Estratégia ágil na Administração 4.0 - CRA-SP
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Estratégia ágil na Administração 4.0

Novos modelos de trabalho avançam em organizações tradicionais que buscam se adequar a metodologias mais ágeis de gestão para se manterem ativas no mercado.

A jornada rumo à Indústria 4.0 vem exigindo de empresas já consolidadas há décadas muito mais do que a rápida adaptação à inovação tecnológica. Pensar e agir como uma startup, com otimização de recursos e alto potencial de escala, tornou-se uma questão de sobrevivência para empresas de todos os tamanhos e setores, que agora se veem diante do desafio de aderir à gestão de alta performance com foco não só na tecnologia, mas, também, no engajamento de pessoas e na execução de processos cada vez mais eficientes. 

Porém, apesar de urgente, para que empresas tradicionais, com anos de atuação no mercado, consigam se adaptar ao “jeito startup” de gerir seus negócios, é preciso, além de vontade, uma boa dose de coragem, afinal, a adequação às mudanças requer uma reavaliação das métricas de sucesso e evolução. De acordo com o americano Eric Ries, empreendedor do Vale do Silício e criador do movimento Lean Startup, isso significa que as organizações deverão deixar um pouco de lado a questão do lucro e controle do negócio a qualquer custo, para se tornarem mais humanas, democráticas, rápidas e científicas nas tomadas de decisões, além de desenvolverem flexibilidade estratégica para alcançarem o sucesso. “No século XXI, como desenhar uma fórmula organizacional que irá funcionar durante todo o século? O mundo está evoluindo de formas inéditas e temos que fazer experimentos organizacionais da mesma forma que experimentamos produtos. É necessária uma mudança cultural. E isso só é possível por meio de uma transformação na mentalidade”, destacou o autor do best-seller “The Lean Startup”, durante sua participação na 20ª edição do HSM Expo, realizada entre os dias 9 e 11 de novembro, em São Paulo.

Eric Ries - criador do movimento Lean Startup

Movimento ágil

Reconhecidas por oferecem maneiras mais diretas e eficientes de lidar com problemas e aumentar a produtividade, as metodologias ágeis de gestão carregam em seu DNA os princípios e valores derivados do Manifesto Ágil (ver quadro), criado em fevereiro de 2001 por 17 profissionais do segmento de desenvolvimento de software, que se reuniram no estado norte-americano de Utah, para melhorarem seus processos e torná-los mais valorosos, seguros e assertivos para seus clientes.

Segundo Eduardo Carmello, fundador da Entheusiasmos Consultoria em Talentos Humanos, o conceito de metodologias ágeis é uma inovação em relação à metodologia vigente na época do “Manifesto”, conhecida como Cascata (Waterfall), que sugeria que todo projeto deveria ser planejado com profundidade, depois executado totalmente e, por fim, lançado para, só então, ser testado, validado e, talvez, comprado pelos clientes. “Planejamento excessivo, execução demorada, tanto no desenvolvimento quanto na entrega, levavam o produto à perda de sua função primordial e de valor. As metodologias ágeis foram fundamentais para fazer frente a todo tipo de mudança complexa que ocorria durante o desenvolvimento de produtos”, conta.

Para o professor e gerente de projetos, Paulo Flávio Schiavotto, com a adoção de metodologias ágeis, as organizações conseguem responder de forma mais rápida às necessidades de seus clientes, primar pela inovação e adaptação a novas realidades, além de alcançarem melhor posicionamento no mercado de forma geral. Outros benefícios a serem considerados são a melhora da comunicação; aumento da colaboração entre as pessoas envolvidas; ambiente mais dinâmico; eliminação de burocracias desnecessárias e maior satisfação do cliente. 

      Eduardo Carmello - fundador da Entheusiasmos

Gestão ágil na prática

O empresário e investidor-anjo, Sean Ellis, considerado o pai do Growth Hacking - termo cunhado por ele que diz respeito ao marketing orientado a experimentos para promover o crescimento acelerado - entende que para uma empresa se tornar eficiente são necessárias três coisas: mindset de crescimento, foco em dados e missão compartilhada. Mas não só isso. De acordo com o especialista, que também figurou entre os palestrantes do HSM Expo 2019, antes de qualquer medida, a organização precisa definir uma métrica que se alinhe à equipe inteira, chamada de métrica estrela-guia. “A métrica estrela-guia cria alinhamento e todos remam na mesma direção. Idealmente, a métrica reflete a razão de existir do negócio e também o valor que você entrega para os clientes”, explica.

Ellis ainda cita como exemplos as métricas estrela-guia de empresas como o Uber, baseada no número de corridas; Facebook, que busca usuários ativos diariamente e provoca: “Você  deve estar se perguntando: ‘por que essas empresas não focam na receita, que seria uma boa métrica para indicar o crescimento?’ A resposta é que as equipes não se inspiram tentando apenas aumentar a receita. Mas se estão focadas e entendem a missão, uma métrica que se relacione com esta missão estimulará o engajamento e a vibração pelo crescimento. Por outro lado, se a receita está crescendo, mas o valor para os clientes não, esta receita acabará caindo. O que a empresa precisa fazer é ter uma métrica próxima ao valor. A métrica cresce e a receita acompanha o crescimento.” E para entender como a métrica estrela-guia atua no negócio, Ellis é enfático: “faça testes”. Segundo ele, quanto mais testes forem aplicados, mais rápido a empresa encontrará formas de crescer.

Sean Ellis - pai do Growth Hacking

Outro jeito eficiente de promover o crescimento, segundo Ries, é envolver todos os colaboradores no processo de desenvolvimento de ideias para produzir um MVP – Produto Mínimo Viável (versão experimental de um produto, desenvolvido de forma ágil e econômica) e, por meio dele, obter informações e aprender sobre as necessidades e expectativas do cliente final, a fim de evitar esforços na criação de recursos desnecessários ou que não sejam do interesse do consumidor. 

Metodologias ágeis

Antes de decidir pela adesão de qualquer metodologia de gestão ágil, Schiavotto alerta para a necessidade de compreender, de fato, quais os benefícios que a transformação proporcionará à empresa para, a partir daí, promover um amplo trabalho de conscientização e implementação. Ele recomenda, ainda, que a execução ocorra de forma setorial, até que toda a empresa esteja “rodando em ágil”.

Vale lembrar, ainda, que agilidade na gestão consiste na divisão do projeto em etapas menores, o que agrega muito mais valor ao produto e torna as áreas de desenvolvimento mais estratégicas e menos burocráticas. Conheça, a seguir, alguns dos principais métodos ágeis de gestão utilizados atualmente, segundo o metodoagil.com:

      Paulo Schiavotto - professor e gerente de projetos

- Scrum: é um framework para gestão de projetos que tem uma abordagem iterativa (realizado inúmeras vezes) e incremental. É ideal para projetos de alta complexidade e que tenham um objetivo bem definido. É o método ágil mais utilizado no mundo, com quase 80% dos projetos;

- Kanban: não é apenas um quadro na parede, pelo contrário, é um método de gestão focado em fluxos de valor. No Kanban, a evolução do processo é constante, devido à visibilidade de problemas que ele traz;

- eXtreme Programming (XP): é uma metodologia que tem como valores principais a comunicação, simplicidade, feedback, coragem e respeito. É uma excelente abordagem para equipes pequenas e que têm constantes mudanças de escopo;

- Feature Driven-Development (FDD): é uma metodologia ágil guiada pelo desenvolvimento de funcionalidades. Basicamente, no FDD existem duas fases no desenvolvimento de uma funcionalidade que é a concepção e construção;

- Lean: apesar de ter nascido dentro dos conceitos de startup, o Lean é um método bastante utilizado no desenvolvimento de produtos. Esse método é fortemente indicado para validação de ideias e hipóteses. É constituído por três passos: construir, medir e aprender. 

Líderes ágeis

A melhor forma de promover a implantação de métodos ágeis na organização, como disse Ellis, se dá por meio da missão compartilhada. E, nesse cenário, a liderança tem papel fundamental, especialmente no que diz respeito à descentralização de decisões, de forma a permitir que colaboradores desenvolvam outras habilidades para buscar soluções. Esta postura, segundo Carmello, fomenta um ambiente de extrema confiança, em que a equipe pode questionar as decisões da liderança, descobrir e comunicar erros, além de ter autonomia para corrigir o problema rapidamente, produzindo soluções de forma rápida e coerentes com a promessa da marca. “O líder com mentalidade ágil defende a excelência dos princípios e entregas, ao invés de defender o ‘status quo’, feudos, interesses pessoais e políticos. Desta forma, gera segurança psicológica, extremamente necessária para formar equipes inovadoras, autônomas e que transformam inconsistências e desalinhamentos em resolutividade para benefício dos clientes”, frisa.

Enfim, enquanto o executivo tradicional tenta fugir do problema, o líder ágil vai atrás do problema, porque entende que o negócio da empresa está onde ninguém quer estar. O que ele faz, então, é manter o modo aprendizado “on” e priorizar a interação entre a equipe para fazer o negócio girar, consciente de que o retorno não é somente financeiro, mas engloba também reconhecimento de marca e, muitas vezes, a expansão de mercado. Além disso, de acordo com Carmello, por vivermos em ambientes mais complexos, não é mais possível liderar com um mindset dicotômico, tendo que escolher entre tecnologia e pessoas. “Todas as empresas ágeis sabem que precisam, sempre, integrar e ponderar quais processos são relevantes, quais pessoas tocarão a gestão e como irão catalisar as tecnologias para a construção de uma proposta única de valor. É preciso pensar como um ‘agilista’, atuando como um malabarista”, diz.

Ao que tudo indica, este novo perfil de liderança, mais alinhado aos benefícios das metodologias ágeis e habilitado para lidar com os desafios impostos pela chamada 4ª Revolução Industrial (saiba mais na matéria “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”), será determinante na construção de organizações mais inovadoras, colaborativas e de propósito definido nos próximos anos. Você está preparado(a)? 

MANIFESTO Ágil

Originalmente criado para atender às necessidades da indústria de software, os valores e princípios do Manifesto Ágil podem e devem ser aplicados a organizações de qualquer setor. Confira: 

  • Valores

    1.    Indivíduos e interação mais que processos e ferramentas;

    2.    Software em funcionamento mais que documentação abrangente;

    3.    Colaboração com o cliente mais que negociação de contratos;

    4.    Responder a mudanças mais que seguir um plano.

  • Princípios

    1.    Nossa maior prioridade é satisfazer o cliente, através da entrega adiantada e contínua de software de valor;

    2.    Aceitar mudanças de requisitos, mesmo no fim do desenvolvimento. Processos ágeis se adequam a mudanças, para que o cliente possa tirar vantagens competitivas;

    3.    Entregar software funcionando com frequência, na escala de semanas até meses, com preferência aos períodos mais curtos;

    4.    Pessoas relacionadas a negócios e desenvolvedores devem trabalhar em conjunto e diariamente, durante todo o curso do projeto;

    5.    Construir projetos ao redor de indivíduos motivados. Dando a eles o ambiente e suporte necessário, e confiar que farão seu trabalho;

    6.    O método mais eficiente e eficaz de transmitir informações para, e por dentro de um time de desenvolvimento, é através de uma conversa cara a cara;

    7.    Software funcional é a medida primária de progresso;

    8.    Processos ágeis promovem um ambiente sustentável. Os patrocinadores, desenvolvedores e usuários, devem ser capazes de manter, indefinidamente, passos constantes;

    9.    Contínua atenção à excelência técnica e bom design, aumenta a agilidade;

    10. Simplicidade: a arte de maximizar a quantidade de trabalho que não precisou ser feito;

    11. As melhores arquiteturas, requisitos e designs emergem de times auto-organizáveis;

    12. Em intervalos regulares, o time reflete em como ficar mais efetivo, então, se ajustam e otimizam seu comportamento de acordo.


Fonte: Agile Alliance



LUCIANA SOARES DA SILVA

31/12/2019 Teste
Revista Administrador Profissional - ADM PRO
Publicação física com periodicidade trimestral
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