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O poder da reinvenção

Se em condições normais já é difícil e arriscado fazer grandes mudanças ou tomar decisões importantes, imagine as dificuldades que existem durante um processo de transição ou reconfiguração das ações em plena pandemia como a que estamos vivendo. O CRA-SP teve a oportunidade de receber em suas redes sociais alguns especialistas que defendem que, apesar dos contratempos e riscos, momentos caóticos como este provocado pelo novo coronavírus podem ser encarados como uma oportunidade de crescimento, aprendizado ou, até mesmo, autoavaliação pessoal e profissional. 

Pensando nisso, o CRA Entrevista Live resolveu conversar com dois empreendedores que enxergaram na atual crise econômica que se alastra por todo o mundo oportunidades de crescimento e de mudança do modelo de negócio original para conseguirem sobreviver empresarialmente. Apesar de atuarem em segmentos diferentes, Carlos Lima, COO e cofundador da TrazFavela e Rafael Freitas, fundador da Numenu, compartilharam algumas experiências que tiveram nesses últimos meses e destacaram o que pôde ter ajudado a tornar seus cases de crescimento e renovação exemplos de sucesso dentro da nossa pauta. 

Delivery para todos 

A ideia do delivery TrazFavela nasceu bem antes da pandemia, em novembro do ano passado, em um bairro periférico de Salvador, capital da Bahia. Dois amigos -que mais tarde se tornariam sócios da startup- vivenciaram um problema que muitas pessoas também poderiam estar enfrentando, conforme explicou Lima. “O que acontece hoje em dia com a maior parte dos aplicativos presentes no mercado? Eles entregam nas áreas nobres ou próximas ao centro. Porém, as áreas periféricas são deixadas de qualquer jeito”, disse, ao completar que, nas situações em que os aplicativos entregam nos bairros mais distantes, as taxas cobradas são exorbitantes.   

Partindo do propósito de “democratizar o acesso ao delivery”, o TrazFavela nasceu, mal sabendo que acabaria, em poucos meses, se tornando um movimentador da cadeia produtiva dos locais onde o serviço chega, pois, como ressaltou Lima, essa democratização “leva em consideração as famílias que moram ali, os motoboys que têm que sair daquele bairro para trabalhar longe, ou seja, você está diminuindo o perigo e aumentando o fluxo de renda daquela comunidade, entre outras coisas”. Vale ressaltar que hoje eles atuam em toda Salvador, mas os pedidos feitos pelo WhatsApp (de produtos que vão desde alimentos à itens de sexy shop) ainda se concentram mais na periferia. Lima se orgulha ao falar dessa inclusão social realizada pelo serviço (que ainda não tem um aplicativo lançado) e lembra como a pandemia trouxe oportunidades para o crescimento do negócio. “O TrazFavela começou a operar, de fato, em novembro e estávamos com cerca de sete entregas por mês. No primeiro mês de pandemia, a gente cresceu 300% e daí foi um crescimento em cadeia, uma bola de neve absurda, onde a gente conseguiu chegar à marca de 1000 entregas”, contou. 

Para dar conta da nova demanda, os quatros sócios se organizaram por skills, ou seja, cada um assumiu funções nas quais estavam mais estavam capacitados e afinados. Isso possibilitou que a empresa se tornasse a única opção para muitos clientes, como o caso de uma moça que pediu da Europa que bolos fossem entregues em diferentes bairros de Salvador - não atendidos por nenhuma outra plataforma de delivery - para fazer uma surpresa no aniversário da mãe. “Ela entrou em contato com um dos nossos comerciantes, pois queria entregar em cinco locais ao mesmo tempo, o que outras plataformas também não iriam permitir. E aí eu fiz o atendimento dela personalizado para que tudo acontecesse no momento certo”, lembrou Lima. 

Mais conveniência 

Saindo de Salvador e chegando à cidade de São Paulo, mais especificamente em alguns condomínios das regiões central e sul da capital paulista, existem os pontos de vendas da Numenu, uma adaptação do “serviço de bordo” de produtos de conveniência que a startup realizava nos carros de aplicativos que circulavam pela cidade. Apesar da Numenu estar indo bem, ganhando importantes prêmios como uma das 100 ideias mais inovadoras do mundo, com a queda da circulação dos carros de aplicativos, o faturamento da empresa também caiu, surgindo daí a necessidade de Rafael Freitas e seu sócio se voltarem para os pontos fortes da marca para revelar uma saída que os tirasse da reta da falência. 

A tecnologia que a empresa possuía, o ótimo relacionamento com os fornecedores e o propósito de otimizar a vida das pessoas abriram um novo caminho para a Numenu: levar os produtos de conveniência para a casas das pessoas, ou melhor, para os condomínios residenciais, sendo um serviço que funciona 24h e pode ser pago diretamente pelo celular. Nesse caso, o consumidor só vai à gôndola para retirar as compras. “Imagine que é uma sexta-feira, a gente quer ver um filme na Netflix, só que acabou a pipoca em casa. Você pega o celular e verifica quais produtos estão disponíveis no térreo do seu prédio numa mini loja. Tendo a pipoca que você quer, você compra pelo celular, desce e retira”, explicou o empreendedor que está muito satisfeito com os novos rumos que a startup tomou depois dessa pivotagem. 

Antes de aplicar esse novo modelo, porém, foi preciso fazer um teste (e nem sempre há tempo para se testar muito - e até mesmo para se adaptar, como foi o caso da Numenu nessa nova fase). “Tem uma sigla muito famosa da galera das startups que é o MVP (Minimum Viable Product ou Mínimo Produto Viável). O que significa o MVP? Toda vez que você tem uma ideia na cabeça, você a testa da maneira mais rápida e barata possível, sem muitos investimentos”, salientou Freitas, que testou o MVP disparando um flyer nos grupos para ver qual seria o retorno. Nesse mesmo dia, 300 síndicos entraram em contato com a empresa querendo o serviço para os condomínios e, assim, foi validado o negócio que hoje está próximo de 40 lojas em prédios residenciais. 

O modelo antigo foi deixado de lado, porque os recursos atuais inviabilizam focar nos dois modelos. No entanto, Freitas assumiu que, mesmo depois da pandemia, os pontos de venda nos condomínios seguirão com força, havendo planos para franquias se surgirem oportunidades. 

Tanto Lima quanto Freitas afirmaram na live, acompanhada por quase 300 participantes, que é melhor “feito do que bem feito”, expressão muito usadas por empreendedores e que o baiano citou para afirmar que é preciso arriscar. Para Freitas, o planejamento é importante, no entanto, assim como aconteceu com ele, as mudanças necessárias vão ensinando ao longo do percurso. A novidade e o não previsto em alguns casos, portanto, podem se mostrar mais rentáveis e escaláveis, tal como aconteceu com a TrazFavela e a Numenu. 

Se você perdeu a transmissão ou quer rever alguns trechos desta edição do projeto CRA-SP Entrevista Live, basta acessar o vídeo abaixo. Fique atento ao portal do CRA-SP e, também, às redes sociais do Conselho para acompanhar as nossas próximas transmissões. 

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