Revista ADM PRO - Você foi escolhida Administradora Emérita 2023 pelos profissionais registrados no CRA-SP. Como é para você receber esse reconhecimento? 

Andrea Alvares - É uma honra! É um reconhecimento que nos faz refletir sobre o caminho percorrido e, no meu caso, são 30 anos de jornada. Estou muito feliz de fazer parte dessa galeria de pessoas tão interessantes que já ocuparam esse lugar no passado, em particular as três mulheres que me antecederam (Luiza Helena Trajano, Claudia Costin e Deborah Vieitas), as quais admiro e tenho o privilégio de conhecer. É importante porque isso também sinaliza uma vontade de que a profissão evolua e inclua mais representatividade. Espero que, no futuro, vejamos negros e negras sendo reconhecidos nesse lugar. 

ADM PRO - Nesse caminho que percorreu, você quase se tornou uma bailarina profissional. Como foi o seu encontro com a Administração? 

Andrea Alvares - Bom, na verdade, eu deixei de ser bailarina porque tive uma tendinite no tendão de Aquiles. Até ganhei uma bolsa para estudar em Londres e realmente a minha vida estava meio que focada em ser bailarina clássica, mas a tendinite me tirou dos palcos do balé e me colocou em outros palcos mais tarde. Naquela época, eu estava um pouco perdida em relação ao que faria, mas achava que a Administração seria um curso amplo o suficiente para me dar muitas possibilidades de carreira. Além disso, tinha um amigo que estava fazendo a mesma faculdade que eu acabei cursando depois, que foi a Fundação Getúlio Vargas - FGV, e ele falava muito bem de lá. Então pensei: quero estudar numa excelente faculdade e vou trilhar por aí. O resto foi acontecendo organicamente a partir desse momento.

ADM PRO -  Partindo dessa escolha, como começou a sua trajetória? 

Andrea Alvares - O meu primeiro emprego foi como auditora externa na PwC (uma das maiores multinacionais de consultoria e auditoria do mundo) muitos anos atrás. Eu ainda estava na faculdade e recebi um convite para fazer parte de um programa de trainee que a multinacional oferecia aos alunos que tinham tido algum destaque na faculdade. Aprendi muito sobre vários segmentos e diferentes negócios, mas, estando lá, cheguei à conclusão de que a auditoria não era o caminho para mim. Tinha visto uma apresentação da Procter & Gamble - P&G na FGV, me encantei por aquele universo e pela proposta da empresa, apliquei para o programa de estágio, entrei e depois fui efetivada. Ali comecei uma carreira na área de Marketing e Estratégia, fui evoluindo até que, mais tarde, quando fui para a PepsiCo, assumi não só a cadeira de marketing de diferentes negócios, mas me tornei CEO da operação de bebidas no Brasil. Fiquei na PepsiCo por 15 anos, aprendi sobre diversos modelos de negócios muito distintos, até que me encontrei com a Natura, que era uma empresa que, como brasileira e profissional, eu tinha um imenso orgulho e apreciação. Então, quando veio o convite, foi irresistível e irrecusável. Fui para a Natura, onde trabalhei por sete anos na área de Marca e Inovação, a partir de pesquisa e desenvolvimento, e também Sustentabilidade, na qual a Natura é uma referência. Ai, mais tarde, liderei os negócios fora da América Latina. Foram sete anos muito felizes. 

ADM PRO - Em abril deste ano, você assumiu a presidência do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos. Na sua opinião, quais são as dificuldades para as empresas colocarem em prática os conceitos que são desenvolvidos em seus planejamentos nas áreas social e de meio ambiente? 

Andrea Alvares - Tenho imenso orgulho de ter assumido a presidência do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, uma organização que completou 25 anos em 2023 e que teve um papel determinante na elevação do debate e práticas do conceito de sustentabilidade, em um momento muito pioneiro, quando isso ainda não era a tendência que é hoje. Ao completar 25 anos, o Ethos continua com essa missão de influenciar por meio dos instrumentos, da consciência, do repertório e do pensamento de vanguarda, com relação ao papel do setor privado e dos negócios na construção da sociedade da qual a gente faz parte. Além disso, também tem como objetivo influenciar as políticas públicas que podem ajudar a acelerar essa mudança de comportamento e os estímulos que hoje incentivam os indivíduos e as empresas no seu dia a dia. Estou muito feliz, pois são temáticas importantes para serem trabalhadas, uma vez que a desigualdade é uma questão crítica no mundo e no Brasil. Existem muitas coisas que o setor privado pode e deve fazer para diminuir essa distância, que ainda vemos de forma resiliente e que precisamos desconstruir.

ADM PRO - Este ano, o tema central do ENCOAD (o maior evento do CRA-SP) foi o “Algoritmo da Empregabilidade”. Na sua opinião, como uma pessoa pode se tornar interessante para o mercado de trabalho e se manter produtiva diante de todas as transformações que temos vivenciado?

Andrea Alvares - Eu vejo como inexorável a entrada dos algoritmos na execução de muitas tarefas que hoje são feitas por pessoas, mas se alguém tem uma opinião definitiva sobre isso, essa pessoa é um guru, porque é muito difícil entender 100% dos impactos. Isso porque, em paralelo à introdução da inteligência artificial no mundo, existem muitas outras coisas acontecendo, como a própria crise climática e a reinvenção dos modelos de negócio a partir de uma lógica mais regional. Para mim, o grande desafio é: será que seremos capazes de trabalhar para que a tecnologia seja uma ferramenta a serviço da vida, do humano e não o contrário, objetivando apenas o lucro, um ganho financeiro puro e simples ou a perda dos recursos? O problema nunca foi a tecnologia e sim o uso que fazemos dela e eu espero que a gente saiba, como humanidade, ter essa sabedoria.