A felicidade e o trabalho - CRA-SP
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A felicidade e o trabalho

Adoro escrever e isso é algo que me deixa bem feliz. Estou de férias e, por não conseguir conciliar com as férias do meu namorado, não viajei. Olha aí o “trabalho” metendo a  colher na minha felicidade. Brincadeiras à parte, sigo viajando por meio da leitura, textos, livros, ideias e por lugares próximos que ainda não conheço. Desbravando o dia a dia. 

Felicidade. Quem é ela? Como vive? Onde encontro? Quase que numa chamada de um famoso programa conhecido por “Globo Repórter” tentaremos descobrir. Esse é um assunto curioso, pois felicidade e trabalho não são sinônimos e talvez, para alguns nesse instante, seja um tanto quanto um martírio. 

Quem não quer ser feliz? E que essa felicidade seja parte integrante no trabalho? Nessas minhas leituras descobri que a ciência da felicidade ganha força nos anos 2000, muito falada e com seu codinome “psicologia positiva”, ou seja, esse tema dá pano pra manga. E vem ganhando  evidência num momento em que estamos interagindo – compulsoriamente – com a inteligência  artificial. Dois espaços bem distintos e que estão sacudindo os alicerces do mundo corporativo.  

Um simples detalhe é fato: não sabemos nada sobre a felicidade – além das músicas antigas e  atuais de Marcelo Jeneci e tantos outros cantores. Penso aqui que devemos incluir o tema na grade curricular já nas fases iniciais escolar das crianças, bem como finanças, relações interpessoais e  saúde mental. Percebam que todas essas abordagens estão ligadas e levam a grandes impactos em nossa vida corporativa.  

A felicidade e o trabalho parecem bem com o clichê “água e óleo não se misturam” e isso vem do  paradigma – que deve ser quebrado e está no caminho – de que ao sair de casa para o trabalho deixamos nossos problemas, preocupações e dificuldades em casa. No trabalho temos de executar todas nossas atividades – incansavelmente – como máquinas ou robôs (sem sentimentos e  emoções) e felizes para sempre (risos de desespero). 

E é nesse momento que chegamos nos números assustadores de afastamentos por doenças mentais ocasionadas pelos nossos trabalhos, e em simultâneo com a importância de aprender a usar a  inteligência artificial a nosso favor, afinal não será ela que tirará nosso trabalho e sim as pessoas que entenderam como se beneficiar e adequar sua rotina com a inteligência artificial sendo parte  disso.  

Para os que gostam de leitura, já perceberam quantos livros dentro desse universo da “felicidade e o trabalho” estão disponíveis em livrarias? São inúmeros, vou citar um que comprei e  recomendo: “O jeito Harvard de ser feliz”, no qual o autor Shawn Achor finaliza o livro com a frase  “Espalhe o benefício da felicidade no trabalho, em casa e por toda parte”. É isso, por toda parte. Não temos como deixar em casa o que nos aflige, não temos como trabalhar sofrendo e remoendo  problemas. Temos que, sim, aprender a lidar com todas nossas condições e emoções para  trabalharmos mais felizes, para sermos felizes em casa, no trânsito ou em qualquer outro lugar.  Aqui é válido para todas as pessoas, não estou dizendo que apenas o colaborador deve ter esse cuidado, pois também cabe às organizações fazerem parte disso. Não só com ações no mês de setembro, mas em todos os outros dias de trabalho, trazendo programas de conscientização, reflexões, atividades que quebrem o tal paradigma e promovam a saúde mental e emocional dos colaboradores, resultando, por consequência, na mais querida felicidade.  

Não, não é fácil, nem para as empresas e muito menos para seus colaboradores. No entanto, assim  como para os grupos de alcoólicos anônimos, um dia por vez. Dar o primeiro passo é o caminho. E, nesse sentido, posso trazer como exemplo o grupo Heineken, que criou a Diretoria da Felicidade e vem tendo resultados importantes dentro da organização ao trabalhar com ações, boas práticas e todo um processo de cuidado com o colaborador, chamado hoje de “jornada de felicidade”. Segundo Aline Telles, integrante da nova diretoria, quando as  pessoas estão felizes consigo mesmas e com o local em que trabalham, elas são mais produtivas¹. 

Falar de felicidade no trabalho, bem como saúde mental e emocional, infelizmente ainda é um  grande tabu a ser quebrado. Contudo, esse pequeno desconforto no mundo corporativo já está  sendo visto com outro olhar. As pessoas, de modo geral, têm aberto a mente, estão mais atentas a si. Consequentemente, as empresas têm notado o quanto o impacto pode ser positivo quando o colaborador é feliz.  

Vale destacar que a felicidade é exclusivamente individual, assim sendo, ainda com todo o apoio de uma equipe formada na área da saúde e pessoas, com ações adequadas e específicas e todo trabalho coletivo, a felicidade e o bem-estar dentro da empresa partem de cada um. Vamos deixar  essa reflexão com um ar mais corporativo, ou seja, o famoso trabalho em equipe.  

Trazendo dados chocantes, nós trabalhamos aproximadamente 249 dias – para os que trabalham  8 horas por dia, dentro de uma média anual são 1992 horas por ano. São horas “pra dedéu”. A vista disso e de tudo que já entendemos até aqui, podemos começar a mudar alguns hábitos que podem  nos levar à felicidade no trabalho e na vida.  

1 – Seja uma pessoa ativa. Atividades físicas não farão que seus problemas ou estresse  desapareçam, mas reduzirão sua intensidade emocional e carga mental e o manterão  em forma física.  

2 – Conecte-se com as pessoas. Bons relacionamentos estão no topo da maioria das escalas de felicidade e não é à toa. Afinal, precisamos dessa interação e conexão, pois é isso que pode  aumentar a autoestima e o bem-estar.  

3 – Aprenda coisas novas. Existe vida além da sua sala de trabalho, do escritório, do seu ambiente de trabalho. E você precisa viver isso, é fundamental para sua saúde mental e emocional. Sem  contar que isso pode lhe trazer novas oportunidades.  

4 – Esteja presente. Tente estar no momento e nada mais. Vale a máxima “aqui e agora” ou “uma  coisa por vez”. 

5 – Reconheça os pontos positivos. Estando presente, conseguirá enxergar que algumas coisas não estão em nosso poder de mudança. As coisas são como elas são, enxergue o melhor de cada uma  delas.  

6 – Evite hábitos que não sejam saudáveis. Uso excessivo de álcool, café e cigarros, como estratégia  para lidar com a ansiedade e estresse, podem trazer danos mais graves à saúde. Ou seja, cuide-se. Durma bem. Coma bem. Descanse bem. Exercite corpo e mente. Faça atividades que te tragam  alegria e bem-estar.  

7 – Trabalhe de forma inteligente. Priorize e dê a exata importância para suas atividades. Busque  deixar suas atividades organizadas e alinhadas com seus horários. Isso pode fazer muita diferença  no seu nível de estresse e ansiedade no final do expediente. Não se cobre tanto.  

E, para finalizar, o mundo tem observado que estamos trabalhando no automático e sem  disposição. O mundo tem observado que hoje estamos com outras prioridades. O mundo está  pedindo por mudanças. Nós estamos pedindo por mudanças. E alguns países já estão à nossa  frente nessa corrida. Recentemente, reportagens de vários jornais mostraram que o Brasil iniciou um projeto piloto de semana de trabalho de 4 dias úteis. Contudo, assim como em outros países que já fizeram parte desse projeto e tiveram resultados positivos (com aumento de receita e produtividade), aguardamos para o “gran finale” do Brasil. A iniciativa, promovida pela organização 4 Day Week Global, busca melhorar a qualidade de vida dos funcionários  sem redução de salário nem perda de produtividade.  

De acordo com as matérias, a partir de novembro deste ano aproximadamente 400 funcionários  de 20 empresas brasileiras participarão do projeto-piloto, que reduzirá a carga de trabalho de 40  para 32 horas semanais, seguindo o mesmo método implementado em outros países, um modelo  conhecido como 100-80-100, no qual os participantes receberão 100% de seu salário, trabalharão 80% do tempo e têm o compromisso de manter 100% de sua produtividade. As empresas vão receber orientações para lidar com a reestruturação da semana de trabalho, gestão de tempo e  monitoramento das métricas. 

Uma faca de dois gumes, meus senhores, convenhamos. É preciso analisar, analisar e analisar. Ressalto que temos cultura diferente, somos um país com economia e prioridades diferentes. Como  as mães dizem por aí “você não é igual a todo mundo”. O fato é que – como sobrevivência – é  preciso estar atento às mudanças, é preciso se adaptar a novas condições e situações. É preciso lembrarmos que são as pessoas que movem e mudam o mundo e se elas estão doentes e infelizes, não há progressos.  

¹ Trecho retirado da reportagem “Cuidado com a mente também é responsabilidade das empresas”, publicada pela Revista ADM PRO, em agosto de 2023 - https://crasp.gov.br/admpro/site/materias-em-destaque/cuidado-com-a-mente

Por Admª Thais dos Santos Sousa 

CRA-SP nº 119411 - Administradora e escritora





Revista Administrador Profissional - ADM PRO
Publicação física com periodicidade trimestral
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