Os efeitos da pandemia no setor de transporte de passageiros, sem dúvida, foi devastador. A queda na demanda no transporte urbano, as supressões de linhas e horários no transporte intermunicipal e interestadual, a paralisação total do transporte escolar e a interrupção do turismo provocaram graves prejuízos ao setor, que foi um dos mais impactados pelas restrições em função da crise sanitária.
Responsável pela geração de milhares de empregos e pelo transporte de milhões de pessoas de Norte a Sul, de Leste a Oeste no Brasil, muito além do desafio de reprogramar suas operações diante de um cenário imprevisível, no qual novos decretos e limitações eram impostas quase que diariamente no auge da crise pelos governos municipais e estaduais, muitos foram os registros de empresas que reduziram seus quadros de funcionários, fecharam garagens, filiais e unidades na tentativa de conter os custos de operação, pediram recuperação judicial e até encerraram suas atividades. Algo sem precedentes na história.
Merece atenção e destaque o transporte fretado. Em sentido contrário, o transporte de funcionários para grandes empresas, indústrias e mineradoras foi o ponto fora da curva. Muitas empresas de fretamento vislumbraram a oportunidade de crescimento do seu faturamento, considerando a necessidade do distanciamento social que, muitas vezes, dobrou a quantidade de veículos disponibilizados para atendimento da demanda de seus clientes.
Independentemente do tamanho e do porte, fato é que os efeitos da crise foram sentidos pelo setor em um grau de intensidade jamais experimentado, na extensão de todo território nacional. Sendo o transporte um serviço essencial à população, a carência de qualquer apoio ou suporte do Poder Público no enfrentamento à crise foi mais um desafio que se impôs à competente iniciativa privada, que há mais de 80 anos desbrava e liga os grandes centros urbanos aos rincões desse imenso Brasil.
Na perspectiva da retomada, as empresas foram obrigadas a se reinventar diante de um novo panorama de operação: adoção de novas práticas de gestão administrativa, financeira e operacional com foco no aumento da eficiência e otimização dos recursos humanos e materiais, revisão de processos internos, reestruturação do mapa de operação por meio da reprogramação e supressão de linhas, ajustes nas tabelas horárias e no quadro de funcionários, unidades e filiais. O transporte de encomendas no bagageiro dos veículos, por exemplo, vem contribuindo de maneira considerável para a manutenção e até aumento do faturamento de forma crescente, por meio do aproveitamento da malha rodoviária atendida, pontos de apoio e veículos disponíveis. O investimento em novas tecnologias e ferramentas de gestão contribui para a implantação das novas práticas no processo de retomada das empresas que o setor de transporte de passageiros enfrenta, mas ainda há muito o que avançar.
A gestão compartilhada de estruturas e serviços é uma solução inédita ainda não experimentada ou praticada, capaz de reduzir consideravelmente os custos, aumentar a eficiência e, consequentemente, os resultados das operações de transporte. É a ousadia na inovação sustentável por meio das melhores práticas que capacitará as grandes e bravas empresas de transporte de passageiros a viajar pelos melhores caminhos com destino ao futuro próspero do novo normal.
Por Adm. João Henrique Gonçalves Marcicano Poppi
CRA-SP nº 118089
Consultor de Transporte de Passageiros