Apesar de atraente, a transformação digital tem se mostrado também assustadora para uma parcela de profissionais que, embora tenham a oportunidade de vivenciar de perto o avanço da tecnologia e as facilidades trazidas pelo rápido acesso à informação, enfrentam como efeito colateral desse novo cenário uma combinação entre alta carga de trabalho, demanda constante por desenvolvimento e aprendizagem e medo de fracassar, fatores que têm repercutido no crescente número de casos de ansiedade, depressão, estresse, síndrome de burnout e esgotamento profissional, entre outros.
De acordo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 300 milhões de pessoas sofrem com a depressão em todo o mundo, enquanto outras 260 milhões vivem com transtornos de ansiedade. Só no Brasil, dados da Previdência Social mostram que, em 2017, os casos de depressão geraram 43,3 mil auxílios-doença, enquanto as crises de ansiedade ocasionaram 28,9 mil afastamentos. A situação é tão alarmante, que o Fórum Econômico Mundial (da sigla em inglês WEF) incluiu em seu “Relatório de Riscos Globais 2018”, pela primeira vez, os problemas relacionados à saúde mental como ameaças ao crescimento econômico e à estabilidade mundial, por seu grande potencial incapacitante.
Para tentar reverter esse processo, a OMS e o WEF sugerem a rápida intervenção das organizações na criação de ambientes de trabalho saudáveis, com estratégias integradas de saúde e bem-estar que incluam prevenção, identificação precoce, apoio e reabilitação.
Promovendo a saúde mental no trabalho
Vencer estigmas sociais sobre transtornos mentais deve ser considerado o primeiro e mais importante passo para o sucesso de qualquer ação dentro das organizações. Para a professora do curso de psicologia da Universidade Anhembi Morumbi, Pricila Gunutzmann, depressão, estresse e ansiedade, por exemplo, precisam ser encarados pelas empresas como qualquer outra doença do corpo. “Mudanças de mentalidade, processo e cultura são necessárias para banir agentes agressivos e abrir espaço para trabalhos que promovam a dignidade e tragam sentido às atividades. A comunicação, nesse sentido, é uma grande aliada, mas não a única. Oficinas, workshops, comitês de saúde mental, redução de fatores de risco relacionados ao trabalho e plantões psicológicos com profissionais incrementam as ações que se tornam práticas diárias para os trabalhadores”, enfatiza.
Segundo a terapeuta ocupacional e professora do Centro Universitário FSG, Claudia Scolari, ao incluírem em suas dinâmicas diárias ações em prol do bem-estar, as organizações demonstram ao colaborador o respeito às suas dificuldades e limitações, ajudando-o no processo de conscientização de sua importância como parte do todo.
“A empresa precisa do trabalhador. Fazer com que ele se sinta olhado, ouvido, entendido e considerado, não somente como profissional, certamente facilitará o seu engajamento nas atividades laborais, além de auxiliá-lo no combate ao estresse”, afirma.
A própria Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3 (ODS3), propõe metas integradas que abordam a promoção da saúde, com o objetivo de “assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em qualquer idade”. Contar com o apoio de empresas nessa ação, em um cenário cujo significado do trabalho é determinante para o bem-estar geral, pode representar a queda significativa nas taxas de incapacitação profissional por transtornos mentais.
Benefícios para empregado e empregador
O investimento na saúde do colaborador reflete diretamente na produtividade e, consequentemente, no faturamento da organização, além de melhorar a sua imagem junto aos clientes. Por isso, segundo Pricila, direcionar os esforços no sentido de restabelecer a capacidade produtiva dos empregados, com a consciência de que a ausência do profissional por afastamento médico representa perda de capital intelectual, além de sobrecarga de trabalho e desarmonia entre equipes, ainda é o melhor caminho. “O indivíduo é um ser biopsicossocial e o trabalho tem, muitas vezes, importância central na formação de sua identidade e na forma como se relaciona socialmente. Se sua saúde é foco de cuidado dentro de uma organização, certamente sua contribuição será muito mais eficaz”, finaliza.
De acordo com a terapeuta ocupacional Claudia, questões subjetivas relacionadas ao trabalhador, como, por exemplo, quem é ele, onde está inserido e qual a sua realidade podem interferir em sua saúde mental e na sua busca pelo equilíbrio. Outros fatores associados são: