A acirrada disputa pela entrega mais rápida - CRA-SP
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A acirrada disputa pela entrega mais rápida

Grandes nomes do comércio eletrônico aprimoram seus modelos de operações para aumentar as vendas on-line e conquistar mais clientes

A corrida pela entrega imediata está cada vez mais acirrada entre os grandes players do varejo digital. Se até poucos anos atrás as encomendas levavam semanas para chegar, hoje os consumidores dão preferência às empresas que conseguem garantir o envio em poucas horas (ou até em minutos).

Para oferecer a melhor experiência para esse cliente, que por vezes deixa de comprar se o prazo não estiver adequado à sua necessidade, as companhias vêm investindo na otimização de seus processos de logística, no intuito de suprir a crescente demanda do e-commerce, potencializada pela pandemia. Dados da Ebit/Nielsen, plataforma que mensura o mercado brasileiro de vendas on-line, apontam que, apenas no primeiro semestre de 2021, as vendas do comércio eletrônico atingiram R$ 53,4 bilhões, o que representa um aumento de 31% em comparação ao mesmo período de 2020.

Para se manterem competitivas, as gigantes do setor (como Amazon, Americanas, Aliexpress, Via, Zé Delivery, Magalu e Mercado Livre) aprimoraram seus modelos de operações, tecnologias utilizadas e suas decisões estratégicas. “Espera-se que a concorrência nesse tipo de serviço acompanhe os aumentos das vendas on-line. Vai se destacar aquele que nota as tendências, reduz os custos e prazos de entregas e, principalmente, cumpre o que promete, é transparente com as informações, tem controle de suas operações, age rapidamente para solucionar desvios e busca melhoria constante”, orienta o administrador e membro do Grupo de Excelência em Gestão da Cadeia de Suprimentos e Logística - GELOG do CRA-SP, Uillicre Silva. 

  Luiz Vergueiro

O Mercado Livre (MeLi), por exemplo, vem trabalhando para oferecer uma entrega cada vez mais rápida e que corresponda à expectativa do consumidor de ter mais variedade de produtos, melhor custo e agilidade. “Para entregas em Full, que é quando o MeLi é responsável por todo processo logístico, conseguimos fazer as entregas no mesmo dia para 50 cidades, cujos CEPs cobrem 20% das vendas. Em até um dia para 2,1 mil municípios, alcançando 75% dos pedidos, e em até dois dias para 4,7 mil cidades do Brasil, cobrindo 90% da demanda. Tudo isso a partir de tecnologias desenvolvidas quase que integralmente in house”, comenta o diretor de logística do Mercado Livre, Luiz Vergueiro.

Já no Magalu, as estratégias adotadas com o propósito de diminuir o prazo das entregas e baixar os custos dos fretes envolvem, por exemplo, o abastecimento dos itens de maior demanda. A empresa revela que, em razão do uso de tecnologia de ponta, como inteligência artificial e ferramentas de análise de consumo e comportamento do cliente por geolocalização, que permitem um mapeamento mais preciso da quantidade de estoque de um produto em uma determinada região, é possível se antecipar às necessidades de cada loja ou dos centros de distribuição (CD) por todo o País. 

Por meio de sua assessoria, o Magalu informa que conta com o apoio dessa tecnologia para gerar assertividade e abastecer corretamente as lojas, uma vez que elas também atuam como pequenos centros de distribuição para o serviço Retira Loja e para o sistema ship-from-store (quando os varejistas usam o estoque de seus estabelecimentos físicos para atender pedidos realizados on-line). A companhia informa, ainda, que quer usar toda essa expertise para entregar mais rápido os produtos dos sellers, vendedores que disponibilizam suas mercadorias em sites que atuam como marketplaces

Diferenciais entre os players

Na visão do integrante do GELOG, o sucesso de qualquer e-commerce, sem distinção de tamanho, está atrelado à sua capacidade de entrega e de atendimento às expectativas dos clientes. “É natural que as empresas invistam e dediquem seus recursos nessa etapa de suma importância”, acrescenta.

Nesse sentido, o Magalu tem como meta surpreender o consumidor com o produto em casa antes do esperado. Para isso, conta com uma estrutura que cobre praticamente todos os estados do Brasil e está presente em mais de 3.500 municípios. Sua operação dispõe de 26 centros de distribuição estrategicamente localizados, que atendem uma rede de mais de 1.400 lojas espalhadas pelo País, além de 211 pontos de cross docking (produtos entregues pelos fornecedores imediatamente remetidos aos clientes, sem estocagem). Já a entrega ultra rápida, feita em até uma hora, está implantada em 80 cidades e cobre 100% das capitais onde há lojas.

O Mercado Livre, por sua vez, por ser uma organização que nasceu no digital, tem os usuários e suas experiências de compra e venda como os pontos centrais do negócio. No decorrer do tempo, a empresa aperfeiçoou seus produtos e serviços e, nos últimos anos, investiu em estrutura de armazenagem e logística. “Foi um movimento muito importante da nossa parte, considerando o boom do e-commerce que observamos a partir das medidas de isolamento social. Anunciamos em 2021 um pacote de investimento de R$ 10 bilhões e boa parte desse montante foi aplicado nas operações logísticas. Inauguramos três novos centros de distribuição (em Cajamar, Franco da Rocha e Extrema - MG) e, neste ano, iniciaremos a operação de um novo CD em Belo Horizonte", explica Vergueiro.

Em seus ativos logísticos, o MeLi conta com oito CDs fullfilment (os produtos dos vendedores ficam nos armazéns e toda a logística é feita pelo Mercado Livre); 17 centros cross docking; 80 service centers; 3 mil agências Mercado Livre; três aviões; 3 mil caminhões; mil vans e 51 carros elétricos. “No terceiro trimestre de 2021, com o Mercado Envios, 247,8 milhões de itens foram entregues. Isso corresponde a um aumento de 32,1% em relação ao mesmo período do ano anterior”, aponta o diretor de logística.

Mercado em expansão

Na medida em que cresce a capacidade de armazenamento e a variedade de produtos, aumenta a complexidade e necessidade de organização, não apenas no caminho do pacote até o cliente, mas também na trajetória do produto do parceiro até o centro de distribuição. Para toda essa operação, o Mercado Livre emprega mais de 12 mil pessoas direta e indiretamente em suas operações de fullfilment

“Nós acreditamos e percebemos, pelo crescimento dos últimos anos, que o consumidor se acostumou definitivamente a comprar on-line e com as vantagens de receber o produto em casa. Por isso, temos nos esforçado para garantir agilidade nas entregas e atuamos como agente democratizador do comércio eletrônico, onde empreendedores podem construir e digitalizar seu negócio com ferramentas competitivas”, complementa Vergueiro.

Já a área de logística do Magalu conta com cerca de 6.300 colaboradores e 8 mil motoristas em operação. A empresa informa que conforme o número de CDs e afins cresce, há sempre a necessidade de novas contratações, assim como acontece na Black Friday e no final de ano, quando a demanda aumenta e a área é reforçada por meio de vagas temporárias.


                                                                      Uillicre Silva

Embora seja um mercado em alta, Silva lembra que os estudos da International Road Transport Union (IRU), organização mundial de transporte rodoviário, demonstram que falta mão de obra qualificada no setor de logística em todos os níveis ocupacionais, tanto em países desenvolvidos como nos em desenvolvimento. 

“A logística, sendo o elemento fundamental para a disponibilidade de matérias em todo o elo da cadeia de suprimentos, demonstrou por meio do aumento acentuado das vendas on-line durante o período da pandemia, que os profissionais qualificados foram essenciais para reagir rapidamente e ajustar as atividades logísticas, atendendo, assim, ao novo e desafiador cenário”, reforça. 

Por este motivo, complementa o administrador, as empresas buscam por profissionais que estejam preparados de forma técnica, social e comportamental para contribuírem com a manutenção e desenvolvimento dos negócios em um ambiente de elevada competitividade e incerteza, especialmente durantes as crises, como a atual ocasionada pelo novo coronavírus.

E-commerce em 2022

Com a mudança no comportamento do consumidor, que se adaptou bem à conveniência das compras on-line e à agilidade das entregas, tudo leva a crer que, neste ano, as vendas no e-commerce continuarão a crescer em volumes e variedades de itens e isso demandará dos grandes players fortes investimentos e inovações na etapa final da entrega.

Diante deste cenário, o Magalu acredita estar preparado. A empresa informa que há uma forte estrutura logística e capacidade de desenvolver tecnologia proprietária, além de um ecossistema de empresas complementares que o torna amplamente capaz de seguir a missão de digitalizar o varejo tradicional em larga escala, na velocidade necessária e dentro da legalidade. 

Já o MeLi observa que a busca por conveniência resultou no aumento da experimentação, quando as pessoas perceberam que não precisavam sair de casa para resolver tarefas. Isso fez com que houvesse um aumento nas vendas de ocasião, como supermercados e itens para casa. “Nesse sentido, nosso marketplace oferece parcerias com marcas reconhecidas. Somado a isso, temos uma experiência completa em que se coloca no mesmo carrinho itens de outras categorias, como moda, beleza, eletrônicos e artigos em geral. Trabalhamos incessantemente para melhorar a experiência de compra dos nossos clientes”, revela Vergueiro. 

Essa concorrência por menores prazos de entrega gera, além de desafios econômicos, como prazos e custos, questões ambientais e sociais às quais os gigantes do comércio eletrônico deverão estar atentos. “As entregas rápidas e fracionadas poderão impactar no fluxo de veículos nos centros urbanos, na emissão de gases poluentes, em ruído e congestionamento, em acidentes e no bem-estar da sociedade e dos prestadores de serviços de entrega. Ou seja, deve existir também a preocupação com a sociedade, a saúde e a qualidade de vida das pessoas”, conclui Silva.




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Publicação física com periodicidade trimestral
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