Como a logística está enfrentando o coronavírus - CRA-SP
Faça download do App |
Como a logística está enfrentando o coronavírus

É redundante dizer que a pandemia do novo coronavírus pegou todo mundo de surpresa. Tanto pessoas físicas quanto jurídicas precisaram, do dia para noite, entender como seria possível sobreviver às ameaças desse inimigo invisível. Fazendo um recorte para o setor logístico brasileiro, podemos dizer que esse segmento passou a contar, muitas vezes, com o curto prazo de 24 horas para mudar suas estratégias, definir ações e resolver problemas derivados desse cenário social-econômico imprevisível.  

A crise causada pela Covid-19, inédita para o planeta, trouxe à cadeia logística diversas consequências como comprometimento da importação e exportação de mercadorias, fechamento de fronteiras, ranhuras em acordos comerciais, crescimento acelerado do e-commerce, aeroportos quase ou totalmente fechados, medo da contaminação, redução do fluxo automobilístico, disparo do dólar e por aí vai. Esses caminhos levaram diversos desajustes ao setor que, mesmo assim, vislumbra algumas novas oportunidades empresariais para revigorar os negócios nessa fase de escasso contato social. 

Para falar sobre todas essas mudanças, no último dia 02 de junho, em seu perfil do Instagram (@cra_sp), o CRA-SP realizou a live “Como a logística está enfrentando o coronavírus?”. Conduzido pela jornalista Maria Rita Werneck, o bate-papo online contou com as participações do Adm. Paulo Saez, sócio fundador da Ok Entrega e integrante do Grupo de Excelência em Gestão da Cadeia de Suprimentos e Logística do CRA-SP, e também do administrador Gilberto Lima Júnior, diretor de operações e diretor geral adjunto na ID Logistics BR. Entre alguns dos principais pontos explorados na conversa estiveram as análises sobre o atual cenário do setor, o compartilhamento das experiências dos convidados da gestão e suas expectativas para o futuro. 

Como se planejar diante de uma incógnita? 

Saez, com mais de 30 anos de experiência em logística, e Lima, que soma duas décadas atuando no setor, afirmaram que já passaram por várias crises, mas nada comparado ao que se vive agora, diante do novo coronavírus. Lima, por exemplo, revelou que, de certa forma, a ID Logistics BR estava esperando a chegada da crise com algumas informações vinda do exterior, uma vez que a empresa é filial de uma multinacional francesa, região onde o coronavírus causou muito estrago antes de chegar à América do Sul. O fato de não terem sido pegos desprevenidos possibilitou que o braço brasileiro da corporação antecipasse a compra de equipamentos de proteção e o desenvolvimento de um protocolo de conduta (que, até o dia da live, já estava na sexta versão) a partir da criação de um comitê de gestão de crise. Sabemos, porém, que essa não foi a realidade para todos. 

 O administrador contou que o ambiente da logística sempre passou por muitas crises e cenários complexos, sendo a resiliência e capacidade de improviso criativo características ligadas ao profissional da área. Mesmo assim, diante da facilidade de atuar em cima de um “planejamento zero”, como ele enfatizou, é muito difícil desenvolver ações que possam mudar o trajeto, muitas vezes em um mesmo dia. “Em um cenário como esse, de coronavírus, certamente temos mais eventos nos quais o planejamento desapareceu e as pessoas estão trabalhando quase no improviso”, revelou Saez. 

Ao longo da pandemia no Brasil, ambos os especialistas ouvidos na live viram seus clientes, fornecedores e funcionários serem afetados pela crise. Lima, por exemplo, revelou que setores chegaram a parar totalmente, sendo necessário fazer uma força tarefa para não permitir que essa situação se prolongasse por muito tempo. A queda de receita ocasionou demissões, pedidos de negociações e novas condições contratuais. Ele lembra que algumas operações ficaram totalmente paralisadas por algum período, outras tiveram perdas em relação ao faturamento e volume – nas quais foi necessário usar os artifícios da MP936 (medida provisória que permite a redução de salários e a suspensão de contratos de trabalho durante a pandemia de Covid-19) - e, também, alguns segmentos na contramão disso tudo, como o setor de e-commerce, onde não houve redução, pelo contrário. 

O tempo de resposta diminuiu muito 

Não saber quanto tempo essa pandemia e sua consequente crise irão durar é um grande desafio para os gestores de logística. Trabalhar com prazos e processos bem alinhados são traços marcantes da área que, agora, se planeja por 24 horas, como explicou Lima. “Isso é o mais difícil de tudo. Hoje os nossos clientes podem estar com as lojas abertas e, amanhã, ter uma determinação diferente e estar tudo fechado. Hoje posso planejar ter 400 pessoas em uma determinada operação e, no outro dia, ter só 50”, disse. 

Planejamento de curto prazo versus resposta rápida: assim tem sido a rotina das empresas de logística durante essa pandemia. Começar o dia com um determinado cenário - seja ele econômico, político e social - não significa que ele terminará igual. Desde março, esse é o quadro comum do setor, responsável por toda a movimentação mercadológica do produto, ou seja, todos os serviços que estão embutidos nele. “Toda vez que você compra uma mercadoria qualquer em um supermercado, imagine que existe todo um serviço de movimentação e de armazenamento, tanto das matérias-primas envolvidas, quanto no produto acabado”, explicou Saez. 

Supply Chain 

A gestão da cadeia de suprimento é essencial para a sobrevivência dos negócios e o momento exige mais excelência do que nunca nessa área. Lima deu dicas valiosas para uma gestão eficiente e para diminuir os custos logísticos, ressaltando a importância do gerenciamento de três fluxos: o de produto, o da demanda e o da informação (cliente, fábrica, consumidor final). 

Já Saez salientou que é preciso ter cuidado na hora de diversificar os modais de transporte para não deixar de lado parceiros que tenham tecnologia, sejam inovadores e agreguem valor à marca. Isso porque, no Brasil, 76% de todo o volume transportado acontece pelo modal rodoviário. Por toda essa dependência das estradas, há dois anos a logística brasileira quase colapsou com a greve dos caminhoneiros. Em tempos de pandemia, porém, não depositar todas as fichas em um único ou poucos modais e também ampliar o leque de fornecedores pode ajudar a afrouxar o nó que essa crise está provocando. 

Oportunidades em meio à crise 

Em alguns países, como os Estados Unidos, novas formas de entrega de pequenos produtos foram colocadas em prática como mais frequência diante o isolamento social. Na cidade Phoenix, por exemplo, já é possível ver minirrobôs fazendo entregas de medicamentos e, até mesmo, de pizza. Será que, finalmente, estamos vivendo no futuro tecnológico dos Jetsons (desenho animado da década de 60 que apresenta uma família em um futuro automatizado)? Saez, que também é especializado em tecnologia da informação, disse que, pelo menos na logística, a automação já é uma realidade há muito tempo. Ele apontou alguns serviços já realizados pelas máquinas e reforçou que, devido ao medo de contaminação pelo novo coronavírus por meio do contato com objetos infectados, é possível que a robotização cresça ainda mais. 

Outra grande oportunidade, sem dúvida, vem do e-commerce. A logística brasileira também precisou, assim como os empresários, se adaptar para atender essa nova demanda. Investir no omnichannel (ou atendimento em vários canais) também pode ser uma oportunidade para o setor nesse momento, quando as pessoas estão precisando de novas formas de consumo. Saez explicou que, para o cliente, não importa onde a compra foi realizada (aplicativo, totem, loja física, website), mas sim que ela possa ser concluída e entregue por meio de algum canal. “Eu posso comprar em um aplicativo e retirar na loja, como também posso comprar na loja e depois receber na minha casa. Acho que todos os negócios devem estar preparados para o múltiplo canal”, orientou. 

Dicas para o profissional 

Buscar a atualização e uma especialização na área, além de ser um profissional organizado e bom em negociação são características essenciais para quem quer trabalhar com logística. Lima contou que outra habilidade muito importante, principalmente agora, é saber se comunicar. Paulo, por sua vez, deu dicas para os colegas de profissão que se encontram em meio ao desespero por precisarem se adaptar às novas exigências do mercado, mas não sabem por onde começar: buscar uma consultoria, estudar os temas levantados na live e participar de eventos podem ser bons começos. 

Uma série de paradigmas estão sendo quebrados no setor e muito disso é reflexo das medidas de proteção contra o novo coronavírus. Apesar de ser uma prática antiga em muitos escritórios pelo mundo, o home office ainda não era tão difundido no Brasil e, com a necessidade do distanciamento social, ele se tornou uma das principais alternativas para as pessoas continuarem trabalhando de forma segura, mantendo a agilidade e com menos custos. Lima contou, inclusive, que tem otimizado muito o tempo da sua rotina de trabalho por não precisar mais viajar para reuniões em outros estados. 

Mais sobre a Logística

O Canal a Serviço da Administração, no Youtube, produziu, em parceria com o GELOG, um vídeo especial sobre os impactos da pandemia na Logística. Assista a seguir.  



Siga-nos em nossas redes sociais para receber todas as informações sobre os conteúdos, eventos e entrevistas que estamos produzindo neste período de quarentena. A cobertura de todas as lives e o resumo dos webinars você encontra aqui, no portal da ADM PRO.



Revista Administrador Profissional - ADM PRO
Publicação física com periodicidade trimestral
Conteúdo produzido pelo Departamento de Comunicação do CRA-SP
Todos os direitos reservados