Reflexões sobre o papel da psicologia organizacional diante de conflitos institucionais - CRA-SP
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Reflexões sobre o papel da psicologia organizacional diante de conflitos institucionais

Inicialmente, é necessário enfatizar que a Psicologia Organizacional no Trabalho deve compreender, explorar e analisar as relações interpessoais nas organizações, elaborando estratégias para promover e estabelecer a qualidade de vida e bem estar dos colaboradores da Instituição.

Diante da globalização, do desenvolvimento tecnológico, da ampliação da importância das mulheres, dos negros, dos povos originários, dos idosos, das pessoas com deficiência e da população LGBTQI+ como forças transformadoras, bem como em relação às alterações dos papéis sociais e das configurações dos núcleos familiares, torna-se imprescindível o entendimento e a instrumentalização das pessoas em relação à quebra de paradigmas e preconceitos existentes.

É por meio da instrumentalização, da educação e compartilhamento de conhecimento que passamos a desconstruir o machismo estrutural e os preconceitos oriundos dele, presentes também nos ambientes organizacionais há décadas.

Nesse sentido, considerando os conhecimentos trazidos por Abraham Maslow, torna-se necessário suplantar os degraus da pirâmide referentes aos níveis básicos de sobrevivência, passando por uma solidificação em relação aos aspectos de segurança, respeito, pertencimento, liberdade de expressão e reconhecimento nas empresas, independente da raça, gênero, credo, cor, aparência ou orientação sexual das pessoas.

Muitas organizações perdem talentos devido à inércia de seus líderes, que não se atentam às singularidades, emoções e aptidões de seus colaboradores, permitindo a criação de um clima organizacional ruim, onde as pessoas adoecem mentalmente, devido práticas de assédio moral, assédio sexual, homofobia, entre outros preconceitos.

São milhares de profissionais que lidam com crises de ansiedade, pânico, depressão, síndrome de Burnout, entre outras enfermidades, muitas vezes por meio de práticas permitidas dentro do ambiente de trabalho, escoradas na fachada da brincadeira ou gozação.

Não faltam exemplos de ações praticadas que caracterizam crimes, sendo necessária a preservação dos funcionários que sofrem essa discriminação, bem como a instrumentalização e educação de toda Instituição em relação à diversidade dentro do ambiente de trabalho.

É importante elucidar que as organizações permissivas são tão responsáveis pelos crimes quanto àqueles que os praticam, sendo inclusive responsabilizadas pelo Ministério Público do Trabalho.

Nesse sentido, é importante debater e criar uma clínica de trabalho, para elaborar plano de conscientização e educação para as equipes, por meio de rodas de conversa e palestras que tragam à tona as raízes dos preconceitos, demonstrando que todos nós somos preconceituosos, em diferentes graus, devido à replicação de valores equivocados durante nossa educação. Entretanto, tal situação nos traz a oportunidade de aprendizado, de mudança de hábitos e comportamentos, além do respeito com as outras pessoas.

Embora existam consultorias especializadas, torna-se importante mesclar a participação dos gestores, coordenadores e supervisores da organização, para que as ações comecem a ser praticadas por meio da liderança baseada na alteração do comportamento dos próprios líderes, que serão os multiplicadores nesse processo de transformação junto às suas equipes.

Temas como saúde emocional, depressão, síndromes de pânico e Burnout deverão ser abordados nas ações, pois elas trarão intrinsicamente a oportunidade de abordar as situações existentes no ambiente de trabalho, que englobarão exemplos de assédio, discriminação, homofobia, violência contra as mulheres, entre outros elementos muito comuns em nosso dia a dia (infelizmente).

Paralelamente, para que as ações tenham efeito, é importante criar um código de conduta ética, esclarecendo o comportamento esperado dentro do ambiente de trabalho, bem como mecanismo para denúncia de situações onde existam assédios de qualquer tipo, demonstrando que as denúncias serão apuradas, cabendo aos envolvidos a responsabilidade pelos seus atos.

Outro ponto a ser trabalhado é o suporte psicossocial para aqueles que sofrem o assédio. Neste sentido, é possível realizar parcerias com instituições de apoio e acolhimento, para que as pessoas possam receber o apoio e tratamento quando necessário.

Por fim, a criação de um programa de bem estar e qualidade de vida poderia ser implementado, com comissão composta pelos próprios colaboradores da organização, com ações permanentes que possam explanar de maneiras diferentes (por vivências, veiculação de filmes, documentários, ações criadas por funcionários) os impactos que o assédio gera sobre a sociedade e os problemas que as pessoas enfrentam vivendo nesse cenário, pois, assim, será possível despertar a prática da empatia e do respeito mútuo.

Referências Bibliográficas

CHANLAT, J. F. O indivíduo na organização: dimensões esquecidas. Tradução de Arakcy M. Rodrigues et al. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.

CHIAVENATO, I. Recursos Humanos: o capital humano das organizações. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2009.

COMAZZETTO, L. R. et al. A geração Y no mercado de trabalho: um estudo comparativo entre gerações. Psicologia: ciência e profissão, v. 36, p. 145-157, 2016. 

https://www.scielo.br/j/pcp/a/sMTpRhKxjvNjr7wQV9wFksH/?lang=pt&format=pdf. Acesso em: 31 out. 2021. 

ZANELLI, J. C. Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil. 2. ed. Porto Alegre: ArtMed, 2014.

Por Adm. Paulo Rogério Delgado

CRA-SP nº 126134

Especialista em Administração de Empresas pela PUC-SP. Coordenador da área administrativa (que engloba as esferas de almoxarifados, contratações, gestão de pessoas, patrimônio e finanças) no SESC-SP, unidade Pompeia. 




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