Inovação aberta: entenda o que é e quais as vantagens para as empresas - CRA-SP
Faça download do App |
Inovação aberta: entenda o que é e quais as vantagens para as empresas

Saiba como as organizações buscam fora do seu ambiente de desenvolvimento novas fontes de ideias

Durante anos, o conceito de inovação usado nas organizações foi pensado em uma estrutura vertical, ou seja, todo processo de ideias, pesquisas e desenvolvimento de produtos ou serviços eram feitos exclusivamente por colaboradores e recursos internos, garantindo, assim, que a propriedade intelectual daquilo que fosse criado ficasse sob o controle da empresa. 

A questão é que nesse modelo tradicional de inovação, por maior que seja a empresa ou o tamanho da equipe qualificada, dificilmente a organização irá deter todos os conhecimentos e competências necessários para viabilizar a complexidade dos processos. Além disso, essa estrutura acaba por elevar os custos de produção e desenvolvimento. 

Por este motivo, o conceito de Open Innovation (inovação aberta, em português) criado por Henry Chesbrough, ex-professor da Harvard Business School e atualmente docente na Universidade da Califórnia - Berkeley, nos Estados Unidos, causou uma grande mudança de mindset nos empreendedores, pois sua proposta é a de justamente abrir o conceito de inovação e, a partir de parcerias externas com diferentes players, indivíduos e órgãos públicos, encontrar novas formas de manter-se relevante nesse mercado cada vez mais competitivo.

Para explicar esse modo descentralizado e disruptivo de inovar, a segunda matéria da série Especial Startups traz a opinião de especialistas sobre as vantagens da inovação aberta para as grandes empresas e, também, para as startups; as formas de colocá-la em prática; e, claro, como os profissionais da Administração podem participar e otimizar esse processo. Confira:

  • O que é inovação aberta?

  • Inovação fechada x inovação aberta

  • Benefícios para grandes empresas e startups

  • Inovação aberta no Brasil

  • Como os profissionais da Administração implementam a inovação aberta

O que é inovação aberta?

De acordo com o criador do conceito e autor do livro Open Innovation: The New Imperative for Creating and Profiting from Technology (Inovação Aberta: Como criar e lucrar com a tecnologia), lançado em 2003, “inovação aberta é o uso de fluxos de conhecimento internos e externos para acelerar a inovação interna e expandir os mercados para o uso externo de inovação, respectivamente”. 

A ideia principal desse modelo é buscar no ecossistema da empresa, isto é, fora do seu ambiente de desenvolvimento de produto e inovação, fontes de novas ideias. Para isso, é recomendável usar o conhecimento interno de funcionários que não participam do processo de P&D - Pesquisa & Desenvolvimento e, principalmente, fontes externas, como fornecedores, clientes ou startups, que favoreçam a inovação na organização, de modo que ela possa lançar novos produtos e serviços, atendendo aos atuais ou novos mercados em que decida competir. 

  Vitor Pires

“É uma abordagem de inovação distribuída entre os stakeholders de forma mais participativa e descentralizada. A empresa pode tirar proveito do conhecimento que é produzido externamente por esses agentes, utilizando-os tanto no desenvolvimento de novos produtos, quanto na transformação cultural e na melhoria de processos”, esclarece Vitor Pires, professor do curso de Administração da ESPM Rio.

Para o Adm. Ricardo Pelegrini, CEO & co-founder da Quantum4 Innovation Solutions e ex-presidente da IBM Brasil, a inovação aberta veio para mostrar às empresas que não é essencial ter todos os recursos e muito menos conhecer de tudo, e que é possível parceirizar com clientes, concorrentes, startups, centros de pesquisas, entre outros. “Há uma diversidade muito grande de entidades com as quais as empresas podem cocriar”, explica.

Embora muitos acreditem que a inovação aberta está associada apenas às startups, vale esclarecer que o conceito existe há muito mais tempo. Para se ter uma ideia, há exemplos desse modelo de mais de 30 anos, época em que nem se falava em startup.

“No início da década de 1990, a IBM fez uma parceria com dois dos seus rivais, Apple e Motorola, que na época eram competidores na venda de produtos no mercado. Na ocasião, foi desenvolvido um projeto de pesquisa de um chip novo, conhecido como PowerPC. As três empresas investiram em conjunto e os PCs da Apple e da IBM e o celular da Motorola foram equipados com esse novo chip. Nessa parceria de inovação, as empresas fizeram coparticipação, compartilharam o risco da inovação e investiram uma fração do que fariam sozinhas. Depois disso, se enfrentaram para ganhar seus mercados”, conta Pelegrini. 

Inovação fechada x inovação aberta

Na inovação fechada, a empresa tem pleno controle de todas as etapas do processo, desde a ideia até a chegada do produto no mercado. Nesse formato, a organização consegue manter o sigilo de sua inovação até o seu lançamento. “No passado, muitas empresas decidiam fazer tudo dentro de ‘casa’, para terem o controle de tudo, inclusive, do capital e da propriedade intelectual”, revela o CEO.

Nesse modelo, a falta de recursos externos resulta em lentidão no processo de inovação e na necessidade de criar muitas equipes, aumentando ainda mais os custos de desenvolvimento. Apesar das desvantagens, Pelegrini chama a atenção para as situações em que é importante avaliar se vale a pena ou não compartilhar a criação, principalmente quando se trata de algo exclusivo no mercado. 

“Em alguns casos, você pode criar algo que seja um diferencial competitivo, inédito no mercado e, por isso, não querer abrir para ninguém. Se é algo tipo ‘jóia da coroa’, às vezes é melhor não compartilhar. No entanto, você assume o risco e o investimento sozinho. Pelo referencial competitivo é preciso pensar se vale abrir, até pela confidencialidade. Existe uma série de implicações sobre como trabalhar essa parte de relação aberta, afinal, quanto mais empresas, centros de pesquisas ou startups você colocar, maior a possibilidade da informação vazar. É importante ter tudo muito bem estruturado para não correr esse risco”, orienta Pelegrini.

Segundo Chesbrough, o modelo autossuficiente da inovação fechada vem perdendo espaço nas organizações. “Em um mundo de conhecimento amplamente distribuído, as empresas não podem se dar ao luxo de confiar inteiramente em suas próprias pesquisas, mas devem comprar ou licenciar processos ou invenções (ou seja, patentes) de outras empresas. Além disso, as invenções internas, que não estão sendo usadas nos negócios de uma empresa, devem ser levadas para fora (por meio de licenciamento, joint venturesspin-offs, por exemplo)”, sugere.

A inovação aberta, por sua vez, quebra esse paradigma e revoluciona as relações corporativas. Na visão do criador do conceito, “para as empresas, a inovação aberta é uma forma mais lucrativa de inovar, porque pode reduzir custos, acelerar o tempo de entrada no mercado, aumentar a diferenciação e criar novos fluxos de receita para a empresa”, justifica Chesbrough.

                                                   Adm. Ricardo Pelegrini

Benefícios para grandes empresas e startups

Dentre as vantagens da inovação aberta para as empresas, Pelegrini destaca o valor agregado que a organização pode ter por meio das parcerias, que virão com visão e competências diferentes para complementar todo o processo. “O empreendedor pode ter um negócio industrial, por exemplo, e ver em uma empresa de desenvolvimento algum hardware específico, digamos de IoT (internet das coisas), que vai ajudar na linha de produção da fábrica. Nesse caso, ele pode desenvolver o produto em conjunto com a empresa especializada para atender essa ‘dor’ e melhorar a efetividade da produção e da cadeia logística, além do monitoramento do produto. O empreendedor une, então, o desafio com alguém que tenha competência e, juntos, fazem o processo de inovação aberta e cocriação de soluções”, exemplifica o co-founder.

De acordo com Pires, da ESPM, com a inovação aberta o trabalho desenvolvido em parceria tende a ter menos erros, pois há mais pessoas que podem identificar potenciais problemas, melhorando o nível de conferência, testes e ajustes. Ele também reforça que neste tipo de cooperação a criatividade é estimulada, pois há profissionais com experiências, histórias e formações diferentes, resultando em um troca muito interessante. 

E, embora a inovação aberta não aconteça exclusivamente por meio das startups, é importante dizer que elas também obtêm enormes ganhos com este modelo de trabalho. “As principais vantagens da inovação aberta para as startups se concentram na capacidade de desenvolver network com profissionais, gestores, empresas de portes e negócios diferentes, o que pode gerar futuras parcerias no desenvolvimento de projetos colaborativos e favorecer o desenvolvimento de novas habilidades, conhecimentos e competências. Existem múltiplas perspectivas de ganhos para as startups que participam de um processo de inovação aberta junto de outra organização. No fim, as duas partes ganham”, reforça o professor da ESPM. 

Inovação aberta no Brasil

Muitas empresas já atuam nesse modelo coparticipativo no País. Parte delas cocriam com sistemas desenvolvidos por centros de pesquisa. “Temos a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII), uma organização social criada pela iniciativa pública, que coloca à disposição das empresas mais de 70 centros de pesquisa para ajudar a cocriar em cima de suas necessidades e desafios. É uma forma que está sendo muito utilizada por empresas como a Claro, a MedSênior (empresa de plano de saúde), e o Grupo Buaiz (grupo empresarial do Espírito Santo), que estão cocriando por meio de incentivos de pesquisa da EMBRAPII”, conta Pelegrini.

Além dos centros de pesquisa, as empresas também têm buscado soluções para os seus negócios em startups. Geralmente, as organizações se abrem para ouvir o que existe no mercado, vêem se a solução faz faz sentido ou, ainda, analisam a customização dela para um problema específico. Um exemplo é o Grupo Elfa, fornecedor de produtos, soluções logísticas e serviços médico-hospitalares, que conta com startups no desenvolvimento do trabalho.

“No passado, a empresa colocaria seu time de TI para desenvolver as soluções. Agora, além de manter sua equipe interna, ela também olha para as startups e os centros de pesquisa, com o propósito de agilizar o processo de inovação e mitigar o risco e o investimento", explica Pelegrini. 

Como os profissionais da Administração implementam a inovação aberta

Os profissionais da Administração que atuam no papel de gestão, seja na função de CEO, CFO - Chief Financial Officer (responsável pelas atividades financeiras da empresa), gerente  ou qualquer outra posição, precisam considerar que a inovação aberta está disponível e analisar se ela é ou não aplicável, em cada uma de suas necessidades.

“Dependendo do tipo de demanda, o administrador deve compreender que a inovação pode vir de fora e que é possível utilizá-la como uma ferramenta muito útil para acelerar a solução, além de minimizar o risco e o investimento. Há várias áreas como a de TI, finanças e logística, por exemplo, que podem trabalhar em cocriação tranquilamente. Mas, para isso, o administrador precisa entender que existe essa possibilidade”, ressalta Pelegrini.

Quanto às estratégias para implementar a inovação aberta, o docente da ESPM sugere que o administrador foque em quatro grandes questões:

  1. O que a empresa deseja alcançar com a inovação aberta? (objetivos e impactos positivos para a organização); 

  2. Quais objetivos corporativos que a inovação aberta atende? (resultados que pode oferecer aos negócios);

  3. Como implementar a inovação aberta na minha empresa? (troca de aprendizado e busca por conhecimento e tecnologias externas);

  4. Quais oportunidades usaria em termos de novos produtos, processos ou serviços? (como utilizar a tecnologia e conhecimento para desenvolver os negócios).

Além de focar nessas questões, Pires menciona, também, outros pontos importantes em relação à implementação da inovação aberta. São eles:

  • criar uma cultura de inovação para estimular os processos, além dos que são gerados dentro do centro de P&D, para que outros funcionários, que não estejam vinculados à área de inovação, possam contribuir com sugestões;

  • criar conexão e relacionamento com o ecossistema de startups e com empresas, seja do mesmo ou de outro setor. “As startups são fontes de inovação, ideias e desenvolvimento tecnológico e podem somar na criação de novas tecnologias”, afirma o docente;

  • capacitar a empresa para transformar esse aprendizado e parceria em novos produtos ou serviços e, com isso, torná-la mais competitiva.

Ainda segundo o docente da ESPM, o gestor pode utilizar alguns caminhos para implantar a inovação aberta em sua organização, como:

  • Crowdsourcing

Forma de buscar e desenvolver times de projeto com funcionários da empresa e, também, com colaboradores e profissionais externos que possam formar essa equipe e, por fim, gerar a cocriação. 

Desafios que envolvem programadores, gerentes de projetos e outros profissionais para o desenvolvimento de soluções.

  • Eventos e programas com startups

Um exemplo é o Pitch Day, dinâmica que reúne startups e empresas. Nele, os empreendedores podem apresentar suas ideias usando como base o pitch, uma forma rápida de apresentar um projeto, com duração de 3 a 5 minutos. 




Revista Administrador Profissional - ADM PRO
Publicação física com periodicidade trimestral
Conteúdo produzido pelo Departamento de Comunicação do CRA-SP
Todos os direitos reservados