Democratizando o sistema financeiro - CRA-SP
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Democratizando o sistema financeiro

Alexandre Magnani, co-CEO do PagBank PagSeguro, fala sobre a revolução na indústria financeira e os conhecimentos adquiridos em sua formação como administrador 

“Nossa missão é democratizar o acesso aos meios de pagamento e serviços financeiros para a população brasileira”. É com o foco na inclusão de pessoas desbancarizadas e, também, nos clientes de outros bancos que buscam por melhores experiências, que Alexandre Magnani, co-CEO do PagBank PagSeguro, vem trabalhando nos últimos anos. À frente do segundo maior banco digital do País desde 2015, sua jornada no sistema financeiro começou bem antes, em 1994, quando atuou em empresas como Credicard, Rede e Mastercard. Em entrevista exclusiva para o CRA-SP, o administrador registrado no Conselho sob nº 128.439 fala sobre o mercado de trilhões das maquininhas de cartão e as diferenças de gestão entre os bancos tradicionais e as fintechs. No bate-papo, ele ainda conta como a graduação e a pós-graduação em Administração de Empresas o ajudaram ao longo de sua carreira, principalmente na função de gestor. Confira!

Revista ADM PRO - Quais são as principais diferenças na gestão de um banco digital e um banco tradicional? 

Alexandre Magnani - A diferença pode ser resumida basicamente em três aspectos. O primeiro é o regulatório. Normalmente as fintechs são licenciadas como instituições de pagamentos, que é um tipo de regulação mais leve que o Banco Central permite, no qual essas instituições podem emitir cartão, ter contas de pagamentos e prestar outros serviços bancários, mas não podem usar o saldo das contas para financiar operações de empréstimos. Isso é diferente em uma instituição tradicional, que tem a licença bancária de banco múltiplo e pode usar o saldo das contas para financiar operações de empréstimos. Porém, existem muitas fintechs que já adquiriram uma licença de banco múltiplo, como é o caso do PagBank que, há alguns anos, pode fazer qualquer tipo de operação que um banco tradicional faz. O segundo ponto é na operação. O banco tradicional tem a sua distribuição por meio de agências físicas, ou seja, a instituição faz o cadastro dos seus clientes e mantém sua principal interface nas agências. Todos os processos e operações dos bancos tradicionais foram feitos de uma forma que exige autenticação presencial, troca de documentos físicos e isso muda muito o tipo de gestão. Já as fintechs fazem sua distribuição exclusivamente por meio de canais digitais, como internet, celular e aplicativos. Isso faz com que toda a interação entre o cliente e a instituição seja remota. Os documentos são digitalizados e a tecnologia de biometria é muito utilizada, fazendo com que a gestão dos processos numa fintech seja muito mais automatizada do que em um banco tradicional. Por fim, a outra grande diferença é a própria experiência do cliente. Todo o relacionamento com o consumidor vai se dar ou pela interface do aplicativo no celular ou do internet banking, sem a possibilidade de um canal presencial. Isso faz com que as fintechs tenham soluções mais simples e fáceis para os clientes usarem.

ADM PRO - Embora a tecnologia possibilite mais agilidade nas transações bancárias, infelizmente muitos criminosos se aproveitam disso para aplicar golpes. Como o PagBank PagSeguro lida com essa questão de segurança? 

Magnani - Segurança é um dos pilares fundamentais dentro da nossa estratégia. Temos um cuidado extremo e investimos muito em novas tecnologias para prover um ambiente cada vez mais seguro para os nossos clientes. Investimos na validação de documentos digitalizados, na autenticação biométrica dos nossos usuários e, também, em modelos com inteligência artificial para identificar comportamentos transacionais, de dados biométricos ou documentais dos nossos clientes e prevenir qualquer tipo de ação fraudulenta. Essa é uma área que demanda muito foco, cuidado e investimento para que consigamos promover um ambiente bem seguro aos nossos usuários. 

ADM PRO - Outro setor movimentado pelas fintechs é o segmento das maquininhas de cartão. Qual o tamanho desse mercado atualmente e qual o impacto dele no desenvolvimento da economia no País?

Magnani - O mercado das maquininhas de cartão deve movimentar em torno de R$ 3,2 trilhões neste ano, de acordo com a Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços). Esse volume representa, mais ou menos, 55% de todo o consumo privado no Brasil. Interessante que, em 2015, esse número era de 28%. O PagSeguro teve um papel revolucionário em promover e democratizar a aceitação de cartões no Brasil para os microempreendedores e indivíduos das camadas mais pobres da população, que não tinham acesso a essas tecnologias nos bancos tradicionais. Eles começaram por meio de uma oferta que é simples, segura e acessível, a vender e aceitar cartões através dessas maquininhas e isso fez com que vários microempreendedores e indivíduos fossem incluídos nesse mercado de pagamentos eletrônicos, aumentando até a sua renda per capita. Muitas dessas pessoas que iniciaram essa jornada com o PagSeguro por meio do seu CPF se formalizaram como microempreendedor. Isso contribui bastante para o crescimento da economia e, principalmente, para o desenvolvimento desta parcela da sociedade, que é a parte mais pobre da população. 

ADM PRO - Qual o principal desafio de ser um gestor de um banco digital como o PagBank PagSeguro, que hoje está com quase 25 milhões de clientes e com 1 trilhão de transações financeiras processadas? 

Magnani - Existem alguns grandes desafios em fazer a gestão de uma fintech que já atingiu o tamanho e a relevância do PagBank PagSeguro. O primeiro deles é balancear o crescimento acelerado e crescer mais rápido que o mercado de forma rentável e lucrativa. O PagBank PagSeguro é uma das poucas fintechs que são rentáveis e que têm um lucro líquido significativo. Outro desafio é construir uma proposta de valor que seja simples, segura, acessível e digital. Esse é um dos princípios que nos faz ser uma empresa de sucesso, que teve uma adesão massiva de milhões de usuários, seja com as maquininhas, seja no negócio de banco digital. E fazer isso não é fácil, porque você tem que oferecer para o cliente uma experiência, uma interface que seja muito simples, fácil e intuitiva, ao mesmo tempo em que tem que cumprir uma série de requisitos regulatórios legais e de segurança que acabam, às vezes, fazendo com que essa tarefa de deixar simples fique um pouco mais difícil e desafiadora. Outro ponto importante é manter uma infraestrutura que seja estável, escalável e confiável, mas que também seja flexível e ágil, para que exista rapidez no lançamento de novos produtos e serviços e melhoria na experiência do cliente nas nossas interfaces digitais. Isso mostra que o ambiente sempre vai estar disponível e que não estará suscetível a invasões e a fraudes. 

ADM PRO - Como a Administração o ajudou em sua carreira, principalmente neste cargo de gestor? 

Magnani - A Administração é uma carreira bem interessante, primeiro porque ela dá uma visão geral de finanças, marketing, gestão de operações e relações humanas. Todas essas disciplinas são fundamentais quando a gente vai gerir um negócio complexo. Sem dúvida nenhuma, a Administração me preparou para que eu pudesse ter um entendimento sobre todas essas disciplinas para trabalhar no dia a dia com essas questões. Temos 7 mil funcionários e entender as pessoas, o comportamento e as relações humanas é fundamental. Movimentamos aqui 1 trilhão de transações e bilhões em volume financeiro. Então, a parte de entender toda a parte de finanças dos negócios, principalmente as bancárias, é importante para uma gestão eficiente da empresa e para atingir a rentabilidade desejada. Na parte mercadológica, fomos a primeira instituição que fez campanhas de venda de maquininhas na TV, vendendo-as e não alugando-as, oferecendo um canal digital para que o consumidor pudesse comprá-las. A disciplina de marketing ajuda a entender como atingir um consumidor que, até então, estava excluído desse mercado. E a parte de operações é fundamental. Tudo que a gente faz de transação financeira, seja no banco digital ou na parte das maquininhas, tem por trás uma logística enorme e quanto mais eficiente for a gestão dessas operações, melhor, porque otimiza os custos operacionais da empresa em relação a receita que ela tem. 

ADM PRO - Por que a escolha em trabalhar com serviços financeiros? O que mais te motiva nesse ramo?

Magnani - Esse mercado é muito dinâmico, a gente tem a oportunidade de fazer tanta coisa e é justamente isso o que mais me motiva, esse senso de autorrealização, de olhar para trás e falar: “nossa, quanta coisa legal eu ajudei a construir para transformar a nossa sociedade e a vida das pessoas”. Esse é o meu maior ponto de motivação. Essa indústria oferece um campo muito fértil para construir soluções diferentes que vão melhorar a vida das pessoas. 

ADM PRO- Você começou sua carreira em 1994, ano do início do Plano Real, em um cenário de instabilidade econômica e fortalecimento do mercado de cartões de crédito. Novamente estamos em um momento instável na economia e vemos as moedas digitais como novas oportunidades de negócios. Como é participar disso sendo executivo nessa indústria que sempre está se transformando e, agora, se apresenta mais democrática?

Magnani - Acompanhei bastante o desenvolvimento dessa indústria e, de fato, o Plano Real foi um grande impulsionador do crescimento dos meios eletrônicos de pagamento no Brasil. Até então, poucos segmentos do comércio aceitavam cartão, porque naquele período inflacionário existia uma sobretaxa grande e, também, só uma pequena camada da população tinha acesso ao crédito através de cartão. Além disso, o cartão de débito ainda não existia, foi só em 95/96 que ele começou a ser impulsionado e trabalhado pelos bancos tradicionais. De lá para cá, vi muita transformação na indústria. A penetração de cartões não atingia nem 10% do consumo privado e, hoje, já é mais da metade. O cartão, que até então era utilizado naquelas maquininhas decalcadoras, passou a ser usado na interface através da tarja magnética. Posteriormente, para dar mais segurança às transações, foi para o chip com uso de senha. Hoje tem o cartão contactless (que permite fazer transações apenas por aproximação) e também todas as formas de pagamento não presenciais no e-commerce, além de outras que estão disponíveis, que permitem a autenticação do usuário e a biometria nessas transações. O dinamismo dessa indústria de pagamentos, acompanhando o desenvolvimento da economia e também o movimento de inclusão, torna esse ambiente muito estimulante para trabalhar e ter esse senso de autorrealização. 

ADM PRO - Empresas, de diferentes setores, estão comprometidas com práticas ESG. Como esse assunto é tratado pelo PagBank PagSeguro? 

Magnani - Em relação ao ESG, a nossa empresa tem uma preocupação muito grande em ser sustentável e investimos em políticas que ajudam na preservação do meio ambiente, no desenvolvimento social e que operem com as melhores práticas de governança. Não temos um grande impacto ambiental, mas trabalhamos para ser uma empresa carbono zero. Já vendemos mais de 10 milhões de maquininhas e temos a preocupação de fazer não só a logística de entrega delas, como também a logística reversa, para a manutenção e, em muitos casos, o descarte e a reciclagem desses equipamentos. A grande missão da empresa, e onde ela tem mais impacto no ESG, é na parte social. Nosso compromisso é democratizar o acesso aos meios de pagamento e serviços financeiros para a população brasileira. Hoje, você vê qualquer indivíduo ou microempreendedor com uma maquininha do PagSeguro, exercendo sua atividade e podendo aceitar cartões de débito, de crédito e pré-pago. Operamos também com as melhores práticas de governança. No conselho da empresa, quase metade dos integrantes são mulheres. Estimulamos a diversidade em nosso ambiente, desenvolvemos programas como o ‘Elas Tech’, para formar mulheres na área de tecnologia, e estamos fazendo um programa de estágio em que todas as vagas são direcionadas para pessoas em situação de vulnerabilidade social. 




Revista Administrador Profissional - ADM PRO
Publicação física com periodicidade trimestral
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