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Água: direito e compromisso de todos

Preocupadas com o meio ambiente e a sustentabilidade de suas operações, cada vez mais empresas têm adotado medidas que visam combater o desperdício da água, essencial para a vida humana e, também, para os negócios   

Cerca de 35 milhões de brasileiros não têm acesso à água tratada, sequer para lavar as mãos. O número, revelado pelo Ranking do Saneamento e divulgado pelo Instituto Trata Brasil, organização formada por empresas interessadas nos avanços do saneamento básico e na proteção dos recursos hídricos, evidencia um grande problema social e estrutural do país que, incrivelmente, concentra 12% de toda a água doce do planeta.

Somado a tudo isso, ainda existem os dados recentes do SNIS (Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento), ano-base de 2021, que alertam para outro problema: o índice de água desperdiçada diariamente chega a 40,3%. Para entender, na prática, como esse número é alarmante, o Instituto Trata fez um estudo no último ano, mostrando que essa quantidade de água perdida nos sistemas de distribuição no Brasil equivale a 7,8 mil piscinas olímpicas e um valor próximo a sete vezes a capacidade do Sistema Cantareira, o maior conjunto de reservatórios para abastecimento do Estado de São Paulo.

Foto de Luana Pretto

Luana Pretto

“Em volume de perdas físicas (de vazamento de água propriamente dito) estamos falando de uma quantidade que seria suficiente para abastecer cerca de 66 milhões de pessoas em um ano, o equivalente a um pouco mais de 30% da população brasileira. Isso seria, portanto, mais que suficiente para levar água aos quase 35 milhões de cidadãos que não têm esse acesso”, afirma Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil.

Dia Mundial da Água

Instituído em 1992 pela Organização das Nações Unidas (ONU), o Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, visa conscientizar não só a população quanto ao consumo diário desse recurso, como também as empresas, responsáveis por grandes gastos especialmente nas atividades agrícolas, de indústria e do comércio.

Para incentivar o consumo consciente nas organizações, o Pacto Global da ONU no Brasil, maior ação de sustentabilidade corporativa do mundo, lançou o Movimento +Água, projeto integrante da iniciativa Ambição 2030, uma estratégia formada por sete grandes movimentos, para agilizar as metas propostas pela Agenda 2030 da ONU.

O +Água tem o objetivo de acelerar a universalização do saneamento e segurança hídrica do País e pretende impactar a vida de mais de 100 milhões de pessoas, por meio de compromissos públicos baseados em metas, com as quais as empresas podem se comprometer.

Foto de Rubens Filho

            Rubens Filho


Segundo Rubens Filho, gerente de água e oceano do Pacto no Brasil, a agenda de saneamento básico está muito forte no país e, por isso, a Lei 14.026/2020 (conhecida como Marco Legal do Saneamento Básico) instituiu que, até 2033, 99% da população precisa ter água potável, bem como 90% dos cidadãos devem possuir coleta e tratamento de esgoto. “O movimento é uma ação coletiva e quanto mais empresas se comprometerem por meio de seus projetos, mais perto chegaremos das 100 milhões de pessoas impactadas na próxima década”, acredita.

O gerente afirma, ainda, que as empresas que aderem ao Movimento +Água estão manifestando publicamente compromissos nobres, que vão ao encontro das necessidades do país na agenda da água. Uma vez comprometidas, elas têm a oportunidade de aprender com outras organizações e podem somar nos projetos do setor empresarial. “A oportunidade das altas lideranças se engajarem no tema também é um ponto positivo, já que elas são cobradas o tempo todo para assumirem agendas socioambientais de relevância”, acrescenta Filho.

Para integrar o movimento, ele explica que as organizações precisam fazer parte do Pacto Global da ONU no Brasil e aderir à Plataforma de Ação pela Água e Oceano.

 CRA-SP faz parte do Movimento

O CRA-SP, signatário do Pacto Global desde 2016, assinou no final do ano passado a carta de apoio ao Movimento +Água e, assim como as demais empresas, tem como foco apoiar as metas de saneamento brasileiras, alinhadas ao novo Marco Legal estabelecido. O apoio do Conselho se dá de forma institucional, divulgando as iniciativas do Movimento para sua rede interna e externa, bem como incentivando as empresas ligadas ao CRA-SP a assumirem o compromisso e tornarem-se signatárias do Pacto, sempre que houver oportunidade.

"Temos debatido fortemente no CRA-SP a importância da agenda ESG, que inclui a questão ambiental em toda a sociedade, mas sabemos que, devido à natureza das nossas atividades, impactamos pouco na questão prática do desperdício da água. Entretanto, como órgão de classe, temos o dever de apoiar e divulgar essas ações perante as nossas empresas e profissionais registrados. Essa difusão de conhecimento certamente chegará às organizações da nossa rede, que podem contribuir de forma mais abrangente com as metas do Movimento, e aos nossos profissionais, que estão à frente das companhias e são responsáveis por definir e implantar ações mais sustentáveis", acredita o presidente do CRA-SP, Adm. Alberto Whitaker.

Para o gerente do Pacto Global, são organizações como o CRA-SP que ajudam a trazer mais embasamento teórico e prático para que as empresas se sintam confortáveis em expor seus desafios e consigam planejar suas ações em relação à agenda da água.

Foto de Armando Dal Colletto

Armando Dal Colletto

Na opinião do coordenador do Grupo de Excelência do Pacto Global – GPG, do CRA-SP, Armando Dal Colletto, a gestão desse recurso nas organizações cada vez mais compete ao perfil dos administradores. “São eles que, em suas respectivas empresas, irão reduzir o uso da água, diminuir os custos, melhorar a eficiência dos processos e conter o impacto no meio ambiente”, afirma.

O coordenador do GPG acredita que o maior desafio que os gestores podem encontrar no momento de implantar ações sustentáveis é o de mudar a mentalidade e as atitudes das pessoas, de modo a evitar que essas ações continuem destruindo o planeta. “As empresas mais avançadas nas práticas sustentáveis sabem que estão sendo beneficiadas e o retorno disso poderá ser visto na sua reputação institucional, na economia do uso de matéria-prima, no incentivo fiscal, nas taxas de financiamento reduzidas, na atração de pessoas mais qualificadas e, também, na preferência dos consumidores em comprar de empresas comprometidas com a sustentabilidade”, explica.

Foto de Eduardo Preis

      Eduardo Preis

Ações na prática

Para implementar projetos que tornem a operacionalização cada vez mais sustentável, muitas organizações vêm adotando medidas, como a preservação ou recuperação de mananciais, a captação de água da chuva, o consumo adequado/controlado, o uso de fontes próprias devidamente outorgadas, a utilização de equipamentos e tecnologias que aumentem a eficiência hídrica no processo produtivo, além do descarte adequado, recirculação ou reaproveitamento. “Com isso, o setor produtivo pode ‘produzir’ água para a sua operação de várias formas, gerando economia de recursos financeiros e naturais”, explica Eduardo Preis, diretor de operações da Plataforma de Sustentabilidade 2030 TODAY / SGS, que auxilia na estruturação de métricas e ações de ESG e ODS nas empresas.

Embora o universo ESG tenha ganhado notoriedade recentemente, o ambiente corporativo já compreendia a importância do tema para os negócios e, até mesmo, para a busca de financiamentos de projetos. No entanto, ainda há muito a avançar nesse sentido. “Os desafios ainda passam pela criação de políticas/estruturas corporativas claras e orientadas para a sustentabilidade, que contenham objetivos, metas e verba destinada para os recursos técnicos e orçamentários para sua implementação”, comenta Luana.

E, embora as metas de abastecimento sejam vistas como responsabilidade apenas das concessionárias de saneamento, a disponibilização de água potável pode ser uma ação socioambiental do setor empresarial de diferentes segmentos. “Há projetos muito bem estruturados e com resultados robustos de empresas de bebidas e alimentos, por exemplo, cujo intuito é dar suporte no acesso à água em áreas rurais, comunidades ribeirinhas, regiões remotas da Amazônia, áreas irregulares, entre outras. Todo projeto conta. Nós encorajamos que cada vez mais o setor empresarial trabalhe além dos muros nas pautas da sustentabilidade”, defende Filho.

Conscientização dos colaboradores

Para levar mais conhecimento sobre a economia e importância da água ao ambiente corporativo, uma alternativa é a inserção de práticas conscientes na cultura organizacional da empresa, partindo de uma decisão da gestão. “Um ambiente que, em sua estrutura, educa, estimula e desenvolve projetos em torno de conceitos e hábitos de sustentabilidade está muito mais favorável a ter a participação e o engajamento dos colaboradores”, afirma a presidente do Instituto Trata Brasil.

Além disso, as grandes corporações têm cobrado informações de seus fornecedores sobre a sustentabilidade na sua operação, inclusive relacionada à água. “Isso tem gerado um efeito cascata, no qual as empresas são provocadas a se ajustarem para continuar atendendo os seus clientes”, finaliza o diretor da 2030 Today.

Conheça o Movimento +Água e saiba mais sobre os projetos, compromissos e empresas apoiadoras em www.pactoglobal.org.br/movimento/maisagua/







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