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Muito além da poupança

Quando o assunto é investimento, você é do time que ainda tem dúvidas sobre como aplicar o dinheiro e, por conta disso, tem o costume de manter os recursos na tradicional caderneta de poupança? Se a sua resposta é sim, saiba que você não está só. Por mais desatualizada que seja essa escolha, uma vez que existem outros produtos muito mais rentáveis e de baixo risco atualmente, a poupança continua em alta. De acordo com a pesquisa Raio X do Investidor Brasileiro 2023, realizada pela Associação Brasileira dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em parceria com o Datafolha, a poupança ainda é o produto financeiro mais utilizado no País, com 26% de preferência em 2022. 

Mas, se o retorno dela é menor do que qualquer outra opção de investimento, o que ainda justifica essa escolha? Para o Adm. André Massaro, coordenador do Grupo de Excelência em Administração Financeira – GEAF, do CRA-SP, a decisão deve-se ao hábito. Ele comenta que as gerações mais antigas tinham o costume de acompanhar os anúncios dos bancos sobre a poupança na televisão e colocavam o dinheiro na caderneta. “Isso em uma época em que não tínhamos tantas opções quanto hoje. Então existe uma memória afetiva ligada a isso”, esclarece Massaro.

Outro fator que talvez incentive os brasileiros a considerarem essa categoria de investimento são as matérias referentes aos prêmios de loteria, como a Mega-Sena da Virada, que sempre citam a poupança como parâmetro quando a pauta é sobre quanto o prêmio milionário renderia, caso o ganhador aplicasse na caderneta.

A falta de educação financeira, segundo o Adm. Gustavo Cerbasi, consultor e sócio da SuperRico, plataforma de saúde e bem-estar financeiro, é o que leva os brasileiros a continuarem investindo em poupança. “Qualquer pessoa que começa a estudar as qualidades e a segurança de investir em CDBs (Certificados de Depósito Bancário), ou mesmo em fundos de renda fixa, não tem dificuldade de mudar o seu investimento da poupança para produtos mais rentáveis”, diz Cerbasi.


 Adm. André Massaro

Por onde começar?

Para mudar esse panorama e fazer seu dinheiro render mais, Massaro orienta, primeiramente, fazer uma autoanálise para entender o seu perfil como investidor, se é mais agressivo ou mais conservador, e compreender o que se quer com aquela aplicação. O próximo passo é olhar as opções no mercado. “O investidor precisa ver os portfólios das instituições financeiras que mais se adequam ao seu perfil e que ofereçam as melhores condições em termos de retorno, custo, atendimento, entre outros”, sugere.  

Para Cerbasi, outra premissa fundamental é montar uma estratégia que determine os objetivos do investimento, ou seja, se é para uma reserva de emergência; projetos de curto prazo, como uma viagem ou um curso; ou de longo prazo, visando a independência financeira. 

“Depois que entendemos exatamente o que nosso cliente quer, montamos a estratégia e aí fica muito fácil escolher o produto, pois sabemos quanto cada centavo daquela carteira de investimento será destinado para cada projeto. O dinheiro que é para reserva de emergência, por exemplo, tem que ter liquidez imediata, então terei dois, três produtos no mercado que atendem a essa necessidade. Já projetos de longo prazo, como a previdência para construir uma renda futura, serão atendidos com outros tipos de produtos, sem liquidez. Então o perfil do cliente está muito associado ao momento, ao estilo de vida e será determinante para compor a carteira de investimentos”, explica o consultor.

Como escolher entre os produtos

Para quem quer investimentos simples, seguros e rentáveis, Cerbasi sugere os produtos da categoria de renda fixa:

  • CDB (Certificado de Depósito Bancário): Emitido por bancos para captar recursos, é um dos títulos privados mais tradicionais no mercado. Na prática, é como se o investidor emprestasse o seu capital para os bancos efetuarem suas operações e, em troca, eles pagam juros ao final do período combinado. Vale saber que existem diversos tipos de CDBs, com prazos e rentabilidades diferentes e, o melhor, é um investimento com a mesma garantia de segurança da caderneta de poupança.

  • LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) e LCI (Letra de Crédito Imobiliário): São investimentos que emprestam dinheiro para empresas dos setores agropecuário e imobiliário, respectivamente. Garantem retornos bem superiores aos da poupança e, ainda, são isentos de Imposto de Renda. Assim como os CDBs, quem compra esses papéis empresta dinheiro para uma instituição financeira e, em troca, recebe os juros do período da aplicação. Um ponto importante sobre LCIs e LCAs é que a liquidez é menor que os demais produtos de renda fixa, ou seja, não dá para sacar os recursos a qualquer momento.

Cerbasi explica que, por mais que essas letras financeiras sejam produtos com algum tipo de risco, o investidor não precisa se preocupar, porque o Fundo Garantidor de Crédito - FGC, criado pelos bancos, previne contra quebras e intervenções de instituições. “Cada CPF que investe até R$ 250 mil no produto da categoria renda fixa está coberto pelo FGC. Por esta razão, esses produtos são considerados extremamente seguros”, conta. 

A diferença entre os produtos, complementa o consultor, está associada à carência, ou seja, ao prazo mínimo para o resgate da aplicação que, na maioria deles, é o mesmo de vencimento do produto. “Existem CDBs com liquidez a partir de 60, 90, 180 dias. Alguns com vencimentos em dois, três, quatro anos e, quanto maior a carência, ou seja, quanto mais tempo esse dinheiro ficar garantido para o banco trabalhar, maior a rentabilidade que o cliente irá receber”, diz.

Outra opção vantajosa, segundo Massaro, é o Tesouro Direto, programa criado pelo Tesouro Nacional que permite a compra e venda de títulos públicos federais para pessoas físicas. Dentre as opções nesta categoria, o administrador destaca o Tesouro Selic, um título com rendimento indexado à taxa básica de juros e que possui liquidez diária, permitindo o resgate dos valores aplicados a qualquer momento. “O Tesouro Selic rende 100% da Selic, enquanto na caderneta de poupança o retorno é limitado a 75% da taxa básica de juros. Ou seja, rende mais e pode-se afirmar que ele é o investimento mais seguro do Brasil”, complementa Massaro.

      Adm. Gustavo Cerbasi

Curto prazo x longo prazo

A pesquisa realizada pela Anbima, citada no início da matéria, revelou também que os brasileiros preferem os produtos com liquidez diária, o que pode explicar a maior adesão à poupança. Entretanto, embora seja natural e esperado que os investidores prefiram ter o dinheiro disponível a qualquer momento, são as aplicações de longo prazo que rendem mais. “Geralmente, elas possuem alguma oscilação ou volatilidade, por isso, nem sempre conseguimos resgatá-las nas melhores condições do mercado. Nesse tipo de investimento, o ideal é alocar aquele dinheiro para a formação de patrimônio ou para o futuro, como a aposentadoria. Qualquer outra coisa que tenha data de resgate para até cinco anos, o ideal é que o investidor dê preferência às aplicações de curto prazo, se possível de liquidez imediata”, aconselha Massaro.

Cerbasi conta que é comum encontrar investidores que adotam os produtos mais rentáveis, mas se arrependem e desejam ter acesso aos recursos, sem sucesso. “Aí tem um conflito, às vezes até judicial com a instituição, tentando resgatar aquilo que supostamente é seu. Mas é uma questão contratual. Foi apresentado um contrato, a pessoa teve a oportunidade de ler as condições e aceitou aquilo. Então, o passo fundamental para acessar os melhores produtos, que sim, são aqueles com menor liquidez, é ter um bom planejamento financeiro montado, saber quanto dinheiro investido poderá ou não ser acessado no curto prazo e quanto será destinado a projetos mais distantes”, indica o consultor.

Quanto precisa para começar?

Segundo os especialistas, não existe um valor mínimo. “A partir de 30 reais é possível comprar títulos públicos do governo, por meio do Tesouro Direto, cujo desempenho é muito próximo dos melhores CDBs do mercado”, comenta Cerbasi. 

Além disso, Massaro cita que os títulos bancários, ações e fundos imobiliários, também são produtos acessíveis. “Em alguns títulos bancários já dá para começar com um real . Então, o valor não é um motivo para a pessoa não investir. O ideal é aplicar o quanto puder e, mais que isso, transformar o investimento em um hábito, ainda que esteja no início da carreira e se ganhe pouco”, recomenda o coordenador do GEAF.

Cerbasi orienta que 100% das pessoas deveriam começar seus investimentos pela reserva de emergência e que qualquer dinheiro que esteja parado na conta pode ser transformado em investimento. “Dinheiro parado na conta e que perde da inflação é aquele que tem a oportunidade de ser corrigido e multiplicado. Por isso, trabalhamos com a estratégia de saldo zero na conta corrente. Ou esse valor é usado para quitar alguma coisa ou está investido para algo que será pago no futuro”, completa o sócio da SuperRico.

Como escolher a instituição financeira 

Diante de tantos segmentos disponíveis, como bancos digitais, de varejo, investimento e corretoras de valores, é comum que surjam dúvidas quanto à escolha da instituição financeira que irá administrar a carteira de investimentos. De acordo com Massaro, há pouca diferença entre as instituições. Ele explica que grande parte das corretoras, hoje, já é banco, e que muitos bancos tradicionais já atuam como as corretoras independentes, oferecendo inclusive produtos de outras instituições. 

Quanto aos bancos digitais, complementa o administrador, eles não se diferem em nada em relação aos tradicionais, exceto o fato de não haver agência. “A separação entre o tipo de instituição financeira hoje já não é tão relevante. O investidor precisa ver quais opções existem em cada lugar e, assim, fazer a sua escolha. Muitas vezes, isso acontece mais pela conveniência, como quando o investidor já tem conta em um lugar e decide ficar ali mesmo”, explica.

Já Cerbasi defende que quem oferece as aplicações ao mercado são as corretoras e bancos de investimento. Para ele, os bancos digitais e os de varejo são intermediadores, ou seja, negociam para seus clientes os produtos oferecidos pelas instituições especializadas e, como tiram a sua participação, o investidor terá um resultado pior. 

“Com conhecimento, provavelmente a pessoa entenderá que parte dos seus recursos estará no banco de varejo, para os pagamentos do dia a dia e movimentação das contas do mês, e a outra parte em um banco de investimento ou em uma corretora de valores, para ter acesso às melhores aplicações. Quem constrói um planejamento adequado sabendo exatamente quando e como utilizar seu dinheiro, vai ter um relacionamento com as instituições muito mais saudável, equilibrado e sem ansiedade”, conclui Cerbasi.


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