e pequenos empreendedores, responsáveis por 54% dos empregos formais do País, tentam se movimentar frente ao dilema de aderirem ao isolamento social e colocarem em risco os seus negócios ou se desdobrarem por meio de artifícios como serviços delivery e dispositivos trabalhistas - como prevê a Medida Provisória nº 927, de 23 de março de 2020, que contempla home office, banco de horas, férias coletivas, entre outros - para manterem a saúde financeira de suas empresas. O cenário é tão alarmante para a economia nacional, que o governo federal anunciou, no final do mês de março, uma linha emergencial de R$ 40 bilhões para financiar, por dois meses, a folha de pagamento de cerca de 1,4 milhão de pequenas e médias empresas brasileiras com faturamento anual entre R$ 360 mil a R$ 10 milhões e, assim, manter os empregos de 12,2 milhões de trabalhadores. 

Geraldo Rufino

Apesar de todo o esforço despendido para assegurar a sobrevivência de micros, pequenos e médios negócios, não há dúvidas de que algumas empresas não resistirão à crise. E acredite, isso não é o fim! Pelo menos é o que afirma Geraldo Rufino, presidente do Conselho da JR Diesel, reconhecido por exercitar o seu espírito empreendedor desde pequeno (e por quebrar várias vezes também) e cuja trajetória, partindo do interior de Minas à infância pobre em São Paulo, até chegar à fundação da JR Diesel, a maior recicladora de peças de caminhão do País, é fonte de inspiração para muitos profissionais. 

De acordo com ele, os problemas enfrentados nesse momento devem ser encarados como degraus para uma mudança de fase. “Viver é um risco e empreender é um risco igual. Às vezes precisamos descer um pouco para saltar, então encare esse obstáculo como um degrau que irá ajudá-lo(a) a mudar de fase”, orienta.

O momento é de pensar no outro

Alda Marina, membro do Time Global da Liga de Intraempreendedores do Brasil e cofundadora da Pares Estratégia e Desenvolvimento, acredita que o contexto atual convida todas as pessoas para ressignificarem as suas relações - consigo, com o outro, com o trabalho, com a sociedade. E nesta corresponsabilidade, é possível que cada um, dentro de sua engrenagem, intraempreenda pensando no que é importante para a coletividade. “Em qualquer cenário de caos, como o que estamos vivendo agora, o principal foco é cuidar do ser humano e, nesse sentido, o que a gente precisa é saber como está o sentimento das pessoas, quais as suas prioridades e desafios para conciliar a vida profissional, pessoal e familiar. As pessoas naturalmente inovam nesse contexto, mas por necessidade. Porém, essa inovação também pode ser positiva para o negócio”, define.

        Alda Marina 

Seguindo esta linha, Rufino, que trabalhou a vida inteira com o propósito de mudar a sua vida e ajudar outras pessoas, acrescenta como pilar de negócios de sucesso a capacidade da liderança de “transformar vagões em locomotivas”, para formar times fortes, resistentes, resilientes e unidos, visto que, de acordo com ele, “ninguém faz nada sozinho”. “Empreender é um comportamento e envolve sentimento. Somos emocionais. Somos nós que construímos máquinas, CNPJs, processos, sistemas e não o contrário. É importante que as pessoas resgatem sua essência, seus valores. Que voltem a ter como referência que empreender é cuidar de gente. O empreendedor do futuro, mais forte, mais empoderado, mais bem-sucedido, será aquele que aprendeu a lidar com os diferentes, com as diferenças. Aquele que sabe valorizar a convivência com pessoas. Portanto, seja lá qual for a linha empreendedora, é importante, sempre, empreender em prol da vida”, pede

Superando adversidades

Paixão, dedicação e educação financeira são, segundo Rufino, os ingredientes para a melhora da performance empreendedora. Mas não só isso. Para ele, é preciso seguir um propósito e, em cenários adversos, aprender a lidar com os problemas de planejamento. “Eu cometi muitos erros de planejamento e vaidade, adquirindo, comprando, multiplicando fora da medida, acima da minha possibilidade e ‘tomando’ no mercado financeiro. Hoje, digo que é melhor crescer em um ritmo menor, mas com recursos próprios, seja lá a crise que aparecer, porque você simplesmente consegue o equilíbrio quando não depende de um terceiro”, destaca o empreendedor, que credita o seu sucesso à capacidade ímpar de reconhecer seus erros: “Eu sempre tive muita facilidade de olhar para o poço e reconhecer que quem cavou foi eu. Quando você reconhece o erro, ele fica menor que você. Nesse momento, é preciso acionar a sua válvula da humildade e lembrar que empreender é como andar de bicicleta. Se for preciso, você recoloca as rodinhas para voltar a ter equilíbrio. Não vai tirar os pés, não vai tirar as mãos, focará na direção. Provavelmente, a sua nova trajetória será muito mais segura e produtiva e, com certeza, atingirá o seu objetivo, porque ninguém desaprende a andar de bicicleta.”

Coragem

“Nunca minta para si mesmo que não há um problema. Lidar com um problema logo no início significa mais tempo para corrigir a rota", aconselha Elisabete Fernandes, consultora de Empreendedorismo e Inovação do Sebrae-SP e membro do GEEI - Grupo de Excelência em Empreendedorismo e Inovação do CRA-SP

E, nesse clima de recomeço, vale lembrar que empreendedores, por si só, são pessoas que buscam realizar seus sonhos, muitas vezes em cenários de grandes incertezas. Assim sendo, segundo Elisabete Fernandes, consultora de Empreendedorismo e Inovação do Sebrae-SP e membro do GEEI - Grupo de Excelência em Empreendedorismo e Inovação do CRA-SP, é importante que o profissional encontre “seguidores” que irão acreditar no seu sonho empreendedor e o ajudarão a construir a empresa. “Muito do fracasso dos negócios é atribuído ao não engajamento da equipe na construção da ideia e estruturação de processos, por conta do perfil de liderança do empreendedor. Claro que, para minimizar este conflito, é possível buscar um sócio que complemente esta deficiência. Neste ponto, é importante alinhar valores, objetivos profissionais e pessoais, tanto do sócio, quanto da equipe, a fim de evitar atritos e manter a cultura organizacional alinhada ao DNA da empresa”, pontua. 

Ainda segundo Elisabete, falhar e fracassar não representam, necessariamente, a falência da empresa, especialmente diante da máxima que diz “se você não está falhando, não está tentando o suficiente”, portanto, a dica da especialista para superar adversidade é: “Nunca minta para si mesmo que não há um problema. Lidar com um problema logo no início significa mais tempo para corrigir a rota.” 

Pense nisso!

Carol Stange

Pequenas empresas: 10 passos práticos para sobreviver à crise

Conheça algumas recomendações da especialista em finanças, Carol Stange, para minimizar os impactos nesse momento de turbulência para os negócios:

1. É hora de usar o seu capital de giro. Capital de giro é uma espécie de reserva de emergência da empresa. Eu costumo recomendar que o pequeno empreendedor tenha em torno de seis meses de capital de giro disponível para eventuais emergências no negócio; 

2. Vale a pena rever seu pró-labore. A retirada mensal do pequeno empreendedor precisará sofrer ajustes a fim de manter a saúde financeira da empresa; 

3. Corte seus custos e despesas. Não tem como fugir dessa análise. Agora é a hora de detalhar os custos e despesas e fazer cortes no que puder. Após o mapeamento, negocie taxas bancárias, diminua custos de energia elétrica, água, negocie o aluguel, corte o que puder; 

4. Classifique suas despesas e custos em essenciais e postergáveis (ou negociáveis). As essenciais são aquelas que impactam diretamente o seu negócio, como contas de consumo e internet. As postergáveis ou negociáveis são aquelas que podem ter seu pagamento adiado por algum tempo sem grandes prejuízos imediatos. Todo recurso agora é precioso para fazer o negócio sobreviver à crise, mas lembre-se de que o seu fornecedor está passando pelo mesmo problema que o seu. Assim, busque o ganha-ganha; 

5. Antecipação de recebíveis. Para as despesas que não podem ser postergadas ou negociadas, uma saída é solicitar antecipação dos recebíveis junto ao banco e administradoras de cartão; 

6. Priorize produtos e serviços que tenham mais margem. Interrompa as atividades que geram pouco ou nenhum lucro. Produtos e serviços que não agregam receita nesse momento devem ser retirados do seu portfólio; 

7. Segure os investimentos. Não é hora de comprar maquinário, realizar benfeitorias no imóvel ou contratar pessoas; 

8. Levante capital. Aproveite o momento para fazer descontos e promoções para zerar um eventual estoque parado. O pequeno empreendedor pode avaliar também a venda de veículos e maquinários ociosos; 

9. Fique atento aos programas de incentivo. Há várias medidas de apoio ao pequeno empreendedor sendo discutidas e em aprovação. Use-as; 

10. Pense fora da caixa. Grandes oportunidades surgiram em meio a crises econômicas - sempre houve quem visse além da tempestade e encontrasse soluções inovadoras para todos. É preciso sangue frio, mas o momento de readequar e inovar no seu negócio é agora.

Quer saber mais sobre o assunto? Confira a cobertura da live realizada pelo CRA-SP e que falou sobre Como reinventar o seu pequeno negócio em momentos de crise. 




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Publicação física com periodicidade trimestral
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