Startups unicórnios: conheça o conceito e saiba como atrair investidores - CRA-SP
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Startups unicórnios: conheça o conceito e saiba como atrair investidores

Especialistas contam os diferenciais das startups que alcançaram um patamar bilionário

Tão raras e difíceis de encontrar quanto a figura mítica que as nomeia, as startups unicórnios são assim conhecidas em alusão a surrealidade de seus negócios, que cresceram aceleradamente, revolucionaram o modelo de mercado e alcançaram um valuation (valor de mercado) bilionário.

Embora atingir esse patamar seja o sonho de muitos empreendedores, poucos negócios conseguem entrar nesse seleto grupo e se tornar um unicórnio. Para explicar a diferença dessas startups, como chamar a atenção dos investidores e os fatores que tornam o Brasil favorável para o desenvolvimento desse empreendimento, a quarta reportagem da série Especial Startups conta com especialistas que vão esclarecer estas e outras questões e, ainda, comentar sobre a importância do administrador nas startups unicórnios. Continue a leitura e confira:

  • O que são unicórnios?

  • Por que nem todas as startups se tornam unicórnios?

  • Quais são os unicórnios mais valiosos do Brasil?

  • Brasil: celeiro de unicórnios

  • Depois dos unicórnios, os decacórnios

  • Crise nas startups: novo olhar dos investidores

  • O papel da Administração nas startups unicórnios

O que são unicórnios?

O conceito de unicórnio é utilizado em todo o mundo e faz referência às startups que têm, antes mesmo de abrir seu capital na Bolsa de Valores, um valuation (valor de mercado) avaliado em mais de US$ 1 bilhão. 

O termo foi criado em 2013 pela investidora americana Aileen Lee, fundadora da Cowboy Ventures, e citado pela primeira vez no artigo Welcome to the unicorn club: learning from billion-dollar startups (em português - Bem-vindos ao clube dos unicórnios: aprendendo com startups de bilhões de dólares).

A expressão foi designada para empresas com produtos, soluções ou serviços baseados numa plataforma tecnológica e um crescimento altamente acelerado. “Unicórnio normalmente está atrelado a altas rodadas de investimentos. O foco está no crescimento e não necessariamente na rentabilidade. Normalmente essas startups são cashburners (queimadores de caixa) e demoram anos para serem rentáveis”, explica Nelson Azevedo, conselheiro e executivo c-level.


   Nelson Azevedo

Por que nem todas as startups se tornam unicórnios?

Para entender os fatores que levam algumas startups ao patamar de unicórnio é válido considerar alguns pontos. Na opinião de Azevedo, um dos motivos se deve ao mercado em que a startup está inserida. Um exemplo são as edtechs (startups de educação), que estão entre os três maiores setores de investimento, mas têm um valor de mercado menor do que as fintechs (startups de finanças) por atingirem um público mais restrito.  

“O mercado é menor e, muitas vezes, as soluções são menos disruptivas. Algumas startups não viram um unicórnio, embora a entrega de resultados financeiros seja até melhor do que os unicórnios. Muitas têm o seu crescimento sustentável, enquanto um unicórnio que está na fase de growth (estágio de maturidade) está deficitário e ainda é um cashburner”, esclarece o especialista.

Já o professor do curso de Administração da ESPM de São Paulo, Fernando Domingues, pontua duas outras razões. A primeira delas é o que se pode chamar de ‘tamanho do problema’. “Para ser um unicórnio, uma startup precisa ter uma solução capaz de resolver o problema de uma base de consumidores (modelo B2C) ou de um grupo de clientes (modelo B2B) muito grande e ser capaz de pagar por essa solução”, explica o docente. 

O segundo motivo está relacionado à escalabilidade da solução, pois há muitas startups que têm a solução, mas não conseguem fazê-la crescer na mesma velocidade da demanda que possuem. “A solução ou modelo de negócio se torna o freio de mão que impede a startup de se tornar um unicórnio”, conta Domingues.


Quais são os unicórnios mais valiosos do Brasil?

Em razão da crise que permeia o universo das startups, alguns unicórnios deixaram esse posto por conta da aversão ao risco no mercado de capitais e, com isso, alguns valuations foram reduzidos. Contudo, segundo dados da plataforma de inovação Distrito, até o mês de maio deste ano, a lista brasileira contava com 22 unicórnios. São eles: 


A primeira startup que alcançou o status de unicórnio no Brasil foi a 99 (de aplicativo de transportes e táxi), em 2018. Atualmente, o Nubank é o unicórnio mais valioso, com um valuation de US$ 18 bilhões. 

Dos 22 unicórnios que existem no país, 10 surgiram no último ano. “Em 2011, o investimento anual no mercado de startups foi de US$ 145 milhões. Dez anos depois, esse investimento foi da ordem de US$ 10 bilhões, ou seja, 70 vezes maior que 2011”, avalia Azevedo.

Brasil: celeiro de unicórnios

Embora tenha entrado na lista de unicórnios há apenas quatro anos, o Brasil vem sendo considerado um celeiro de startups bilionárias, afinal, já representa 60% dos unicórnios latino-americanos e, em 2021, deteve 70% do total de investimentos feitos em startups na América Latina. 

Dentre os motivos que tornam o cenário brasileiro favorável para o desenvolvimento desse tipo de negócio pode-se citar as dimensões continentais e o fato de ser o sexto país mais populoso do mundo, além do sétimo maior mercado consumidor do planeta, ou seja, clientes não faltam. “Além disso, temos um país com problemas estruturais, o que gera nos consumidores e empresas um apetite enorme por soluções mais eficientes, capazes de tornar a vida mais fácil”, opina o docente da ESPM.

Para Azevedo, as razões que justificam o crescimento acelerado desse modelo de negócio são o amadurecimento do mercado, o volume de consumidores potenciais e a representatividade do Brasil frente à América Latina, que ganha cada vez mais relevância no ecossistema latino-americano de startups.

O conselheiro diz, ainda, que o acesso à tecnologia mais barata despertou um novo olhar para o empreendedorismo. Se antes, por exemplo, uma pessoa que terminava a faculdade de Ciências da Computação sonhava em trabalhar na IBM, Dell ou Apple, hoje, ela olha o mercado e já pensa em montar seu próprio negócio. 

“Tem muito mais gente nesse mercado e, com mais empreendedores, começa a ter também mais financiadores. Construímos ferramentas mais sofisticadas de acompanhamento, de avaliação e a própria governança corporativa auxilia nisso, pois ajuda o empreendedor não só na construção do seu modelo de negócio, mas também permite que ele converse e tenha um fluxo mais adequado de seu investidor. É por isso que esse mercado está crescendo sobremaneira”, comenta Azevedo.

          Fernando Rodrigues

Depois dos unicórnios, os decacórnios

Com o aumento no volume de investimentos em negócios escaláveis, inovadores e tecnológicos, as startups receberam mais aportes financeiros, multiplicaram seu valor de mercado e passaram a integrar um grupo ainda mais seleto: o dos decacórnios, startups com valuation superior a US$ 10 bilhões, isto é, 10 vezes mais valiosas que os unicórnios.

No Brasil, o decacórnio mais conhecido é o Nubank e Azevedo explica os motivos dele ter chegado a esse posto. “O Nubank é uma empresa fundada em 2013, que passou a ter um valuation superior a um banco centenário, como o Banco do Brasil. Ele ofereceu uma solução completamente inovadora e escalável à questão da bancarização e do acesso a serviços financeiros, numa plataforma digital. Num país como o nosso, que era desbancarizado e desfavorecia as pessoas com menos renda, ele iniciou um novo mercado, o que para o investidor tem um valuation maior”, contextualiza.

Crise nas startups: novo olhar dos investidores

A turbulência no cenário global que atingiu as startups tem dado uma “peneirada”, em termos qualitativos, nos negócios que não tinham seus fundamentos econômicos bem estruturados. Na opinião do executivo c-level, momentos de crises são grandes depuradores de modelos ineficientes e obsoletos.

“As startups tem que ter um propósito para solucionar uma dor do mundo real, ou seja, fazer com que a vida das pessoas melhore cada vez mais, além de ter um olhar para o impacto, para o ESG. Essas são as empresas que voltarão com o valuation adequado no próximo ano, enquanto muitas das que não têm essa percepção não conseguirão se recuperar”, comenta Azevedo.

A crise levou os investidores a repensarem alguns fundamentos e a olharem de maneira um pouco diferente para o investimento nas startups, o que não quer dizer que haja falta de dinheiro. Pelo contrário, há muito fluxo de capital para investir no ecossistema de startups no Brasil, mas agora é necessário que essas empresas tenham um mínimo de afinidade com o tema ESG (do inglês environmental, social and governance). 

“Os investidores estão fazendo esse ajuste fino e os negócios com maior probabilidade de entregar melhores resultados são aqueles que, comprovadamente, têm foco no ESG. Não é só o investidor que exige isso, mas os consumidores também. E o consumidor é rei. Ele está disposto a pagar a mais para uma empresa que não vai poluir o meio ambiente e que trata as questões de diversidade, inclusão e equidade de maneira adequada. As startups que olham hoje para essa temática serão as grandes vencedoras amanhã, com muito mais chances de se tornarem unicórnios sustentáveis, que entregam, devolvem e agregam valor pros seus investidores e também pra sociedade”, explica o executivo. 

O papel da Administração nas startups unicórnios

A Administração não apenas colabora com a construção de startups que alcançam o patamar de unicórnios, como é central nesse processo, afinal, a competência de gerir pessoas e recursos é uma das chaves do sucesso de uma startup. “Sem isso, a maioria das empresas morre antes mesmo de atingir o seu potencial mínimo. Mesmo que não tenha fundadores com conhecimento prévio em Administração, toda startup desenvolve essas competências ao longo dos primeiros anos do negócio para manter-se funcionando e crescendo”, afirma o professor da ESPM.

Além disso, a visão holística do negócio proporcionada pela Administração auxilia os fundadores a entender e gerir a empresa. Sem esse conhecimento, o processo se torna uma rotina de tentativa e erro, que pode custar caro. “Não é à toa que sempre ouvimos sobre empresas que quebram por problemas de gestão de pessoas ou financeira. Ter um administrador no quadro de fundadores, sem dúvida, pode ser um diferencial para o negócio e isso é reconhecido pelos investidores também”, acrescenta o docente.

Azevedo complementa dizendo que ter boas ideias é um bom começo, mas não é tudo. Para não quebrar, a startup precisa ter planejamento estratégico, financeiro, de mecanismos de transparência junto aos investidores e de governança corporativa, que tem o papel de freios, contrapesos e supervisão.

“Cada vez mais se torna necessário que esses empreendedores, que não são administradores, se cerquem de equipes preparadas e adequadas para suportar esses crescimentos acelerados. Se o empreendedor não tem aquele set skills (conjunto de competências e habilidades), ele precisa se cercar de quem tem. A boa ideia deve ter uma plataforma que a suporte, para que ela cresça de maneira adequada e sustentável por um bom tempo”, considera o conselheiro.

Azevedo, que também é administrador, diz, ainda, que a Administração tem que ser colocada como uma das atividades estratégicas que o empreendedor deve investir. “Não basta apenas falar: ‘preciso contratar mais programadores, desenvolvedores, cientistas da computação’. Se não houver gestores preparados nessas diferentes frentes, provavelmente haverá mais dificuldades para crescer, atrair investimentos e entregar aos clientes aquilo que prometeu”, conclui o executivo.




Revista Administrador Profissional - ADM PRO
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