Negócios mais conscientes - CRA-SP
Faça download do App |
Negócios mais conscientes

Ações sustentáveis em diversos níveis são práticas mais que necessárias nas empresas e o consumidor está de olho nisso

Nos últimos anos, a forma de pensar o negócio vem se transformando. Se antes as empresas focavam exclusivamente no lucro e na entrega de resultados, agora, com a mudança no comportamento do consumidor, as organizações precisaram repensar sua conduta e integrar ações que respeitem o conceito ESG, tornando, desse modo, o negócio mais sustentável.

Para discutir estas mudanças, a 12ª edição do Encontro do Conhecimento em Administração - ENCOAD promoveu, no primeiro dia do evento, em 13 de setembro, o painel Negócios Conscientes, que reuniu os especialistas Fabio Mariano (Top Voice Linkedin, doutor e mestre em Sociologia do Consumo pela PUC/SP), Juliana Chade  (gerente de preços e estudos de mercado at MegaWhat), Germano Julio Badi (consultor em Cultura Ética e Sustentabilidade) e Carlos Santiago (executivo na área de Governança Corporativa) para apresentarem diferentes vertentes relacionadas ao tema.

   Germano Badi

Iniciativas sustentáveis são essenciais

Após os efeitos nefastos da pandemia, que criaram necessidades de adaptação tanto no aspecto individual, com novos hábitos de consumo e formas de acesso aos produtos, como na rotina das empresas, que precisaram buscar por inovação, o mundo pós-pandemia tem forçado as organizações a priorizarem ações sociais que auxiliem no desenvolvimento de estilos de vida mais sustentáveis. 

Isso é o que aponta uma pesquisa da Euromonitor International, empresa global de pesquisa de mercado, que foi apresentada pelo consultor Germano Badi durante a sua apresentação no painel. O estudo revelou que 69% dos profissionais esperam que os consumidores se importem mais com a sustentabilidade agora do que antes da Covid-19; já 73% disseram acreditar que iniciativas de sustentabilidade são essenciais para o sucesso das marcas.

Badi trouxe, ainda, dados de outra pesquisa, desenvolvida pelo Instituto Akatu, que mostrou que 80% das pessoas esperam que as empresas sejam transparentes quanto aos impactos causados pelos seus processos produtivos, sejam eles de ordem ambiental, política, econômica ou social, assim como mais de 60% esperam que as corporações estabeleçam metas que tornem o mundo melhor.

Na opinião do consultor, para que as mudanças de fato aconteçam é necessário que uma cultura ética faça parte do DNA da organização. “Essa cultura se concretiza pela imagem da empresa na sociedade como um todo. Cada cliente busca algo, ou seja, os stakeholders fazem parte dessa avaliação, pois todos esperam algum produto, serviço, dividendo ou salário. Existe um abismo entre a revolução tecnológica e a evolução humana. E é chegado o momento de investirmos em seres humanos melhores, assim como organizações mais humanas”, pontuou.

         Carlos Santiago

Governança corporativa

A maturidade da governança corporativa e da liderança tem colaborado para que as organizações consigam lidar com a evolução do mercado e, consequentemente, construam negócios conscientes. Para tanto, as empresas de diferentes portes e segmentos têm buscado referências e o aprimoramento de seus sistemas de governança no Código das Melhores Práticas de Governança Corporativa, publicado pelo IBGC há pouco mais de duas décadas, e que já está em sua 5ª edição.

Segundo Santiago, nesse mundo VUCA (sigla em inglês que significa volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade), que constantemente se modifica e demanda capacidades cada vez mais importantes, a governança corporativa tem sido pressionada por maior regulamentação, complexidade dos negócios, concorrência, além da constante exigência da sociedade por mais transparência.

“Hoje, as empresas são avaliadas em dimensões bem mais abrangentes, que vão além dos seus objetivos econômicos e resultados. Para agregar valor, a instituição precisa ter também objetivos ambientais, voltados ao ecossistema, biodiversidade e meio ambiente; e objetivos sociais, relacionados ao empoderamento, equidade e diversidade, entre outros”, explicou o executivo.  

No entanto, a transformação que se exige no comportamento das empresas traduz a necessidade de mudança no modo de liderar, pois é preciso ter um foco mais humano e um mindset capaz de alinhar as práticas organizacionais à entrega desse propósito. “Os administradores têm um papel fundamental na gestão das organizações e na contínua evolução da governança corporativa, para que os sistemas harmonizem todos esses interesses, inclusive os dos consumidores”, complementou.

   Juliana Chade 

Consumo consciente de energia

No momento desafiador que o Brasil vive devido às crises hídrica e energética, que podem acarretar na falta de energia, Juliana comentou em sua exposição no painel sobre a importância do consumo consciente e o que nós, consumidores, podemos fazer para ajudar o País.

“Trocar lâmpadas incandescentes por led, trocar os equipamentos da indústria, diminuir o consumo do ar condicionado, apagar as luzes, tirar o laptop da tomada, não abrir muitas vezes a geladeira, enfim, existem inúmeras formas de ter um consumo com mais eficiência energética e, ao mesmo tempo, reduzir o custo e o risco de falta de energia”, ressaltou.

Pensando em alternativas para o futuro, Juliana sugeriu exemplos como os carros elétricos, os painéis solares, o armazenamento de energia em baterias de lítio, o sistema inteligente de medição e controle de carga, além da geração e armazenamento de energia. “Existem diversas maneiras de economizar e que podem ajudar o País a enfrentar a crise”, argumentou.

Tendências de negócios conscientes

Para saber se, de fato, uma empresa é consciente ou apenas está fazendo marketing é preciso analisar como ela se posiciona diante de causas sociais, políticas, entre outras. “Os negócios conscientes são aqueles que sabem o que deve ser feito e agem visando as consequências, implicações e resultados futuros”, explicou Mariano.

         Fabio Mariano 

O sociólogo apresentou as cinco tendências voltadas às manifestações do consumidor que ajudam a identificar se uma organização é, de fato, consciente. São elas: 

  1. Net-ativismo: conhecido como cultura de cancelamento, que sociologicamente diz respeito ao ajuste de conduta da empresa; 
  2. Causas: bons exemplos foram vistos na Disney, que personalizou seus produtos para o público LGBT, bem como no Magazine Luiza, que abraçou a causa voltada à violência doméstica, colocando em seu site um botão no qual a mulher consegue fazer denúncias de agressão;
  3. Responsabilidade: um exemplo clássico é o caso da Ambev que, em 2014, usou em sua campanha de carnaval o slogan “Esqueci o ‘não’ em casa”. Quando duas mulheres fizeram um manifesto nas redes sociais afirmando que iriam levar o ‘não’ para o carnaval, a Ambev, em menos de 24 horas, pediu desculpas e mudou toda a campanha no Brasil com novas frases, como “Tomou bota? Vai atrás do trio. Neste carnaval, respeite”;
  4. Empregabilidade: trata-se de gerar oportunidades de carreiras para os grupos excluídos e minorizados;
  5. Representatividade: manifestação de negócio consciente nos produtos da empresa. Um exemplo foi a Mattel, que criou bonecas Barbies pertencentes a diferentes estereótipos: negra, gorda, cadeirante, com vitiligo etc.

“Repense sua conduta. Dirigir um negócio consciente não é somente sentar numa cadeira e dizer o quão está tentando ser sustentável, mas impactar de fato a sociedade de uma forma ativa”, finalizou Mariano. 

A íntegra do painel Negócios Conscientes, realizado no primeiro dia do ENCOAD 2021, você encontra neste link.





O conteúdo foi útil para você?    
Faça login para deixar sua opinão

Assuntos relacionados com ENCOAD 2021

Revista Administrador Profissional - ADM PRO
Publicação física com periodicidade trimestral
Conteúdo produzido pelo Departamento de Comunicação do CRA-SP
Todos os direitos reservados