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Bem mais que um diploma universitário

Para se manter ativo no mercado de trabalho, é preciso construir uma trilha de aprendizagem que amplie habilidades técnicas e socioemocionais

Foi-se o tempo em que concluir a graduação ou mesmo especializações acadêmicas era garantia de destaque profissional no mercado de trabalho. Hoje, com a revolução tecnológica, a rapidez das informações e as constantes transformações no mundo, as organizações passaram a valorizar não só quem possui qualificações profissionais, como também aqueles que se mantêm em constante aprendizado.

Com isso, os profissionais tiveram que se adaptar ao conceito de lifelong learning e compreender que, mais importante do que o diploma universitário, é estar disposto a mudar a forma de pensar e de se relacionar, ficando aberto a desaprender para liberar espaços que possam ser preenchidos por novas aprendizagens. “Se você não tiver a humildade de ser um eterno aprendiz, você está fadado à tornar-se obsoleto", alerta Marco Gouveia, professor de Engenharia de Produção e Qualidade e pesquisador na área de Educação.

O termo lifelong learning surgiu nos anos 70, porém ganhou popularidade na década de 90, quando o economista francês Jacques Delors presidiu a Comissão Internacional para o Século XXI, da UNESCO. Em 2010, foi publicado o relatório “Educação: Um Tesouro a Descobrir”, que afirma que a educação tem um papel essencial para o desenvolvimento contínuo das pessoas e das sociedades. 

Além de melhores oportunidades de trabalho, a aprendizagem contínua traz importantes vantagens para outros aspectos da vida. “Mais do que uma prática, o lifelong learning é uma filosofia de vida, porque implica que você mude hábitos. Ao se abrir para o ciclo de aprendizado contínuo, participando de várias atividades, adquirindo novos conhecimentos e mudando atitudes, sua criatividade será estimulada, o que provocará um crescimento pessoal e profissional", afirma o docente. 

Pilares do lifelong learning

No relatório publicado pela UNESCO, há destaque para quatro pilares do lifelong learning, como bases da educação:

  1. Aprender a conhecer: que significa ter prazer no processo de aprendizado, ser curioso, ter uma postura questionadora e pensamento crítico. 
  2. Aprender a fazer: é colocar o conhecimento adquirido em prática. “Uma pesquisa feita com executivos dos EUA revelou que apenas 18% dos treinamentos fornecidos aos funcionários se revertem em termos de aplicabilidade”, conta Gouveia.

  3. Aprender a conviver: esse aprendizado está ligado às habilidades socioemocionais, pois interagir com pessoas de universos diferentes é uma forma de trocar conhecimentos.

  4. Aprender a ser: é desenvolver sua autonomia para aprender coisas novas. “Construir um caminho sozinho, ir atrás do conhecimento e questionar sobre o quanto evoluiu em termos de aprendizado”, explica o professor.

“Esses pilares complementam a questão do conhecimento, habilidades e atitudes, tanto no ramo socioemocional, como no ramo técnico. Não fique preso apenas às questões profissionais, porque a vida não é só isso. O lifelong learning fala justamente da plenitude do ser humano enquanto aprendiz”, esclarece Gouveia.

Trilha de conhecimento eficiente

O lifelong learning parte da premissa de que você é o protagonista do seu conhecimento, ou seja, é sua responsabilidade definir um plano de treinamento e qualificação que atenderá suas necessidades e favorecerá o seu desenvolvimento. 

Por isso, para construir uma trilha de aprendizagem eficiente é preciso, primeiramente, fazer uma autoanálise para descobrir quais as competências, conhecimentos e atitudes precisam ser aprimoradas em termos profissionais, como o domínio de um idioma ou habilidades digitais, por exemplo. “A partir disso, você faz todo um plano do que, como e quando vai ser desenvolvido. Terminada essa parte, você simplesmente deu um passo, porque essa é uma jornada que não acaba. Você estará passo a passo evoluindo”, afirma Gouveia.

      Marco Gouveia

E, como já dito, não dá para pensar somente em aprendizagem profissional. “A minha trilha, por exemplo, envolve outras situações que nada têm a ver com as minhas atividades de professor ou de engenheiro. São assuntos que eu gosto e que me trazem satisfação em estudar, que me tiram do foco do dia a dia, que aumentam a minha criatividade e me trazem muitos benefícios. Você deve procurar sua trilha também para se desenvolver como ser humano, em toda a sua potencialidade”, revela o especialista. 

O docente ainda recomenda que a trilha de aprendizagem seja revisada de tempos em tempos, observando o que foi feito nesse período. “Olhe para o seu currículo de vida e veja o que aprendeu de novo, como um novo idioma ou algo relacionado ao dia a dia, ou seja, o que contribuiu para a sua evolução”, sugere. 

Curadoria de conteúdo

Diante da infinidade de informações que todos os dias chegam por diferentes meios, fazer uma curadoria de conteúdo, ou seja, selecionar informações de qualidade, se tornou essencial para o processo de aprendizagem, uma vez que é necessário filtrar o que é relevante e o que não passa de fake news. “Não acredite em nada milagroso. Muitos cursos, por exemplo, prometem ensinar como ganhar muito dinheiro por mês. Desconfie, não existe milagre”, alerta Gouveia.

Antes de embarcar em qualquer empreendimento de aprendizado, procure saber do que se trata, busque informações relacionadas à reputação de quem está oferecendo o curso, veja a opinião de quem já fez e dê uma olhada nos sites de reclamação. “Busque por instituições que são renomadas e reconhecidas. A internet deu voz a qualquer maluco, que ensina do bem ao mal, do A ao Z. Então, a curadoria é fazer uma seleção criteriosa de onde você vai investir seu tempo e dinheiro”, orienta o professor.

Gestão de tempo

Apesar das facilidades da tecnologia (e talvez devido a ela também), a gestão do tempo continua como um dos maiores problemas da humanidade. Frente à necessidade de atualização constante e às mudanças do mercado de trabalho, esse cenário se torna ainda mais desafiador. 

Gouveia relembra que o profissional da década de 90 saía para trabalhar às 7h e terminava seu expediente às 17h, rotina que está ficando para trás com a conectividade. “Hoje, você já acorda com uma mensagem de WhatsApp do seu chefe e, antes de dormir, responde mais meia dúzia de demandas que chegaram. Às vezes, a gente acaba sendo escravo do trabalho e pode até ser que durante um tempo isso seja necessário, mas existe um preço e, com certeza, essa cobrança vem na saúde”, lembra. 

Para mudar esse cenário, o docente sugere que as pessoas tenham disciplina. “Saiba dividir o tempo para a família e demais atividades, como se exercitar, meditar, participar de cultos religiosos e se socializar. Tudo é uma questão de equilíbrio. Não dá para viver só no papel de profissional e, quando não se está nele, ficar alienado nas redes sociais. Isso vai trazer sérios problemas de saúde física e mental. A falta de tempo só se resolve com disciplina e rotina, se não tiver isso, a conta vai ser cara”, orienta.

Desaprender para aprender 

“O analfabeto do século 21 não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender e reaprender”. A frase do escritor e futurista norte-americano Alvin Toffler, escrita há 50 anos, não poderia ser mais atual. 

Para sobreviver nesse mercado competitivo é preciso estar aberto a novas formas de olhar o mundo, ou seja, abrir espaço para aprender algo novo. “Desaprender nada mais é do que localizar no dia a dia, nas atividades e até na vida pessoal, o que não está funcionando bem. A maneira de fazer as coisas, às vezes, já é realizada da mesma forma há muito tempo e desaprender dá oportunidade para fazer de uma nova maneira”, comenta Cassio Grinberg, executivo e consultor estratégico.

Em um artigo publicado na Harvard Business Review, Mark Bonchek, especialista em era digital, sugere três passos no processo de desaprender: reconhecer que o velho modelo não é mais relevante ou efetivo; encontrar ou criar um novo que possa melhor atender seus objetivos; e incorporar os hábitos recentes, bem como reforçar os novos comportamentos.

            Cassio Grinberg

“É um grande desafio, porque muitas vezes não temos consciência dos nossos modelos mentais e é preciso coragem para admitir que eles estão desatualizados. Construímos marca, reputação, carreira e desapegar desses modelos pode parecer algo como começar de novo, perder status e autoridade. Mas, na verdade, precisamos justamente pisar no vazio e criar um novo modelo por meio do qual a empresa possa atingir seus objetivos”, explica Grinberg.

O executivo afirma que as organizações também precisam ser capazes de construir suas estratégias à lápis, para que seja possível passar uma borracha sempre que necessário, já que tudo muda muito rápido e não se pode ter medo de desinventar uma ideia, um processo ou produto. “Eu trabalho com planejamento estratégico e, cada vez mais, crio mecanismo nas empresas para que a estratégia seja mais leve, rápida e apagável”, comenta.

Grinberg é um exemplo do quanto o aprendizado contínuo é relevante para crescer na carreira. Ex-skatista profissional, tornou-se um executivo e, atualmente, é consultor estratégico de grandes empresas, além de autor do livro “Desaprenda – como se abrir para o novo pode nos levar mais longe” (Belas Letras, 2019).

“Eu aprendi muito sendo skatista, corretor de imóveis, professor de faculdade, sendo demitido e pedindo demissão. Aprendi e aprendo viajando, porque é onde desligamos o botão da rotina e ligamos o botão da criatividade. O novo está ali também. Eu experimentei a vida em várias organizações e hoje levo planejamento estratégico, curiosidade e provocação para transformação a vários clientes. O meu caminho tem sido esse, mas não conquistei uma jornada, eu estou em uma jornada profissional”, conclui Grinberg. 

Selo de qualidade

Quem busca por materiais gratuitos e de qualidade para incluir em sua curadoria encontra nas produções do CRA-SP conteúdos especiais. As matérias da Revista ADM PRO, os webinars e eventos produzidos pelo canal A Serviço da Administração, no YouTube, bem como os artigos, livros, pesquisas e palestras compartilhadas pelo Centro do Conhecimento e seus Grupos de Excelência são pensados com o propósito de atender a um dos principais objetivos do Conselho: o de fomentar o constante desenvolvimento dos estudantes e profissionais da Administração. 








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