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Como vender na crise?

Análise recente da economista e diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, repercutida em veículos de comunicação de todo o mundo apontam que “o crescimento global se tornará bruscamente negativo em 2020”, sendo esperadas consequências econômicas mais dramáticas do que as registradas desde a Grande Depressão, em virtude da pandemia do novo coronavírus. 

A economia brasileira já reflete esse cenário devastador. Segundo relatório da agência de classificação de riscos Fitch Ratings, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil encolherá 4% em 2020 antes de crescer 3% em 2021, acompanhando a recuperação da pandemia. Ainda de acordo com o documento, a perspectiva para nota de crédito soberano do País - antes vista como estável - fora revisada para “negativa”.  

Trocando em miúdos, isso significa que o Brasil entrou num momento em que o endividamento público crescerá e o País não atrairá novos investimentos, por ser visto internacionalmente como um lugar inseguro para tal. 

No meio de toda essa situação econômica alarmante e caótica estão os empresários e empreendedores que precisam encontrar alternativas para superar as adversidades desse momento incerto e vulnerável. Desenvolver estratégias que façam os negócios reagirem e sobreviverem a esse inimigo invisível faz parte do movimento de resgate do equilíbrio da economia nacional, restando agora, portanto, saber por onde começar esse processo de superação.

Para ajudar as empresas a enfrentarem esse desafio, o CRA-SP realizou no último dia 5 de maio, no seu perfil do Instagram (@cra_sp) a live “Como vender na crise?”.  O bate-papo contou com a participação de Sandro Magaldi, cofundador do “meusucesso.com” e coautor de bestsellers como o “Gestão do Amanhã”, que assina em parceria com José Salibi Neto.

Diante de mais de 600 espectadores, Magaldi fez uma análise aprofundada não só do atual ambiente econômico brasileiro (que requer novos posicionamentos), como também fez questão de relembrar que essa realidade incerta, vulnerável e transitória não chegou com o novo coronavírus. Para ele, trata-se de uma “aceleração de processos e sistemas que já estavam acontecendo há algum tempo”, visto que há mais ou menos 10 anos se fala de um processo de ruptura ou transformações pelas quais as organizações vêm passando por conta da Revolução Tecnológica ou Revolução Digital. 

Segundo Magaldi, antes de eclodir a pandemia, os empresários, empreendedores, líderes e gestores ainda poderiam se dar ao luxo de parar, refletir e, com tranquilidade, elaborar um  projeto ideal para entrar nesse processo de transformação tecnológica - apesar dessa mudança ter sempre se apresentado como urgente. No entanto, diante da crise, não há tempo para planejamentos elaborados, para implantação a longo prazo. Para ele, adaptar-se às mudanças não é uma opção, é questão de sobrevivência! “Vejo como um grande risco para o momento os indivíduos não terem o entendimento claro desta ruptura e continuarem pensando e refletindo da mesma forma que no passado, mesmo sendo esse um passado recente”, desabafou.

O momento exige adaptação

“O analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele  que não consegue aprender, desaprender e reaprender.”

Desta célebre frase do escritor e futurista norte-americano, Alvin Toffler, permeiam os principais pontos levantados por Magaldi para que empresários, empreendedores, líderes e gestores iniciem o processo de adaptação às adversidades impostas subitamente pela crise do novo coronavírus. Especialmente porque, para ele, deparar-se com uma situação em que o indivíduo não tem controle (ou tem muito pouco) gera ansiedade, paralisia e insegurança na hora de tomar decisões e, para se isentar da responsabilidade de um possível fracasso, fica mais fácil arranjar um culpado que, neste caso, é o novo coronavírus.

Segundo Magaldi, é hora de as pessoas serem humildes, deixarem o ego de lado e aprenderem a trabalhar com uma gestão imprevisível, o que foge totalmente da zona de conforto e da habitual “manutenção do status quo”. “Nós sempre buscamos uma previsibilidade no nosso modo de gestão. As organizações foram construídas para a estabilidade e subitamente essa previsibilidade se vai”, explica.

O momento é de dar atenção à agilidade que o processo exige. Para o especialista, os gestores, líderes, empreendedores e empresários precisam fazer todas as adaptações enquanto as mudanças acontecem, habilidade que algumas empresas - como as startups, exemplos de empresas ágeis - já adquiriram e, por isso, têm certas vantagens sobre as corporações que ainda são geridas sob um modelo antigo, “hierarquizado em comando e controle, com poder centralizado e um processo decisório lento”. 

Por meio do apontamento de resultados recentes do faturamento da Amazon, Magaldi indagou: “será que as empresas de perfil ágil estão sabendo lidar com o momento de crise?” De acordo com ele, o crescimento do faturamento em 25% (que representa cerca US$ 75 bilhões só no primeiro trimestre de 2020) não aconteceu  apenas porque a empresa tem DNA tecnológico. Segundo ele, outras empresas que também atuam no e-commerce não apresentaram um desempenho favorável, o que evidencia que para o sucesso no mercado atual não basta apenas ser digital, é preciso também ter “agilidade introjetada nos seus mecanismos de gestão e na sua cultura organizacional”. Essas organizações estão conseguindo, a despeito de todas as dificuldades e desafios, “sobreviver e até prosperar em um ambiente totalmente incerto”.

Habilidades do mundo em transformação

Magaldi destacou, dentre várias outras, duas habilidades que ele acredita serem essenciais nesse momento transitório. Uma, que além de urgente, é chamada por Magaldi de competência sócio-emocional, é a resiliência. A outra, é a capacidade de aprendizado. “Não adianta começar esse processo de adaptação ao mundo empresarial, pós-novo coronavírus, pulando a etapa principal, que é a da transformação do mindset dos responsáveis pelas mudanças. A agilidade é fundamental para o sucesso dessa movimentação, no entanto, para ela ser alcançada, é preciso que a capacidade de aprender a reaprender seja uma habilidade do indivíduo”, enfatizou.

Como criar oportunidades na crise

“É mais perigoso ficar parado, do que se mover”. Mais uma frase impactante de Magaldi sobre o momento de crise econômica que estamos passando. Se antes o empresário precisava se reinventar, agora então ele precisa ser sempre inovador para conseguir se manter competitivo nesse mercado volátil. Magaldi ratificou que “empresas estão sucubindo” por fazerem a mesma coisa por muito tempo, mesmo que seja com excelência. 

Na mudança do mindset mencionada anteriormente, também deve constar a perda do medo de inovar, de testar, de experimentar, de ousar. As maiores empresas do momento estão criando novos produtos e serviços, desenvolvendo novas estratégias de comunicação com o público e acompanhando as tendências do mercado.

Por falar em público, Magaldi foi bem claro sobre a importância de entender a demanda do cliente: “Para ser bem-sucedido no contexto atual, é necessário migrar a atenção da sua oferta de valor para o universo do cliente. Migrar a orientação do seu negócio para o negócio do cliente.” De acordo com ele, pode até parecer estranho, mas agora é hora de ajudar primeiro o cliente, para depois bater a própria meta. 

Mudando a cultura organizacional

Reconhecido como uma das maiores referências brasileiras quando o tema é Cultura Organizacional, Magaldi lançou, no ano passado, em parceria com José Salibi Neto (o próximo convidado da live do CRA-SP), o livro “O Novo Código da Cultura - Transformação organizacional na gestão do amanhã. Durante o bate-papo, ele falou sobre como a cultura Organizacional que a empresa sustenta nesse momento fará toda a diferença sobre seu desempenho mercadológico durante a crise. 

Se entendemos que é essa cultura que une todo o ecossistema empresarial, se ela não for condizente com esse processo de transformação digital, até então apresentado pelo autor como vital para o sucesso empresarial em meio à essa caótica situação econômica, não adiantará o processo de adaptação ser iniciado.

Para exemplificar qual seria uma cultura organizacional mais apropriada para o momento, Magaldi novamente trouxe o exemplo das empresas tecnológicas que são as que mais se destacam positivamente. Segundo ele, o sucesso delas não está ligado simplesmente à tecnologia, mas, sim, às “pessoas que entendem esse novo mundo”. “São empresas centradas nos clientes. Não se trata de tecnologia, mas de pessoas. Desta forma, para que eu possa me adaptar a esse novo contexto, eu vou ter que, obrigatoriamente, transformar minha cultura, seja em uma empresa de dez pessoas, cinco pessoas ou numa empresa de um milhão de pessoas. A transformação legítima só acontece se a cultura organizacional mudar também”, explicou.

E-commerce não é apenas ponto de venda

De acordo com Magaldi, no Brasil, a venda pela internet ainda é vista como “apenas um canal de vendas”. Mas isso é um equívoco, segundo ele, porque o “digital tem que estar introjetado em todas as nossas práticas”. “Quanto tempo mais os empresários e empreendedores demorarão para entender que o mundo derivou para o digital (mais rapidamente agora), sendo preciso construir a organização baseada nesse valor? O digital não é um canal. Ele deve estar no centro do seu negócio”, destacou.

Magaldi disse que ainda vê exemplos de empresas que estão migrando para o e-commerce sem um sistema de logística efetivo, porque a empresa tem uma cadeia de valor direcionada para fazer suas entregas em um ponto de venda (PDV) específico. Daí as organizações mais jovens terem mais facilidades do que as tradicionais, porque elas já nasceram entendendo que o importante é atender a “jornada do cliente”, gerando uma “experiência extraordinária” para o público.

Hora de pensar no futuro?

O especialista alertou que é hora de “a gente trazer o futuro para o presente” e focar na sobrevivência, esquecendo o planejamento anual e criando planos táticos com visão média de dois a três meses. Mas ressaltou que é preciso construir, no presente, as bases para o futuro, mas não ficar preso tão somente no agora.

Mas como fazer isso? Magaldi revelou que uma alternativa para lidar com esses dois tempos vem do mundo das startups e, consequentemente, da metodologia ágil (como, por exemplo, scrum, squad e sprint). “Você vai olhar o futuro e buscar entender aonde você quer estar, como você deve estar posicionado perante todas essas incertezas em um período mais largo, de um ano, que seja”, orientou, completando que “o seu plano tático deve se desdobrar em metas menores” com “experimentos de curto prazo”.

Humildade: legado empresarial pós-crise

Questionado sobre o que ele acreditava que a crise provocada pelo novo coronavírus poderia deixar de aprendizado para o ambiente empresarial, Magaldi foi enfático: “O entendimento da nossa pequenez. O entendimento de que nós, como indivíduos, temos que ser humildes no momento em que existem fenômenos que não estão ao nosso alcance. Se nós não nos adaptarmos, nós não seremos bem-sucedidos. Para nos adaptarmos, nós temos que ser humildes. O ego é um grande obstáculo para o aprendizado, para o crescimento, para a prosperidade.”


Acompanhe outros conteúdos que o CRA-SP produziu com Sandro Magaldi

Se você gostou do conteúdo desta live e quer conferir outras participações do Sandro Magaldi, siga o roteiro a seguir:


No Canal a Serviço da Administração, no Youtube, Magaldi participa do CRA Entrevista e fala sobre as transformações que os colaboradores, executivos e organizações precisarão sofrer para sobreviverem às mudanças já estabelecidas. Vale lembrar que esse programa foi gravado antes da pandemia.


Youtube Video



Também temos uma entrevista realizada com ele aqui, na Revista ADM PRO, abordando o tema Cultura Intraempreendedora e a cobertura de sua palestra de abertura no ENCOAD 2019.



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