Uma jornada de conhecimento compartilhado - CRA-SP
Faça download do App |
Uma jornada de conhecimento compartilhado

Métodos de cocriação, desenvolvidos em hackathons e em maratonas para desenvolvimento de novos negócios, cada vez mais têm atraído profissionais em busca de capacitação e conhecimento. A vivência nesses eventos, porém, traz resultados muito mais abrangentes para os participantes e empresas envolvidas

Já pensou ficar mais de 24 horas reunido com gente que você não conhece desenvolvendo estratégias, ideias, metodologias e/ou resolvendo um problema com base em tecnologia? Atualmente, um número crescente de pessoas no Brasil está trocando os momentos livres, principalmente aos finais de semana, para participar de verdadeiras maratonas de aprendizado, networking e capacitação pessoal e profissional. Os eventos que utilizam métodos de cocriação para o desenvolvimento de projetos e ideias estão ganhando cada vez mais espaço no país, trazendo benefícios tanto para quem participa quanto para a empresa ou investidor que os patrocina ou apoia. 

Mas será que o profissional de Administração também pode participar desses eventos? A boa notícia é que, sim, ao contrário do que muita gente pensa, não existem pré-requisitos rígidos, portanto, pessoas de diversas áreas e setores podem embarcar nessa experiência em busca de conhecimento e aprimoramento contínuo. 

Hackathon 

É um pouco difícil saber quando surgiu o primeiro hackathon no mundo, uma vez que ter programadores e desenvolvedores reunidos, trabalhando em prol de um objetivo, é muito comum. A versão mais contada, porém, é que o termo foi usado originalmente no final da década de 1990, nos Estados Unidos, quando um grupo estava desenvolvendo uma nova criptografia. Aqui no Brasil, a maratona chegou com mais entusiasmo em 2015, quando o país se encontrava em meio a uma crise econômica e as pessoas, em especial os empresários, precisaram se reinventar para que seus negócios pudessem sobreviver.

 Ricardo Queiroz

Apesar de não ser um evento tão recente, muita gente ainda não entende sua dinâmica e objetivos e nem sabe quem pode participar. Ao contrário do que muitos pensam, ele não é apenas um jogo, como explica Ricardo Queiroz, CMO da Shawee, empresa brasileira realizadora de hackathons por todo o país. “No hackathon, além da competição, as pessoas querem desenvolver novas habilidades, se conectar com outros indivíduos, superar seus limites e conhecimentos.” 

Outro ponto que foi desmistificado pelo executivo está relacionado ao perfil dos participantes, uma vez que não necessariamente eles precisam ser da área tecnológica. “Existem profissionais de design, comunicação, negócio e marketing”, enumera Queiroz, evidenciando, ainda, que o hackathon “não é verticalizado”, ou seja, é um espaço colaborativo e inclusivo, onde quem não tem esses conhecimentos pode participar e aprender. 

Foi pensando que só um “super gênio” poderia participar de um hackathon que Thais Portugal quase desistiu de viver essa experiência. O seu primeiro “hacka” - como ela chama a maratona - aconteceu em novembro de 2018 e, de lá para cá, ela acumula seis hackathons, um deles realizado pela emissora Globo, na casa do Big Brother. A programadora, de 25 anos, vê nesses encontros um pacote em que a pessoa evolui tanto pessoal quanto profissionalmente. “Ninguém sai de casa preparado para trabalhar com desconhecidos e nem imagina quais lições de vida eles podem agregar. Conheci muitas pessoas diferentes durante os ‘hackas’, vi o quanto a união faz a força e percebi que ninguém ganha sozinho, pois o primeiro lugar não é o único prêmio”, conta. 

Thaís gostou tanto desse mundo que pensa, em um futuro breve, se tornar uma mentora para compartilhar o que aprendeu nesse processo e retribuir as coisas boas que aconteceram. “Hoje tenho diversos amigos que vieram de ‘hackas’, desenvolvi novas skills para o mercado e até consegui um emprego na minha área através do networking que fazemos”, celebra. 

Pessoas jurídicas também já perceberam os benefícios dos hackathons ao incorporá-los em suas estratégias empresariais. Queiroz lembra que o Facebook, ao longo de sua história, já realizou mais de 50 hackathons, sendo essa atividade muito usada pela equipe de Mark Zuckerberg para encontrar novos e excelentes programadores. “O formato de trabalho intenso do hackathon, onde os grupos precisam criar algo do zero em 36 horas e ter um protótipo mesmo que mínimo, é ótimo para conhecer o poder de execução dos participantes. Além disso, durante esse tempo, os profissionais não vão colocar a famosa ‘roupa de entrevista’ e criar um personagem. Ali, ninguém está pensando nisso e, para os recrutadores, esse momento é ótimo, pois eles podem conhecer, de fato, os futuros candidatos e entender se eles estão aderentes à cultura da empresa e, o mais difícil, identificar as soft skills que hoje são tão importantes para os profissionais do futuro”, explica. 

As organizações simpatizantes de hackathons também já identificaram que ele pode auxiliar em um momento de reestruturação, quando ações inovadoras e práticas precisam entrar em cena de imediato, como, por exemplo, durante um processo de transformação digital. Nessa fase, as empresas precisam reduzir custos, quadro de funcionários e esse ambiente de mudanças pode ser otimizado por decisões ligeiras e eficientes, sendo elas originadas em maratona de “hacka”, como diria Thaís.

       Preta Emmeline Lucena

Maratonas de criação 

Para quem deseja saber se a sua ideia é o boa o suficiente para virar um negócio, as maratonas de criação são a oportunidade ideal. Um dos principais eventos nesse modelo são as edições do Startup Weekend, um conceito que nasceu no Colorado, em 2007, quando 70 empreendedores se reuniram durante um final de semana para criar uma startup

Assim como no hackathon, uma maratona de Startup Weekend também visa a resolver algum problema, mas, nesse caso, o objetivo é criar um novo negócio. Muitas organizações investem nessa metodologia para solucionarem dificuldades que estão vivenciando ou, até mesmo, evitá-las futuramente. “A maratona é uma maneira de investir em recursos humanos, trazendo seus colaboradores para esse ambiente de coconstrução, propício ao erro, sendo visto como um ambiente ideal para trabalharem os seus problemas”, explica Preta Emmeline Lucena, Manager Regional da Techstars, rede global que ajuda empreendedores a alcançarem o sucesso e responsável por promover os eventos de Startup Weekend pelo mundo. Ela ainda acrescenta que inúmeros apoiadores lhe falam sobre o potencial custo benefício do programa, que não precisa de grandes investimentos, mas gera um alto retorno, uma vez que as maratonas conseguem capacitar profissionais de uma forma que muitas empresas não têm condições de fazer internamente. 

Nessa maratona, as ideias de negócios são apresentadas e desenvolvidas entre os participantes e mentores, podendo ser pivotadas (transformadas, mas sem perder a sua base) ou não. Em alguns casos, há encontros com investidores, sendo imprescindível que haja o pitch, ou seja, os poucos minutos (entre um e cinco) em que o empreendedor defende seu produto ou serviço com o objetivo de atrair apoiadores. É uma jornada de negócio que envolve aprendizado, networking e desenvolvimento pessoal e profissional. 

Apesar de também não ser uma espécie de jogo, o Startup Weekend acaba, de certa forma, virando uma competição em alguns casos, pois premiações podem ser oferecidas para estimularem os participantes. Contudo, no final, os grupos voltam para casa com outros ganhos, como habilidades desenvolvidas na área da liderança, empatia, comunicação, poder de síntese, exposição e troca de experiências. 

O Startup Weekend tem duração de 54 horas, começando na noite de sexta-feira e terminando na noite de domingo. Para participar, o interessado também não precisa ter nenhuma formação específica, nem conhecimentos tecnológicos avançados. “Não há nenhuma restrição”, conta Preta, que já foi maratonista desses eventos antes de se tornar uma executiva do ramo. Ela apenas alerta que, quando a maratona não é voltada para o público infanto-juvenil, o ideal é que os participantes tenham mais de 18 anos devido a carga de conteúdo trabalhada. “Fora isso, é preciso apenas que a pessoa esteja aberta para aprender algo novo”, completa. 

Encarar os desafios propostos em hackatons ou em edições do Startup Weekend, portanto, pode ser um passo importante para quem deseja conhecer os mais atuais métodos de desenvolvimento de ideias, soluções e negócios, principalmente nesse momento em que a colaboração e o compartilhamento ditam as regras e o futuro de carreiras e organizações. Para isso, como vimos, não é necessário experiência tecnológica profunda ou determinado perfil profissional. Uma coisa, entretanto, é certa: é preciso sair da zona de conforto!  

Startup Weekend no Brasil

A Techstars Brasil já realizou, desde 2010, 692 maratonas de Startup Weekend que, ao todo, contaram com a participação de 16 mil pessoas

Em 2019 foram 188 edições, em 119 cidades brasileiras. 

O Estado de São Paulo é o maior realizador de maratonas. 

Fonte: Techstars Brasil 




Revista Administrador Profissional - ADM PRO
Publicação física com periodicidade trimestral
Conteúdo produzido pelo Departamento de Comunicação do CRA-SP
Todos os direitos reservados