Do hype ao flop: como saber o que vem pra ficar? - CRA-SP
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Do hype ao flop: como saber o que vem pra ficar?

Tendências, modismos e termos novos que surgem todos os dias requerem atenção

Ao longo do tempo, discutir sobre tendências tornou-se essencial para o universo corporativo. No entanto, entender o que elas realmente são e, principalmente, se vêm para ficar, não é uma tarefa tão simples. 

As tendências de mercado são as possíveis ações que, ao longo de certo período, apresentam um grande potencial de crescimento e que são desenhadas de acordo com o comportamento, a necessidade da sociedade e a conjuntura de inovações do momento. 

Elas são um reflexo da preocupação que as organizações têm em relação ao futuro e aos obstáculos do presente. “Sua concepção pode vir de um processo exploratório com objetivos claros de pontos de melhorias e de problemas a serem resolvidos, assim como podem surgir de pequenos acidentes de percursos que geram formas diferentes e melhoradas que não foram planejadas”, explica Alexandre Conte, gestor de marketing e professor universitário. 

Para Tamiris Dinkowski, gerente de estratégia e inteligência da ACE Córtex, empresa que atua na área de consultoria para inovação, a Natura é um exemplo nacional de organização que acertou em uma tendência de mercado quando, no passado, apostou em uma uma política de redução do impacto ambiental em suas operações. “Ainda na década de 80 ela já tomava ações de impacto social, o que a fez se tornar referência nesse contexto quando o mundo passou a falar sobre ESG”, expõe. 

A especialista também cita outro exemplo de empresa que conseguiu identificar novas possibilidades por meio das inovações. “A Procter & Gamble visualizou a tendência da biotecnologia aliada à biodiversidade há cerca de cinco anos, antes que o mercado, o que fez com que se destacasse nesse quesito”, acrescenta Tamiris. 

Tamiris Dinkowski

Etapas para se tornar um tendência 

De acordo com a lógica Hype Cycle, criada pela empresa de pesquisa Gartner, toda tendência passa por algumas fases para, de fato, ser considerado algo factual. Nessa metodologia, todos os projetos iniciam por um gatilho de inovação, no qual começa-se a discutir a ideia e os primeiros modelos são testados. 

Em seguida, entra-se na fase de mais riscos, quando a mídia passa a dar atenção à novidade, mesmo que ela não tenha muitos resultados. Assim, investimentos começam a ser feitos por impulso, porém, é exatamente neste momento que acontece a separação das reais tendências e dos modismos. 

A próxima fase é marcada pelas razões por trás de uma tendência ter dado certo e, em contrapartida, um modismo ter errado. “Essa fase é conhecida como ‘vale da desilusão'''''''', na qual os modismos apresentam seus fracassos, perdem investimentos e não se mantêm. Enquanto isso, as tendências reais passam para a próxima fase de crescimento e solidificação, com modelos coerentes e robustos”, conta Tamiris. 

       Alexandre Conte

Macrotendências, tendências e modismos 

No universo da inovação, além das tendências existem outros dois termos importantes: as macrotendências e os modismos. As macrotendências são as antecessoras das tendências e dos modismos. São elas que surgem no primeiro momento e começam a ser observadas de acordo com seu impacto na vida das pessoas de forma global. 

“As macrotendências são aquelas que impactam a vida das pessoas, independentemente de onde elas estão geograficamente (salvo exceções) ou qual área profissional estão inseridas”, revela Tamiris. 

Já os modismos tendem a acabar cedo por não serem capazes de oferecer valores. “A diferença entre uma tendência de mercado e uma moda está no tempo de adoção de uma inovação. Se por um lado a moda é uma curva de rápida adoção, que atinge sua maturidade e permanece nela por pouco tempo antes de cair em declínio, a tendência é uma curva que pode ter uma velocidade mais lenta e gradual. Entretanto, ao atingir seu estágio de maturidade, permanece por muito mais tempo antes de entrar em declínio”, avalia Conte. 

Para Tamiris, um exemplo de modismo pôde ser observado na proposta do metaverso. Ao ser apresentado como uma das maiores revoluções digitais, o ambiente virtual repleto de interações sociais passou a ganhar os olhos do mundo. “Muitas empresas se sentiram pressionadas a investir, pois, afinal de contas, todos estavam falando sobre aquela tecnologia”, lembra. 

Na construção do metaverso, uma série de fatores contribuíram para a ideia receber apoio e investimentos de imediato. No entanto, em um curto período, a novidade começou a perder espaço, uma vez que, na prática, se deparou com inúmeros obstáculos para conectar as pessoas. 

Comportamentos

Além dos conceitos mais amplos das tendências, vira e mexe o mercado se depara com uma nova expressão ou sigla, que surge para conceituar sensações, fatos e atitudes. “Sua função é a de impactar, sensibilizar e inspirar mudanças de pensamento (mindset) e de ações. Possuem um papel importante ao catequizar o mercado a respeito das mudanças constantes que estamos vivendo, de forma cada vez mais acelerada, e despertar a preocupação de gestores para priorizarem estratégias e ações que protejam a organização e ofereçam vantagens competitivas”, explica o professor Conte. 

Ainda que alguns termos estejam sendo visivelmente utilizados pelas pessoas em certos espaços, muitos deles possuem chances de realmente se tornarem tendências, enquanto outros são apenas modismos. 

Diante de tantas coisas novas, o importante é lembrar que tendências não surgem da noite para o dia. Elas dependem de muitos fatores instáveis para, de fato, serem consideradas um potencial de inovação pela sociedade.“É totalmente impossível prever o que está por vir, no entanto, o futuro não chega simplesmente e acontece, ele é construído dia a dia por pessoas, empresas e governos” conclui Tamiris. 

Sopa de Letrinhas  

VUCA - Acrônimo (em inglês) para descrever algumas características  do cenário atual: Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade. Inicialmente, o termo foi utilizado no ambiente militar para explicar o mundo pós Guerra Fria, porém, no momento ele é fortemente incorporado no dia a dia das organizações. Para as empresas, a utilização acontece para expressar a dificuldade de ter previsibilidade nos planejamentos.

BANI - Semelhante ao anterior, o termo BANI também é um acrônimo de palavras traduzidas do inglês: frágil, ansioso, não-linear e incompreensível. O conceito foi criado pelo antropólogo Jamais Cascio e definido como “Enfrentando a era do caos”, em tradução livre. A definição busca descrever uma realidade composta por situações em que as condições não são simplesmente instáveis, mas sim caóticas. Dado os recentes acontecimentos, a sigla surge como uma evolução do mundo VUCA. 

FOMO - Mais um acrônimo para Fear of Missing Out, ou medo de ficar de fora, na tradução em português. Define uma síndrome caracterizada pela necessidade constante de querer saber o que as outras pessoas estão fazendo. Pode estar associada à ansiedade, a qual impacta fortemente na vida das pessoas em diversos setores, como no trabalho. Alguns dos sintomas podem ser o uso excessivo do celular, a dificuldade de viver o momento presente, a espera constante por novas notificações na internet, entre outros. 

JOMO - Termo oposto ao FOMO. É a abreviação de Joy of Missing Out, ou sensação de estar alegre em perder algo. A utilização acontece cada vez mais pelas pessoas que buscam se conectar com o agora e ir contra as imposições urgentes da sociedade. Há uma transformação do raciocínio de desconexão externa para a reconexão interna. Assim, JOMO além de explicar um sentimento, é também uma atitude. 

HYPE - Trata-se de um termo usado para uma novidade que está em alta nos ambientes, em especial na internet. Pode estar ligado à tecnologia, produtos, estilos e ideias, para enfatizá-los devido aos resultados positivos. Hype é o interessante do momento, no entanto, quando chega ao estágio mais alto de popularidade, pode se transformar em “hypado”, o que faz com que as pessoas não tenham mais tanto interesse, por todos estarem consumindo a proposta e não encontrarem diferenciais. 

FLOP - Como tudo o que ganha os olhos das pessoas pode perder a atratividade, existe também um termo para descrever essa situação: flop. É utilizado para caracterizar algo que não deu certo por muito tempo e fracassou. No Brasil, a palavra passou a ser constantemente usada e apresentou variações a ponto de se tornar o verbo “flopar”.  




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Publicação física com periodicidade trimestral
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