A inflação verde e a Administração na emergência climática - CRA-SP
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A inflação verde e a Administração na emergência climática

A Administração envolve ao menos cinco funções, como já nos informava Jules Henri Fayol em 1916, sendo este um dos teóricos clássicos da ciência da Administração: planejar, organizar, controlar, coordenar e comandar (PO3C). A administração de custos, mais especificamente, envolve identificar os custos relevantes para uma organização, seja ela privada ou pública, de modo que seus colaboradores possam viabilizar diferentes iniciativas dentro de um orçamento realista que considere despesas, como energia elétrica, e investimentos, como no caso da compra de software ou hardware para aumentar a produtividade destes mesmos colaboradores. Feita a identificação de custos, se torna possível planejar, organizar, e assim por diante.

No contexto atual, com a emergência climática, tornou-se essencial realizar uma administração de custos realista, que considere, inclusive, ameaças e oportunidades. Entendendo-se que a emergência climática se refere a reconhecer novas medidas contra as mudanças climáticas como sendo necessárias já no curto prazo, se torna necessário aos governos realizar diferentes ações que podem se materializar na forma de políticas públicas que têm seu custo associado. Se é verdade que as organizações e que os indivíduos são geralmente a favor de tais políticas, também é verdade que os custos associados tendem a onerar a sociedade de alguma maneira, seja retirando recursos de outros setores, seja com o aumento de taxas, dentre outras possibilidades.  

Um exemplo de taxa que pode ser criada em muitos países é, por alguns, denominada de "taxa de carbono", que se refere a arrecadar recursos que poderiam ser investidos em políticas públicas. Para tanto, podem ser taxados, por exemplo, produtos importados que se originem em países com economias ainda muito intensivas em carbono, como aquelas dependentes de combustíveis fósseis altamente poluentes que intensificam a emergência climática. Se por um lado tais taxas podem parecer adequadas em um primeiro momento, por outro lado, as mesmas podem vir a ser vistas como um custo extra a ser pago pelas organizações e pelos indivíduos que precisaram comprar tais produtos.

Surge, neste contexto, o problema da inflação verde, algo como um aumento geral dos preços dos bens e dos serviços onde incide, por exemplo, a taxa de carbono. Tal custo extra, ainda que possa ter justificativas bastante aceitáveis, também pode gerar problemas, como o aumento do valor de bens e serviços, o que aumenta o custo de vida para as pessoas, já que frequentemente aumenta os custos para as organizações. Um problema adicional à possível queda nas vendas por empresas, uma vez que os clientes podem se vir obrigados a deixar de consumir certos produtos ou serviços. Já no caso das organizações públicas, como hospitais e escolas, um custo adicional pode tornar seus orçamentos originais insuficientes para lidar com as atividades até então previstas.

Esta situação pode, assim, fazer com que muitos atores que antes estavam priorizando ações como a transição energética para energias de fontes renováveis como solar, eólica ou geotérmica, passem a ser contra tal transição, por não quererem as alterações negativas em suas realidades. Nesta perspectiva, se vê como essencial o papel da Administração não apenas para lidar com os custos, mas também para encontrar novas soluções que evitem bens e serviços sobre os quais incidem custos como este da "taxa de carbono". A Administração também se percebe como essencial no setor público, em especial no que se refere a administrar o engajamento das partes interessadas em favor das políticas públicas que, ao longo do tempo, irão gerar benefícios para toda a sociedade.

Deste modo, dado o cenário atual com inúmeros desafios, percebe-se mais uma vez como os profissionais de Administração podem vir a contribuir. Mais especificamente, no caso da inflação verde, será desejável uma administração de custos detalhista, holística e, ademais, amparada nas melhores ferramentas e técnicas, o que permitirá que se garanta o sucesso das organizações e dos cidadãos na emergência climática que hoje se percebe. Em especial, é pelo uso dos melhores métodos e das melhores práticas que o administrador poderá auxiliar diferentes atores na busca por resultados satisfatórios, independente de quais ameaças surjam, fato este que nos leva a sempre apregoar a necessidade crescente de atualização dos profissionais por meio de uma formação continuada de qualidade que inclua explorar as oportunidades. Com isso, será quase sempre possível garantir que administrar significa, como se deseja, servir ou ajudar, como inclusive nos sugere sua origem no latim.

Por Adm. Joni Amorim

CRA-SP nº 153066

http://lattes.cnpq.br/3278489088705449




Revista Administrador Profissional - ADM PRO
Publicação física com periodicidade trimestral
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