Ela faz história!

Deborah Stern Vieitas, eleita Administradora Emérita de 2022 pelo CRA-SP, compartilha sua bem-sucedida trajetória profissional e os caminhos que a levaram aos mais altos cargos nas organizações

Dona de uma renomada carreira executiva em grandes organizações, a Admª Deborah Stern Vieitas segue fazendo história em sua relevante jornada profissional. Sua competência, curiosidade e o prazer de assumir novas responsabilidades a levaram às mais altas posições nas empresas. Graduada em Administração Pública e mestre em Economia Internacional pela Fundação Getulio Vargas, além de mestre em Administração Pública pela École Nationale d’Administration da França (ENA), Deborah também possui bacharelado em Jornalismo pela Universidade de São Paulo - USP.

Registrada no CRA-SP sob nº 39471, ela possui em sua carreira um vasto histórico na direção de instituições financeiras, como a Caixa Geral de Depósitos, o BNP Paribas e o Crédit Commercial de France no Brasil. Em 2014, foi eleita pelo jornal Valor Econômico como uma das 10 melhores executivas do País; em 2015, foi a primeira mulher escolhida para o cargo de CEO da Amcham-Brasil, maior Câmara Americana de Comércio no mundo (cargo que ocupa até hoje); e, em 2017, teve seu nome incluído na lista das 54 mulheres mais influentes da Revista Forbes.

Entre os inúmeros reconhecimentos recebidos ao longo dos anos, Deborah conta agora com o Prêmio Administrador Emérito de 2022, promovido pelo CRA-SP e do qual saiu vencedora com 48% dos votos após escolha aberta ao público. Nesta entrevista exclusiva, ela conta o que esse prêmio representa em sua vida e também revela, entre outros assuntos, seus desafios como líder.

Revista ADM PRO - Você é formada em jornalismo e administração pública e optou por seguir sua carreira como administradora. Ao longo da sua trajetória foram quase 30 anos no setor bancário e, desde 2015, você atua como CEO da Amcham Brasil. O que a motiva a buscar novos desafios?

Deborah Vieitas - A primeira razão é uma certa curiosidade intelectual por muitas coisas. Isso está expresso até na minha formação. Eu senti necessidade de ter duas graduações diferentes e isso me complementava e estimulava. O segundo motivo é que eu sempre me interessei pelas dinâmicas que aconteciam nos dois setores. E foi por isso que iniciei a minha carreira no setor público e, depois, migrei para o privado. Sempre tive fascínio pela perspectiva internacional do mundo. Isso me fez trabalhar para muitas empresas estrangeiras, além de brasileiras. Também não nego que sempre gostei de assumir novas responsabilidades. Para quem está pronto e vai em direção às novas responsabilidades, elas acabam te procurando também. Trabalhar em equipe foi uma coisa que sempre me motivou muito, acredito na riqueza das perspectivas e sempre trabalhei bem em grupo. Por último, há uma questão de personalidade. Como eu gostava muito de trabalhar em equipe, essa questão da liderança foi emergindo e eu fui exercitando ao longo do tempo.

ADM PRO - Você é a primeira mulher a ocupar uma cadeira de CEO na Amcham. O que isso representa para você? Qual o peso dessa colocação para a ampliação da representatividade feminina na liderança empresarial?

Deborah Vieitas - Em primeiro lugar é muito gratificante para mim ver a evolução das mulheres em posições de liderança. Fico muito feliz que eu tenha sido a primeira CEO mulher da Câmara Americana. Na medida em que essa Câmara já tem mais de 100 anos, este foi um movimento necessário, com o qual eu procurei colaborar. Em 2015, lançamos a nossa cartilha de diversidade, mostrando a importância desse movimento para o sucesso das empresas. Entendo que quanto mais mulheres se tornarem líderes de empresas ou líderes do setor público, mais isso servirá de estímulo e exemplo para cada uma de nós, para cada uma das jovens administradoras que estão procurando o seu espaço profissional. É óbvio que ocupar uma cadeira de liderança não é tarefa simples. Há um esforço significativo em termos de dedicação e de ampliação de competências que cada uma tem que fazer. Mas o caminho não é fácil pra ninguém. Estamos em um País onde as oportunidades ainda não são acessíveis para todos. Mas sempre apostei muito na minha formação acadêmica, entendi desde cedo que primeiro chegam as responsabilidades e depois o reconhecimento, o que é também uma etapa importante.

ADM PRO - Quais desafios você encontra no seu papel de líder?

Deborah Vieitas - Os principais desafios atuais para as lideranças vieram da realidade trazida pela pandemia. Por um lado, nós descobrimos que há outras formas de trabalho e que elas podem ser tão eficientes quanto aquelas que nós já conhecíamos. No entanto, estamos engatinhando nos formatos e nas ferramentas que permitam manter uma cultura organizacional forte, treinar pessoas adequadamente e promover a integração de diferentes equipes que têm que trabalhar juntas. O segundo aspecto, também provocado pela pandemia, é que as empresas tiveram suas missões ampliadas. Hoje, há uma consciência social importante, a gente vê as desigualdades que foram geradas pela Covid-19. As empresas também sabem que elas são responsáveis por atuar no meio ambiente reduzindo as emissões de gás carbônico que o seu processo produtivo e dos seus fornecedores causam. É o que nós chamamos hoje de agenda ESG, do ambiental, do social e da governança. Há também a questão da diversidade e sabemos que esses novos requisitos para os administradores são uma exigência da sociedade e dos investidores. Outro elemento que a pandemia também nos trouxe é a questão do fator geracional. Essa nova geração já vem na era da ansiedade e um grande desafio nesse momento é desenvolver a resiliência. Estamos em um mundo em constante mudança, portanto, temos que trabalhar como somos capazes de aceitá-la, e ter, ainda, a capacidade de usar o melhor das nossas características para lidar com esse contexto.

ADM PRO - Qual o seu perfil de liderança? E o que você considera importante nessa jornada?

Deborah Vieitas - Eu sou uma liderança muito hands on e muito assertiva. O meu nível de exigência está mais para uma corrida sem linha de chegada do que para muita tranquilidade e conformismo. Sou muito inquieta e acredito que sou empática, mas muito direta com todos, acho que é a melhor maneira que se tem para construir soluções positivas e duradouras. Os líderes têm que inspirar criatividade, compromisso compartilhado, crescimento em tempos bons ou ruins, como o que ainda estamos vivendo. Os bons líderes criam um ambiente onde todos podem fazer o seu melhor trabalho. Acho que essa é uma habilidade importante. E, obviamente, como todos sabem, a tecnologia e inovação é o que vai nos levar mais longe, mas é importante criar um ambiente na empresa onde todos possam experimentar, errar e aprender com o erro. Outro ponto é a diversidade, uma ferramenta poderosa para que as empresas se aproximem dos seus colaboradores e clientes. Muitos países já mostraram que a inserção da diversidade nos negócios gera um crescimento de resultados para todos. Várias pesquisas mostram que o crescimento do PIB global poderia ser de doze trilhões se tivéssemos ainda mais mulheres no mercado de trabalho. E esse é só um dos aspectos da diversidade.

ADM PRO - Quais são as suas expectativas em relação às economias do Brasil e dos Estados Unidos? Como anda a relação de negócios entre os dois países? E, apesar da instabilidade econômica em que o Brasil se encontra, ele se mantém atrativo para o investimento internacional?

Deborah Vieitas - O mundo hoje, não só os Estados Unidos e o Brasil, atravessa um período no qual temos três grandes desafios. O primeiro deles é a inflação, por força do aumento dos preços do petróleo, que veio com a instalação da guerra entre a Ucrânia e a Rússia. O segundo é que a guerra provocou uma ruptura da cadeia de suprimentos no mundo inteiro e elas ainda não se restabeleceram, acabando por alimentar a inflação nos diferentes países. E, por último, a aceleração das mudanças climáticas e das desigualdades sociais também foram frutos importantes da pandemia. Os três desafios ainda vêm acompanhados de um contexto de muita polarização política nos mais diversos países. Os Estados Unidos não passaram incólume a tudo isso. Os efeitos da pandemia, combinado com os fatores que mencionei, geraram uma inflação que está na casa dos 9% e os Estados Unidos vivem um momento de tensão, porque depois de dois trimestres de crescimento econômico negativo, temos que constatar se, de fato, eles estão numa recessão e o quão profunda ou duradoura ela pode ser. Já na economia brasileira, também estamos convivendo com a inflação alta e o baixo crescimento, apesar de uma pequena melhora recente na expectativa do crescimento do PIB para 2022, que passou de 0,8% para 1,6%. Mas a grande incógnita é o que nos reserva 2023 e aí vem uma pergunta importante: teremos um governo que entende a importância da manutenção do equilíbrio fiscal para o fomento dos negócios e para atração dos investimentos estrangeiros? Essa é uma pergunta que fica aqui pra todos nós. A relação entre Brasil e Estados Unidos está num bom momento. É uma relação forte e os Estados Unidos ainda são o nosso segundo maior parceiro comercial, só ultrapassado pela China. Do lado do investimento, os números são impressionantes. Os EUA têm um estoque de investimento no Brasil de US$ 120 bilhões. Outro fato também importante é que 65% das nossas multinacionais têm investimento nos Estados Unidos e a gente percebe que eles são um destino de preferência para essas empresas. Já o Brasil é uma das maiores democracias do mundo. É um País com instituições fortes, somos agraciados com o que há de melhor em termos de recursos naturais e também temos aqui um capital humano extraordinário. Então, esses são fatores muito relevantes nas decisões de investimento.

ADM PRO - Ser mãe e CEO. Como você conciliou estes dois papéis?

Deborah Vieitas - Tenho que confessar que sou mãe de dois adultos, mas posso retomar um pouquinho de como foi pra mim esse momento, quando tive meus filhos, era profissional e precisava conciliar tudo. É muito difícil ser uma profissional de sucesso sem ter uma rede de solidariedade. Essa rede é composta por família, amigos e até ajudas externas, que a gente possa ter o privilégio de ter. Essa rede é aquela que tranquiliza a mulher que precisa dar o seu melhor no trabalho e não a priva de ser uma boa mãe. Posso dar um depoimento, porque estou bem à frente nesse processo: meus filhos têm muito orgulho da profissional que sou. Meu marido sempre foi o meu maior apoiador, junto com os meus pais. Eles entenderam muito bem o quão importante era ter a minha carreira profissional. Torço para que todas as mulheres tenham o privilégio de conseguir formar uma rede de solidariedade para continuar se desenvolvendo profissionalmente.

ADM PRO - Você está sendo homenageada como Administradora Emérita de 2022 pelo CRA-SP. Em algum momento você imaginou que seria o nome do ano da Administração pelo CRA-SP? O que representa ganhar esse prêmio e qual conselho você pode dar aos administradores que, seguindo o seu exemplo, também querem alcançar grandes conquistas na carreira?

Deborah Vieitas - Não, sou honesta, eu não imaginei de forma nenhuma que um dia eu teria esse privilégio e essa honra de receber o prêmio de Administradora Emérita do CRA-SP. É motivo de muito orgulho pra mim, porque isso vem como um reconhecimento da minha carreira. Todos nós precisamos desse reconhecimento para se motivar e continuar esse desenvolvimento profissional. Espero que as administradoras que estão sabendo que eu recebi esse prêmio sintam que um pedacinho dele é de cada uma delas. Elas estão lá, em algum momento das suas carreiras, querendo ir atrás desse crescimento e vendo que é possível alcançar uma posição de liderança, seja como administradora de uma empresa de terceiros ou do seu próprio negócio. Existe hoje no Brasil um grupo muito grande de mulheres que lideram o empreendedorismo brasileiro e isso é muito importante, porque nós precisamos delas. Não acredito que as coisas acontecem sem um grande esforço da parte de cada um e esse reconhecimento do CRA-SP é muito importante para nós.

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