Investimentos em startups: como atrair e qual a hora certa para cada um - CRA-SP
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Investimentos em startups: como atrair e qual a hora certa para cada um

Conheça os principais tipos de investimentos e saiba em qual fase do negócio os diversos tipos de investidores atuam

Para tirar uma ideia inovadora do papel, as startups buscam recursos nos diferentes tipos de rodadas de investimentos, a fim de acelerar o crescimento do seu negócio. As rodadas variam conforme o grau de maturidade em que a organização se encontra e, nelas, os empreendedores apresentam seus projetos para os investidores que, mediante o interesse pela ideia, oferecem capital com a condição de participação acionária nos ganhos da empresa.

Além do aporte financeiro, o investidor participa também da gestão da startup, orientando o CEO nas tomadas de decisões. No entanto, antes de buscar investimento, o empreendedor deve estar atento a alguns pontos, a fim de gerar confiança e impressionar os potenciais investidores.

E é justamente para orientar sobre como conseguir recursos para alavancar o projeto, que a terceira reportagem da série Especial Startups traz os principais tipos de investimentos para este tipo de negócio e, ainda, sugestões de como apresentar o pitch deck (resumo da startup) aos investidores. Confira:

  • Principais tipos de investimentos em startups

  • Como atrair investidores?

  • Como encontrar os investidores certos para o negócio?

  • Crise nas startups

  • Administradores no mercado de investimentos

Principais tipos de investimentos em startups

Ao conhecerem os diferentes investimentos disponíveis para as startups, os empreendedores têm mais chances de encontrar o mais adequado para o seu negócio. São eles:

FFF (Families, Friends, Fools)

É uma forma de investimento que geralmente ocorre no estágio embrionário da startup. Os primeiros aportes são feitos por amigos, parentes e “tolos” (pessoas que investem na ideia, sem analisar o investimento). “São investidores que pertencem ao círculo de convivência do empreendedor”, esclarece a coordenadora do curso de Administração da ESPM de São Paulo, Frederike Mette.

Crowdfunding

Trata-se de um investimento coletivo, uma versão aprimorada da “vaquinha”. Nele, o empreendedor divulga seu projeto em uma plataforma digital em busca de investidores interessados. “Por meio do crowdfunding, os investidores recebem contrapartidas, como protótipo e brindes, mas não se tornam sócios da startup”, explica a coordenadora da ESPM.

Investimento anjo

Investidores anjo são pessoas físicas ou jurídicas, via de regra com vasta experiência no mercado, que aportam recursos em projetos com alto potencial de crescimento. “É uma startup ‘PowerPoint’, que não tem nada além de uma ideia. O volume de investimento varia entre R$ 100 mil e R$ 1 milhão. A empresa vai usar esse capital para ter pelo menos um produto consolidado, com um ou dois clientes. Na fase anjo, o empreendedor não precisa ter uma empresa, pois no começo, geralmente, são dois ou três colaboradores. Mas até o final dessa fase já vão ser umas oito pessoas na equipe”, explica Sandro Valeri, sócio-fundador e managing partner da Ahead Ventures, gestora de Corporate Venture Capital (CVC) no Brasil.

Investimento semente (seed)

Passada a fase anjo, Valeri conta que o empreendedor capta recursos em investimento semente (seed), com o propósito de virar uma empresa. Ela até tem um CNPJ, mas ainda é bem pequena. Com o capital, a startup vai fazer o product market fit para validar o desempenho do produto dentro de um determinado mercado. 

“Faz o MVP (Minimum Viable Product - ou Produto Mínimo Viável) e põe o produto para vender. No entanto, nessa fase, a empresa tem que conseguir vários clientes. E a equipe, que antes tinha quase 10 colaboradores, agora passa a ter uns 35 profissionais, com uma equipe de tecnologia forte e o início de uma área de marketing. O investimento nesta etapa, dependendo do tipo de startup, varia de R$ 1 milhão a R$ 50 milhões”, conta o especialista. 

Subvenções

Outra forma de conseguir recursos é através de subvenções, modalidade de apoio financeiro oferecido pelo poder público. A participação ocorre por meio de chamadas públicas e os critérios são publicados em editais. “Em geral, os recursos são aplicados diretamente nas empresas sem a necessidade de reembolso, visando fomentar a inovação e a competitividade”, comenta Frederike.

Fundos de Venture Capital

Os fundos de Venture Capital (VC), que contam com investidores das Séries A e B, são voltados aos investimentos de risco, com grande potencial de retorno, como exemplo, as startups inovadoras, que descobrem ótimas oportunidades no mercado, mas carecem de recursos para explorá-las. 

  Frederike Mette

“Além desses investimentos, pode-se pensar nas incubadoras e aceleradoras como opção. As incubadoras oferecem não só recursos financeiros, mas também infraestrutura e consultoria para micro e pequenas empresas em estágio inicial. No Brasil, a maioria das incubadoras está ligada a universidades ou programas governamentais e busca atender planejamentos regionais”, complementa a coordenadora da ESPM.

As aceleradoras também buscam startups com potencial de crescimento rápido. Elas são formadas por empreendedores e investidores privados que oferecem, além de capital, treinamento e mentoria. “O objetivo, como o nome sugere, é acelerar o crescimento da empresa em curto prazo. Elas trabalham com projetos de prazos menores que os das incubadoras. As incubadoras focam no plano de negócio, enquanto as aceleradoras focam no modelo de negócio”, salienta Frederike.

O sócio-fundador da Ahead Ventures explica que no momento em que uma incubadora entra para ajudar uma startup na fase anjo, ela colabora no ponto de vista tecnológico e no desenvolvimento do negócio. “Geralmente, em termos de tempo, dependendo da tecnologia, a startup fica uns dois anos na fase anjo e, da fase seed em diante, cada etapa leva normalmente 18 meses”, norteia Valeri.

Série A

A Série A é a primeira rodada de investimento de uma grande empresa, que vai se lançar no mercado. Nessa fase, ela já criou um produto, comprovou que os clientes querem comprá-lo e, por este motivo, o investidor busca recursos para aprimorá-lo e expandir as vendas. “Ele vai investir em marketing, criar uma equipe de vendas e, nessa etapa, a startup tem que provar que é capaz de crescer”, revela Valeri.

Série B

A Série B, conhecida como early stage (estágio inicial) é a expansão para um novo mercado ou, até mesmo, a criação de um novo produto. Uma startup na Série B já está entendendo o mercado e até o final dessa série seu faturamento é por volta de R$ 30 milhões por ano. 

Série C

Na Série C, também conhecida como late stage (empresas que têm comportamento mais parecido com as de capital aberto), as startups se preparam para fazer abertura na bolsa. Os investidores dessa fase são os fundos de Venture Capital, além de fundos de Private Equity (Corporate Venture Capital - CVC), voltados às empresas mais sólidas, com investimentos que chegam a centenas de milhões de reais. “Da Série C em diante são aquelas rodadas que impressionam a todos. Os unicórnios costumam aparecer a partir desta série”, conta Valeri.

Como atrair investidores?

Ao decidir pela busca de investimentos, a startup precisa, primeiramente, ter total domínio do projeto que irá apresentar, além de um plano de negócio de longo prazo. Outro ponto é ter uma equipe multidisciplinar, assim, o investidor consegue “enxergar” que o capital humano é capaz de tirar as ideias do papel.

“Não basta ter uma excelente ideia. É preciso se destacar e impressionar os investidores para obter êxito na captação de recursos para sua startup. Uma peça-chave nesse processo é o Pitch Deck (momento em que o empreendedor apresenta e vende seu projeto aos investidores). A apresentação deve ser resumida e concisa e nela deve conter: comunicação assertiva, bom roteiro, design agradável e criatividade”, orienta Frederike.

Além de um projeto bem estruturado, para que a captação de recursos tenha sucesso, a empresa precisa ter sua gestão financeira e contábil organizadas, fazer projeções financeiras e estar preparada para o due diligence (processo que envolve o estudo, a análise e a avaliação detalhada de informações de uma determinada sociedade empresária).

                                                               Sandro Valeri

Valeri, que é um investidor CVC, conta que um dos pontos mais importantes que atrai um investidor é a experiência e competência do empreendedor. Ele diz que é muito comum associar startups a empreendedores mais jovens, mas, na verdade, não é bem assim. Na média mundial, o fundador tem por volta de 45 anos. “Garotos como Mark Zuckerberg e Bill Gates existem, mas são exceção. É importante ter a responsabilidade de tocar um negócio e, para isso, o conhecimento é fundamental. Então precisa estudar, fazer um mestrado, doutorado, PhD e, no trabalho, aprender bastante, antes de vir para o mercado e, assim, render bem. Do contrário, acaba sendo frustrante, porque a startup não vinga”, elucida.

 Antes de realizar qualquer aporte, Valeri faz questão de conhecer bem os empreendedores e, além do fator conhecimento, ele também avalia a capacidade de flexibilidade das empresas. “É muito mais interessante saber o que o time de fundadores vai fazer se o mercado mudar. Eles vão bater cabeça ou seguir em frente? A gente procura quem segue em frente”, diz.

Como encontrar os investidores certos para o negócio?

De acordo com a coordenadora da ESPM, os empreendedores devem ter em mente qual o objetivo e o destino da captação de recursos para o negócio. “O investidor certo depende, exclusivamente, do empreendedor compreender sua operação e o que busca nesse processo”, revela Frederike.

Ela sugere, ainda, que antes de ir atrás de recursos, sejam analisados dois pontos importantes. “O primeiro é o nível de maturidade da empresa. O ideal é que o plano de negócio esteja pronto, afinal, sem um planejamento estratégico consistente torna-se mais difícil conseguir um bom investidor. O segundo ponto é definir qual tipo de investimento é o mais adequado, ou seja, é importante saber, por exemplo, se você procura um investidor estratégico, que ajudará no posicionamento da empresa, ou um investidor de risco, que se preocupa com o retorno que o negócio irá proporcionar”, ressalta Frederike.

Crise nas startups

Uma onda de demissões vem se alastrando nas startups do Brasil e do mundo, em decorrência do cenário macroeconômico, que enfrenta a alta global de juros e investidores declinando de aportes.

Uma das maneiras encontradas pelas startups para tentar equilibrar as contas tem sido a dispensa coletiva de colaboradores, muitas delas, ocorridas por meio de reuniões em plataformas digitais, de última hora e com microfones bloqueados. Recentemente, nomes como Ebanx, Facily, Olist, Liv UP, SumUp, Loft e QuintoAndar foram incluídos na lista de empresas que demitiram em massa.

De acordo com o levantamento da consultoria Distrito, o volume de investimento em startup subiu 35% nos meses de janeiro e fevereiro, para US$ 1,36 bilhão, em comparação com o primeiro bimestre de 2021. Entretanto, o número de aportes caiu de 118 para 91. A volatilidade do mercado tem feito com que os investidores procurem empreendimentos mais sólidos e se afastem dos “negócios PowerPoint”, que ainda não se provaram no mercado.

O sócio-fundador da Ahead Ventures explica que na pré-pandemia havia um comportamento de capital de risco crescendo no mundo, de um jeito sustentável. Em 2021, os juros estavam baixos e com isso os investimentos em venture capital quase que dobraram em todo o mundo, em relação a 2020. “Em 2022, os juros aumentaram e as rodadas de investimento caíram pela metade. Com a diminuição do capital geral no mercado, as startups entenderam que pode demorar mais tempo para captar a próxima rodada. Isso tem gerado demissões, pois estão cortando o excesso e focando no básico.”

Para ele, a tendência daqui pra frente é voltar a crescer, com os empregos sendo retomados. “Num primeiro momento vai ter um ajuste no mercado. Depois, acredito que seguirá crescendo aos poucos, por ano. A novidade é que tem um mercado de dinheiro de CV e capital chegando por parte das empresas. E o capital de empresas é diferente, porque elas são mais cuidadosas e não vão se aventurar. Elas querem mais tecnologia, essa é a diferença. Isso vai dar uma equilibrada ao longo dos anos”, acredita Valeri.

Administradores no mercado de investimentos

Os administradores apresentam capacidade técnica e habilidades para atuar em diferentes frentes do ecossistema de investimentos, como, por exemplo, dono da startup, investidor anjo, gestor do fundo de venture capital ou investidor da aceleradora. Além disso, o profissional da Administração tem a formação ideal para atuar, também, na análise de empresas, nos órgãos regulatórios, entre outros.




Revista Administrador Profissional - ADM PRO
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