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Planeje-se para as mudanças

Nunca foi tão difícil prever o que pode ou não dar certo dentro das estratégias empresariais. Ao reconhecer, porém, que esse cenário de incerteza é definitivo, as organizações poderão se adaptar mais facilmente às transformações e definir melhores caminhos para seus negócios

Muitos planejamentos estratégicos caíram por terra depois da pandemia do novo coronavírus. Afinal, como imaginar que 2020 seria tão diferente de tudo o que foi pensado lá em 2019, quando as organizações traçaram seus planos de ação para o ano que estava por vir? Por mais que houvesse preparação para uma possível crise, é inegável que ninguém imaginava o quanto ela seria impactante e aceleraria uma transformação digital que mudaria os rumos das relações de trabalho, das vendas e, principalmente, da sobrevivência dos negócios. Uma das principais lições do novo coronavírus para o planejamento empresarial foi, portanto, a capacidade de ser flexível para alterar planos tão meticulosamente pensados. 

É claro, porém, que só a flexibilidade não garante o bom funcionamento de uma empresa. “Entendo que o primeiro ensinamento que a crise nos traz é a necessidade de antecipar os eventos que estão por vir, ou seja, ir além do planejamento estratégico descritivo e entender o que está havendo no macro ambiente, aquilo que pode afetar o país, o setor e a empresa. É essencial que se tente traçar três ou quatro cenários possíveis. A ideia não é prever o futuro, mas aprender sobre o que pode estar por vir e propor alternativas, dadas as condições atuais que estão ocorrendo no mundo”, explica Marina Amado Bahia Gama, doutora em Administração e professora da FGV-EAESP. 

   Marina Amado Bahia Gama

Como replanejar 2020?

Até o fechamento desta matéria, muita incerteza ainda pairava no ar, embora alguns governos e setores já se mobilizassem para uma volta gradativa das suas atividades “normais”. Diante desse panorama, como essas empresas, dos mais diferentes segmentos da economia, devem repensar suas ações para este ano? Para a professora da FGV, o primeiro passo é encarar a mudança e dar prioridade a questões que, seis meses atrás, provavelmente nem estariam em pauta, como o distanciamento social e os ensinamentos e resultados obtidos com o trabalho via home office

Para Federico Servideo, sócio da PwC Brasil, empresa de consultoria e auditoria, há ainda que se considerar qual o impacto efetivo da crise em cada organização, de acordo com o ramo de atuação e as perspectivas de recuperação. “Quanto maior o impacto e mais longa a persistência, será requerida uma reformulação total dos negócios, suas estratégias e plano de ação. No outro extremo, se os impactos são moderados e a persistência é curta, a resiliência destes negócios pode indicar oportunidades de desenvolver planos de crescimento. Já se os impactos são elevados e a persistência curta, a gestão de caixa é fundamental nos planos. Por fim, se os impactos nos indicadores são moderados e a persistência da crise é longa, os planos podem contemplar uma ampliação das posições de liderança nos mercados de atuação”, orienta. 

Isso porque apesar de a crise afetar a todos, é inegável que algumas áreas estão sofrendo mais do que outras. Servideo lembra, por exemplo, que o setor de turismo foi um dos mais impactados, devendo ainda amargar um longo período de recessão pela frente. Por outro lado, o ramo de energia teve um impacto moderado com a crise e, provavelmente, se recuperará de forma mais rápida. O executivo sugere, entretanto, que todas as organizações repensem alguns itens essenciais. “Na minha avaliação, todos os planos devem contemplar aspectos como reforçar a estratégia, impulsionar diferenciais, moldar e alavancar a cultura organizacional, otimizar custos e rever a eficiência operacional, desenvolvendo a tecnologia e a digitalização”, esclarece.  

Para o próximo ano, a professora Marina lembra que ainda é necessário pensar em um período bem turbulento, não só apenas em relação à pandemia, mas também à situação política do país e à desvalorização da nossa moeda. “Com base nestes diferentes cenários, será preciso desenvolver um planejamento estratégico que permita certa flexibilidade. Esse planejamento deve ser um norte para a empresa, mas não algo engessado, ainda mais em um ambiente incerto no qual estamos e que, provavelmente, continuaremos nos próximos meses. Um outro ponto essencial para 2021 é entender a importância dos governos e não apenas se atentar às questões econômicas”, sugere.

         Federico Servideo - Créditos: Paula Ruiz

Pequenas e médias empresas

Dificuldades no acesso ao crédito, problemas na obtenção das ajudas propostas pelos governos, resistência às mudanças em empresas familiares, pouca digitalização das atividades e reduzido fluxo de caixa para sobreviver a um longo período sem receitas. Se em tempos normais a vida dos pequenos e médios empresários já não é fácil, durante a crise é que se tem a exata noção das fraquezas dos negócios que dependem do dia a dia para sobreviver. Embora suas dificuldades sejam maiores em relação às grandes organizações, as PMEs contam com uma vantagem: por serem menores elas conseguem, mais rapidamente, mudar os seus processos para transformar o negócio. 

Servideo orienta essas empresas a reconhecerem que poucas coisas serão como antes. Para ele, as relações comerciais serão mais diretas e os desafios de manter o trabalho remoto com a integração e engajamento dos colaboradores será expandido. Além disso, os preços dos bens e serviços experimentarão um novo (menor) patamar e, não necessariamente, voltarão ao que eram, acirrando a disputa pelos clientes e, também, por novos consumidores. 

Ao mesmo tempo em que a concorrência será mais um item no qual as empresas deverão focar seus esforços, também vemos o aumento do trabalho em rede, do apoio entre diversos setores e empresários, item que certamente precisa ser incluído no planejamento das organizações. No final de março, quando a crise do coronavírus colocou o País em quarentena, o Magalu, marketplace do Magazine Luiza, lançou em parceria com o Sebrae a plataforma gratuita Parceiro Magalu, na qual micro e pequenos empresários puderam vender seus produtos e continuar operando durante esse isolamento. Uma ação que revelou a importância do trabalho em rede, tendência que há tempos vem se consolidando com uma das grandes projeções para o futuro. 

Em live realizada pelo CRA-SP no início do mês de junho, para falar como os empresários podem fortalecer o Brasil agora, Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração do Magazine Luiza, afirmou que a iniciativa da criação do Parceiro Magalu fez parte do pensamento de que todos os empresários, bem como os cidadãos, precisam se sentir responsáveis pelo desenvolvimento do País. 

Diante de tantas mudanças, Servideo orienta algumas ações para os pequenos e médios negócios daqui para frente. “Garantir a harmonia entre os diversos setores, não comprometer o futuro com decisões correntes de menor impacto, manter um olhar detalhista em tudo e dividir o tempo entre analisar o hoje e pensar no futuro. Todo dia é dia de fazer um plano”, finaliza. 




RODRIGO TADEU TAVARES

05/08/2020 Parabéns por esse excelente conteúdo nessa análise de abrangência coerente e assertiva.
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