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Como escolher um sócio?

Antes de definir o parceiro ideal para dividir o dia a dia de um negócio, é fundamental analisar alguns fatores que podem garantir o bom desempenho da sociedade

Seja em um novo empreendimento ou em um negócio já consolidado, uma das grandes dúvidas que acometem os empreendedores é como definir a pessoa com a qual serão divididas as responsabilidades da empresa, afinal, para que a sociedade seja bem-sucedida, o perfil do sócio precisa estar alinhado aos propósitos e conceitos do projeto.

Para acertar na escolha, é importante considerar alguns fatores antes da decisão final. Ao pensar em um potencial sócio, é fundamental analisar suas competências, contatos, recursos financeiros e o que ele pode agregar às atividades. “Avalie os valores, propósitos, histórico de conquistas, currículo e reputação. Questione se ele tem problemas jurídicos ou de crédito, pois isso pode comprometer os negócios futuros da sociedade”, alerta o CEO da Faculdade Brain Business School, Adm. Ricardo Mollo.

Outros pontos a serem considerados, segundo o administrador, são os conhecimentos técnicos e, ainda, as competências comportamentais, entre elas o trabalho em equipe, a liderança, o poder de argumentação, a sua comunicação, além da visão sistêmica e crítica. 

Fuja de ciladas

Entre os erros clássicos em uma sociedade, a consultora do Sebrae-SP, Esmeralda Queiroz da Cruz, aponta alguns exemplos que acontecem com frequência. Um deles é convidar uma pessoa para ser sócia apenas com o intuito de ajudá-la. “Se seu amigo precisa de apoio, indique-o para as oportunidades que você conhece, mas não o chame para sócio. A chance de ‘azedar’ é muito grande, pois ele está vindo pelo motivo errado e não porque está alinhado ao projeto, tem competência e agrega ao negócio”, exemplifica a consultora.

Mais um equívoco é confiar na pessoa porque ela é da família. “Sem desmerecer o valor familiar, mas a confiança não deve ser o critério que transforma alguém em sócio. O ideal é que seja alguém com convergência de propósito e que complemente os conhecimentos e as habilidades necessárias para a gestão do negócio”, elucida Esmeralda.

      Esmeralda Queiroz da Cruz

Trabalhar sem registro, por ser no âmbito familiar, também está na lista dos erros mais comuns. Além de ser ilegal, a pessoa passa anos sem contribuir com o INSS e isso vai refletir no momento em que ela for se aposentar. 

“O que a gente vê é que o brasileiro é muito empolgado. Tentamos colocar alguns alertas, pois a função do Sebrae é fomentar o empreendedorismo, mas quando estou com uma pessoa na minha frente vejo um sonho de vida. Geralmente, a pessoa não presta atenção, pois tem certeza que Deus vai ajudar e tudo dará certo. Ela até pede informação, mas vai fazer do jeito que pensou inicialmente: de maneira informal e com acordo de boca. Só que esses acordos, com sorte, vão só até a página dois”, desabafa a consultora.

Parceria dentro da lei

Formalizar a sociedade servirá de garantia para que as partes estejam protegidas em questões futuras. Antes de dar entrada na papelada, os sócios devem discutir os trâmites, definir percentuais de participação de cada um e quais serão seus deveres, direitos e possíveis vetos. 

             Adm. Ricardo Mollo.

Mollo comenta que as empresas iniciam suas operações constituídas de forma limitada e, para isso, os sócios assinam um Contrato Social que determina os termos e condições da sociedade, bem como ela será administrada. “Neste contrato pode ser definido um acordo de acionistas, contando em detalhes como será o relacionamento entre os sócios, o que será vetado a eles, bem como seu direito de saída ou de preferência, entre outras condições”, orienta. 

Para desenvolver o Contrato Social é recomendável procurar um advogado e, quanto aos registros e trâmites com órgãos do governo, a sugestão é buscar um contador. “Os profissionais devem orientar os sócios sobre o tipo de companhia que é mais adequada para a sociedade e a mais eficiente forma de tributação”, diz Mollo.

Conflito de ideias e interesses

É comum que em determinados momentos da sociedade os envolvidos tenham opiniões divergentes sobre alguma questão. E, até certo ponto, é saudável para o negócio que eles pensem diferente, afinal, isso faz com que a visão de ambos seja ampliada. No entanto, é importante que busquem alinhamento sobre as ações que vão desenvolver.

O ideal nesses casos é que a discussão seja resolvida de forma técnica e com argumentação sobre o valor e o risco que as ideias podem gerar. “As discussões ocorrerão, o que é normal, mas deve ser mantido um conflito de ideias, não de valores. Quanto mais as discussões forem baseadas em dados e evidências e utilizarem ferramentas de análise, mais eficiente será a argumentação”, aconselha o administrador.

Em consonância com a ideia do uso das ferramentas para diluir os conflitos, Esmeralda sugere que os sócios construam um planejamento que defina o conceito, os objetivos e os passos para os próximos anos. Assim, toda vez que vier um problema e eles divergirem na solução, poderão olhar o planejamento e encontrar a decisão que mais os aproxima do projeto inicial. “Isso ajuda a trazer a divergência para o plano das ideias e do propósito”, afirma.

Apesar da necessária cautela e, por mais que pareça um risco ter um sócio, os empreendedores devem considerar a sociedade como um fator positivo, pois ela amplia a visão do negócio, soma a força de trabalho e, embora exista o reparte de lucros, há também a divisão dos problemas e dúvidas. “É uma ótima chance para a troca de experiência e percepções, que também reforça a multidisciplinaridade e o fortalecimento da diversidade de competências”, incentiva Mollo. 

Um exemplo de sociedade

De uma amizade que surgiu na sétima série, as publicitárias Kelly Martins Ferreira e Carla Somose Novalski nem imaginavam que, anos depois, se tornariam sócias. Em meados de 2007 elas decidiram unir suas experiências profissionais e montar um negócio no qual desenvolveriam para seus clientes aquilo que já faziam nas empresas em que trabalhavam. Daí surgiu a Recriativi, uma agência de marketing digital focada em estratégias de comunicação.

No processo de construção e alinhamento do projeto, elas formataram como seria a agência, os serviços que venderiam e como prospectariam os primeiros clientes. “No começo, saíamos com a pasta de portfólio debaixo do braço e íamos aos comércios apresentando o trabalho. Aos poucos, os clientes surgiram e um ano e meio depois alugamos nosso primeiro espaço comercial”, relembram as sócias.

      Carla Somose e Kelly Martins

As empreendedoras acreditam que, nesses 13 anos de sociedade, os fatores que fizeram com que a parceria desse certo foram o fato de se conhecerem bem, de terem o mesmo foco em relação ao projeto e de separarem a amizade da sociedade. “Nunca misturamos assuntos pessoais com os da empresa e isso foi essencial para dar certo”, ressalta Kelly.

No que diz respeito à divisão de responsabilidade, cada uma sabe bem qual é o seu papel na agência. Na posição de CEO & Gestora Criativa, Kelly atua com expertise em web; e na função de Gestora de Marketing e Negócios, Carla é responsável pelo desenvolvimento de materiais offline. “Foi tranquila a divisão, pois aconteceu conforme as habilidades de cada uma e sempre respeitamos e confiamos naquilo que a outra está desenvolvendo”, afirma Carla.

Como não poderia deixar de ser, desde o começo do negócio as sócias se preocuparam em legalizar a sociedade. Procuraram uma empresa contábil, investiram com os custos iniciais de abertura de empresa e a enquadraram dentro dos trâmites legais.

Todo o foco, seriedade, comprometimento, linearidade de pensamento e dedicação na sociedade renderam bons cases para elas. Um deles surgiu em 2014, da curiosidade de saber se já existia algum Food Truck de comida mexicana em São Paulo. Ao pesquisar, perceberam que havia poucas notícias sobre o assunto e disso nasceu a ideia de montar um guia que reunisse os donos de Food Truck e informasse a localização deles pela cidade. 

Com isso, lançaram o Guia Food Truck nas Ruas e, ao notarem o impacto positivo do projeto, passaram a organizar festivais gastronômicos de comidas de rua que reuniam os veículos cadastrados no guia. “Foi um sucesso, muitas pessoas compareceram de todas as regiões da cidade e, aos poucos, ficamos reconhecidas no meio”, lembram as sócias. 

Por serem um exemplo de sociedade que deu certo, elas compartilham algumas dicas que podem ajudar na escolha do parceiro de negócio. “Veja se a pessoa tem pensamentos e objetivos em comum por, pelo menos, os próximos 10 anos. Avalie se no dia a dia vocês conviveriam bem, pois é certo que os sócios ficarão mais tempo juntos do que com a própria família. Além disso, lealdade e cumplicidade devem estar presentes”, concluem.






Revista Administrador Profissional - ADM PRO
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