Benefícios corporativos: tão importantes quanto o salário - CRA-SP
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Benefícios corporativos: tão importantes quanto o salário

Foi-se o tempo em que a oferta de um salário compatível com o mercado era o único atributo para atrair e reter bons talentos. Nos últimos anos, as organizações têm percebido que, embora a remuneração seja um fator importante, os colaboradores estão cada vez mais atentos aos benefícios que elas oferecem, uma vez que eles também aumentam o poder de compra e impactam a qualidade de vida.

Neste novo cenário, especialmente com as transformações vivenciadas pelo mercado de trabalho após a covid-19, diversas organizações passaram a implementar mudanças nos pacotes oferecidos, adaptando-os de acordo com o perfil dos seus funcionários. De acordo com um levantamento realizado pelo CRA-SP em novembro do ano passado, com 438 profissionais de Administração registrados, benefícios ligados ao reconhecimento profissional, a horários flexíveis de trabalho e à educação, por exemplo, estão no topo da lista de preferência (veja o ranking completo no quadro abaixo). 

O estudo mostrou, ainda, que o atual panorama econômico também dita as regras quando o assunto é benefício corporativo. Isso porque, dentre todas as 20 opções listadas pelo levantamento, o plano de saúde foi o mais apontado como importante pelos respondentes, com 80,4% das indicações. Com o aumento no valor cobrado pelas operadoras de saúde e a dificuldade de se contratar planos individuais, muita gente está atenta (e preocupada) com esse tradicional benefício oferecido pelas companhias que, por sua vez, também estão tendo que rever custos e tipos de planos disponibilizados para seus colaboradores. 

Para as organizações, manter o olhar sobre isso é importante não só para reduzir gastos, mas também para não perder talentos: ainda de acordo com o levantamento, 47,7% dos respondentes disseram que, dependendo do pacote de benefícios que a empresa oferece, esse pode ser um fator decisivo para a sua permanência na empresa. 

Alana Azevedo

Novos interesses em jogo

Os novos modelos de trabalho, nos formatos remoto e híbrido, estabelecidos principalmente depois da pandemia, impactaram não só as relações corporativas, mas também as necessidades dos profissionais.  Como consequência, o novo contexto acelerou uma importante mudança: a personalização dos benefícios corporativos.

Segundo Alana Azevedo, chief human resources officer (CHRO) da Flash, plataforma de gestão de benefícios, pessoas e despesas, antigamente, quando os auxílios eram mais engessados e a rede de aceitação menor, as pessoas vendiam os créditos disponibilizados e abriam mão de até 20% do saldo recebido para poder usá-lo da maneira que quisessem. 

Com a personalização, no entanto, os cartões de benefícios flexíveis (apontado como o sexto mais importante pelos profissionais ouvidos pelo CRA-SP) têm um amplo leque de opções de consumo e são aceitos em milhões de estabelecimentos no País. Assim, eles conseguem atender às demandas dos colaboradores nas diferentes fases da vida. 

“Existe diferença nas necessidades das pessoas. Algumas, por exemplo, passam muito tempo na rua e, por isso, preferem fazer suas refeições em restaurantes; quem trabalha remoto ou híbrido e não gosta de cozinhar, sempre pede comida por delivery; aquelas que se tornaram pais precisam mudar seus hábitos e passam a usar os benefícios em redes de supermercados para encontrar alimentos mais saudáveis e com melhores preços; entre muitos outros exemplos de consumo, que mudam de acordo com as fases da vida dos trabalhadores”, explica Alana.

A CHRO da Flash comenta, ainda, que os benefícios mais oferecidos pelos empregadores, e que também são os mais utilizados pelos profissionais, são os clássicos: vale-refeição e vale-alimentação (nos resultados gerais do levantamento do Conselho eles aparecem, respectivamente, em terceiro e sétimo lugar). 

O que ficou para trás

A pesquisa realizada pelo CRA-SP também evidenciou o outro lado, ou seja, aquilo que durante um tempo foi considerado diferencial e que, agora, não impacta mais a vida dos profissionais, especialmente os de Administração. É o caso, por exemplo, dos espaços de lazer dentro dos escritórios. Nas últimas duas décadas, grandes corporações investiram em ambientes de descontração, como mesa de pingue pongue, salas de videogame e até piscina de bolinhas para proporcionar momentos de descompressão das jornadas intensas, aprimorar as relações organizacionais e, consequentemente, aumentar a produtividade do colaborador.

Porém, entre os 20 benefícios listados pelo levantamento do CRA-SP, essa foi a opção considerada menos importante para os respondentes, com apenas 8% das indicações. Os resultados segmentados por modelo de trabalho (presencial, híbrido e home office) ratificaram que nem mesmo aqueles que estão todos os dias nos escritórios consideram esse item um diferencial.

Para o presidente do CRA-SP, Adm. Alberto Whitaker, esse resultado mostra que, apesar das transformações e das novas dinâmicas de trabalho, muitos profissionais, especialmente os de Administração, não aprovam ou, pelo menos, não consideram importante o modelo totalmente descontraído. “Isso não significa que esses colaboradores não estejam antenados às mudanças do mundo corporativo. Prova disso é a indicação do horário flexível como quinto benefício mais apontado. Por isso, acredito que antes de investir nas tendências que se apresentam, as empresas devem entender quem é o seu público interno, o que esperam os seus colaboradores e o que mais importa para eles. Cada nicho ou segmento do mercado de trabalho possui necessidades específicas e é preciso mapear isso antes de fazer altos investimentos que podem não dar o retorno esperado”, defende o administrador.

Vantagens para as organizações

A oferta de benefícios corporativos é algo positivo não só para os profissionais, mas sobretudo para as empresas, conforme aponta um estudo da Flash em parceria com a Think Work, realizado no ano passado com profissionais de RH. Segundo a pesquisa, 70% dos entrevistados identificaram um aumento no engajamento dos colaboradores, seguido de satisfação com o pacote de benefícios (67%) e melhora no clima organizacional (58%).

Além disso, outros pontos como a percepção sobre a remuneração total (46%), retenção de talentos (36%) e quantidade de candidatos em processos seletivos (30%) comprovam que as empresas também se beneficiam ao investir em seus profissionais.

Segundo Alana, diferentemente da remuneração salarial, que tem altos encargos, o custo dos benefícios para as organizações não é elevado. “Se a empresa, por exemplo, oferece um vale-cultura de R$100 por colaborador, o custo para a empresa é de R$100”, esclarece.

Salário emocional 

Outro ponto importante quando se fala sobre benefícios corporativos hoje é o chamado salário emocional, conceito que nos últimos tempos ganhou força nas organizações. Em geral, ele pode ser definido como um conjunto de recompensas não financeiras, cujo propósito é aumentar a satisfação e motivação dos trabalhadores, por intermédio de boas práticas corporativas, que incluem: clima organizacional saudável, com senso de pertencimento e autonomia; desenvolvimento de ações de bem-estar emocional; criação de oportunidades de crescimento pessoal e profissional; entre outros elementos, que podem variar de acordo com a empresa.

Apesar das vantagens que esse conjunto de recompensas pode proporcionar no desempenho dos trabalhadores, uma boa parcela dos profissionais de Administração ainda não desfruta desses recursos. De acordo com o levantamento do CRA-SP, 53% dos respondentes disseram que nas empresas onde trabalham não são oferecidos benefícios voltados ao bem-estar e à qualidade de vida. 

O estudo ainda questionou a percepção dos profissionais em relação ao conceito de salário emocional e a maioria (48,6% do total) disse considerar esse conjunto de benefícios como um diferencial para as organizações que os oferecem. Entretanto, ainda é alto o número de colaboradores que não entende direito o que ele representa: 22,6% dos profissionais acham que o conceito ainda é muito vago e 11,2% afirmaram não ter uma opinião a respeito. 

E os profissionais de Administração, estão satisfeitos?

No geral, o levantamento realizado pelo CRA-SP mostrou que 47,9% dos respondentes estão felizes com o pacote de benefícios oferecido pelas empresas em que trabalham. Entretanto, esse percentual muda de acordo com o nível hierárquico dos entrevistados: entre os donos do próprio negócio, o índice de satisfação chega a 64,8%; entre os que mantêm um cargo de liderança (coordenador, supervisor, gerente, etc.) a satisfação total fica em 46,5%; enquanto apenas 32% dos colaboradores que possuem um cargo operacional (assistente, técnico, analista) afirmaram o mesmo. 

O levantamento apurou, ainda, se o modelo de trabalho dos respondentes poderia influenciar essa questão e os resultados mostraram que aqueles que atuam de maneira híbrida são os mais satisfeitos. Em seguida estão os profissionais em home office e, por último, os colaboradores do formato 100% presencial.

 Para a CHRO da Flash, a concessão de benefícios deve permanecer como algo importante para as empresas que, mesmo cautelosas em relação aos seus investimentos, devem oferecer um pacote cada vez mais personalizado e atrativo aos seus colaboradores. “Somado a uma remuneração justa e competitiva no mercado, as organizações terão um grande diferencial para atrair e reter talentos”, finaliza. 



Os benefícios corporativos considerados mais importantes pelos profissionais de Administração* 

1- Plano de saúde - 80,4%

2- Participação nos lucros e resultados - 59,1%

3- Vale-refeição - 51,1%

4 - Bônus por performance (comissão) e/ou 14º salário - 50,2%

5 - Horário flexível - 47,7%

6 - Auxílio educação para colaboradores (graduação, pós-graduação, cursos livres e de idiomas) - 47,3%

7- Cesta básica / vale-alimentação - 45%

8 - Previdência privada - 42,9%

9 - Benefícios flexíveis (valores ou vantagens disponibilizados, geralmente por meio de cartões, que podem ser adaptados de acordo com as preferências do colaborador, como alimentação, refeição e vale-cultura) - 42,7%

10 - Plano odontológico - 38,4%

11 - Bonificação por tempo de casa - 36,5%

12 - Home office (100% ou trabalho híbrido) - 32,9%

13 - Auxílio home office - 23,3%

14 - Vale-combustível - 22,1%

15 - Day off no dia do aniversário - 19,9%

16 - Vale-transporte - 16,2%

17 - Auxílio estacionamento - 13,7%

18 - Auxílio creche - 11,6%

19 - Outros - 8,4% 

20 - Espaços de lazer no escritório - 8%

*De acordo com levantamento realizado pelo CRA-SP com 438 profissionais registrados, entre 8 e 21 de novembro de 2023. No estudo, era possível escolher até dez itens entre as 20 opções disponíveis



Revista Administrador Profissional - ADM PRO
Publicação física com periodicidade trimestral
Conteúdo produzido pelo Departamento de Comunicação do CRA-SP
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