Dados nunca foram tão valiosos — ou tão carregados de complexidades. Em tempos de turbulências e incertezas, como empresas e indivíduos podem se unir para criar valores compartilhados para a sociedade, além de um futuro melhor para todos?
A crise da Covid-19 apresentou ao dilema dos dados um contraste nítido. O rápido acesso a informações sobre pessoas, populações e epidemiologia pode ajudar na contenção de pandemias e na aceleração de soluções de tratamento e vacinação, salvando vidas. Ao mesmo tempo, a comunicação desses tipos de dados pode expor informações pessoais, colocar em risco liberdades sociais e, potencialmente, dar mais poder a entidades autoritárias. O alto risco e a natureza de tais considerações frequentemente fazem com que o debate em torno do assunto tenha uma narrativa “nós contra eles”, posicionada entre a salvação e a ruína. Por fim, a confiança entre todas as partes interessadas pode ser prejudicada.
E, no entanto, esse contexto pode ser uma oportunidade para empresas ilustrarem o valor de compartilhar dados, fazendo isso com a contribuição de usuários, clientes e governos. O trabalho da Deloitte com o ConvergeHEALTH Connect, por exemplo, reúne plataformas de mensagens, líderes em tecnologia de nuvem, fornecedores de CRM, sistemas de saúde e governos que possibilitam uma triagem rápida de populações para avaliar um possível contágio. A solução tornou-se viável após uma forte colaboração entre múltiplos stakeholders dispostos a compartilhar dados para obter melhores resultados – sendo apenas um entre muitos exemplos que mostram como uma gestão eficiente de informações pessoais pode ser uma aliada no combate de grandes desafios enfrentados pela humanidade.
Principais conclusões
Enquanto cada vez mais empresas apostam seus futuros no acesso aos dados, consumidores estão se tornando também mais maduros no entendimento de como seus dados são tratados —aumentando a pressão para supervisões regulatórias e restrições mais rigorosas. As pessoas interagem com a coleta de dados de várias maneiras, mas o perfil público de alto padrão de alguns serviços de mídias sociais e de mensagens significa que essas empresas são frequentemente desafiadas a lidar com questões de privacidade, segurança e transparência de dados.
Empresas do ramo de mídias sociais e serviços de mensagem têm também uma grande oportunidade de sair à frente de reguladores, estabelecendo uma maior confiança ao controlar redes de troca de publicidade e corretores de dados — ecossistemas ainda indefinidos, gerenciados por terceiros que agregam e vendem informações. A oportunidade talvez seja ainda maior para que negócios impulsionados por dados entreguem um valor mais tangível diretamente a clientes e usuários que fornecem essas informações. Esses esforços, no entanto, podem exigir que concorrentes colaborem, e setores diferentes se alinhem em prol dos benefícios tangíveis para os seus negócios, os clientes e a sociedade em geral.
A questão do uso responsável de dados já foi debatida por muito tempo entre empresas, reguladores e consumidores. No entanto, a crise da Covid-19 reforçou o papel central de organizações orientadas por dados e, ao mesmo tempo, afastou alguns dos obstáculos que bloqueavam sua evolução . Nos primeiros anos do século 21, ficou evidente que nosso futuro coletivo seria orientado por dados e que, portanto, seria preciso aceitar esse fato para planejar o futuro melhor. É totalmente viável ter um mundo orientado por dados robustos que defendem a privacidade, reforçam a confiança e distribuem valor de forma equitativa.
Metade da humanidade tem acesso à internet e mais de 3 bilhões de pessoas têm smartphones . Muitos mecanismos trabalham para identificar consumidores, seguir suas pegadas digitais, oferecer melhores experiências e conectá-los a empresas. Esses mecanismos alimentam também uma economia de marketing e publicidade voltada a angariar visualizações mais granulares dos consumidores que tentam alcançá-las. O custo, porém, tem sido alto: os métodos de coleta e aproveitamento de dados de consumidores têm deixado espaço para fraudes, campanhas de influência e manipulação geopolítica .
As questões são complexas: em tempos de grande turbulência e incerteza, como empresas e indivíduos podem se unir para criar um futuro melhor para todos visando a orientação por dados? Como eles podem concordar em valores compartilhados para a sociedade? E como eles podem usar dados para criar mais valor e transparência, acelerando a recuperação econômica ao mesmo tempo em que estabelecem novas bases para um futuro próspero?
Tecnologias são neutras até serem utilizadas por pessoas — e bilhões de usuários podem trazer para a superfície uma ampla gama de efeitos sociais. Os principais serviços gratuitos de redes sociais e mensagens têm a maior área para coleta de dados do consumidor, visto que os usuários compartilharam seus comportamentos e interações em troca do valor que recebem. Esses serviços evidenciam algo inato à humanidade e nossa ânsia em nos mantermos conectados e compartilhar. As ferramentas tecnológicas permitiram que pessoas ao redor do mundo se organizassem, colaborassem e inovassem rapidamente, construindo a base de nossa jovem sociedade digital, tanto em um viés positivo quanto negativo. Após quase duas décadas de uso, os serviços de redes sociais e mensagens estão sob um escrutínio cada vez maior por parte de usuários que estão mais cientes de como seus dados são tratados em mercados imprecisos. Na parte de setor público, governos lutam com algumas das consequências mais sombrias de uma sociedade digital que se tornou altamente programável.
Mais pessoas podem ver como seus comportamentos em plataformas digitais estão sendo capturados, utilizados e compartilhados — e são cada vez mais capazes de analisar como o valor que obtêm deste acordo pode ser desequilibrado. Sua confiança em serviços de consumidores orientados por dados diminuiu, já que muito deles têm percebido que a maior vantagem acaba com empresas, anunciantes e terceiros desconhecidos.
Consumidores estão amadurecendo e cada vez mais mostram sinais precoces de mudanças de comportamento. Mas muitos ainda não entendem completamente o uso de dados e privacidade, e a maioria talvez não compreenda a escala do acesso de terceiros às suas informações. Com mais legisladores assumindo esses negócios, as implementações iniciais desses serviços podem precisar de um reequilíbrio.
Os principais serviços de redes sociais e mensagens estão também amadurecendo. Eles cresceram e se tornaram algumas das maiores empresas da história, lidando com um capital enorme para agregar valor aos usuários ao mesmo tempo em que reforçam suas linhas de negócios. Líderes empresariais estão cientes dos desafios trazidos por essa escala, enfrentando a tarefa hercúlea de manter serviços gratuitos para bilhões de pessoas em uma colcha de retalhos global de mercados e regimes regulatórios, enquanto defendem empresas que, progressivamente, terceiros mal-intencionados tentam atacar.
Mais organizações estão implementando novas ferramentas de privacidade e transparência e dando a seus usuários mais controle sobre suas preferências de privacidade. Empresas estão repensando como lidar com o compartilhamento de dados de terceiros, além de pedir por regulação e supervisão inteligentes, enquanto estendem as proteções oferecidas a usuários por meio da Lei de Privacidade do Consumidor da Califórnia, nos EUA e do regulamento sobre a Lei Geral de Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês) da União Europeia. Líderes empresariais podem também precisar fazer uma reavaliação de seus modelos de negócios e mecanismos, a fim de agregar valor e confiança a uma sociedade digital esclarecida e cética.
Quando empresas exigem dados em troca de seus serviços, usuários reconhecem que estão abrindo mão de algo de valor — e esperam um valor proporcional em troca. E sua disposição de compartilhar seus dados depende, em parte, de quanto eles confiam em um serviço para defender sua privacidade. John Hagel, fundador e co-presidente do Center for the Edge, da Deloitte, observa que “ter acesso privilegiado a dados provavelmente dependerá da habilidade de construir uma confiança profunda com consumidores para que eles não apenas estejam dispostos a compartilhar seus dados com a empresa, mas ansiosos para compartilhar mais ainda, porque acreditam que receberão valor em troca”. Quando as pessoas enxergam benefícios claros e significativos de seus dados, elas estão geralmente mais dispostas a compartilhá-los. Isso pode permitir relacionamentos mais diretos e autênticos com o consumidor, ofertas mais personalizadas e incentivos, bem como retenção e lealdade à marca maiores. Relacionamentos sólidos com consumidores podem ser particularmente significativos durante crises econômicas.
Serviços cujos modelos de negócios têm como base a publicidade ou o compartilhamento de dados podem enfrentar desafios adicionais: como proteger e aproveitar dados para fornecer mais valor aos usuários não pagantes, enquanto usam esses dados para entregar mais valor aos consumidores pagantes. Falhar pode despertar um desaponto de acionistas e reguladores.
Governos mundo afora estão regulando cada vez mais negócios com base em dados, desempenhando um papel mais forte na aplicação da proteção ao consumidor, competição de mercado e estabilidade sociopolítica. Alguns estão focados no controle por meio de políticas de “nacionalização de dados”; outros estão buscando proteger os consumidores por meio de uma abordagem regulatória mais ampla, como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Líderes empresariais, porém, temem que os governos ajam precipitadamente e preocupam-se com o fato de que políticos e reguladores não entendam totalmente o que estão tentando regulamentar. Frequentemente, os consumidores ficam no meio do debate, dependentes desses serviços, mas incapazes de desempenhar um papel significativo na sua evolução.
O valor está claramente sendo trocado entre pessoas, empresas e governos, mas parece que o ecossistema está desequilibrado.
Essa visão de alto nível mostra as maneiras com as quais as partes trocam valor na sociedade digital. Consumidores, gradualmente, percebem o desequilíbrio.
Consumidores veem um valor declinante da coleta de seus dados e uma transparência limitada sobre essas informações após a coleta. Eles desenvolveram uma sensação de desconforto sobre o uso desses serviços e uma disposição de confrontar o fato de que empresas de redes sociais têm seu foco em modelos de negócios e não em privacidade, segurança de dados e manipulação comportamental.
Tecnologias digitais podem se difundir rapidamente e, frequentemente, apenas em escalas muito grandes as consequências não intencionais se tornam mais visíveis. Nesse estágio, a pressão pública muitas vezes estimula reguladores a instalar barreiras para evitar que o sistema oscile demais. De acordo com teorias de desenvolvimento tecnológico da pesquisadora Carlota Perez, mudanças institucionais levam mais tempo para amadurecer do que mudanças tecnológicas e econômicas. A pesquisadora afirma também que instituições governamentais tendem a abordar novas questões com soluções que funcionaram no passado. Isso resume em qual situação nossa sociedade orientada por dados está atualmente, enquanto governos buscam “criar instituições e regulamentações apropriadas no ponto de virada”.
Governos ao redor do mundo estão buscando diversos caminhos para a regulamentação, alguns mais robustos que outros. Organizações precisam equilibrar esses usuários em maturação e reguladores influentes, preocupadas que nenhum desses grupos esteja totalmente preparado para definir os negócios impulsionados por dados.
Algumas das soluções que os legisladores americanos estão considerando incluem:
Em uma jovem sociedade digital, as principais plataformas de redes sociais e de serviços de mensagens constituem uma superfície global de interação entre pessoas e modelos de negócios com base em dados. Na corrida para escalar serviços gratuitos para bilhões de usuários, o ecossistema de coleta de dados, modelagem e segmentação cresceu de maneira enorme e complexa. Esse crescimento permitiu que o modelo de negócios de publicidade e seus mecanismos fossem explorados por terceiros que desfrutam de anonimidade às custas de muitos outros. Por essas razões, reguladores estão buscando mecanismos de rastreamento, trocas de anúncios e agregadores de dados para trazer mais transparência e responsabilidade para a troca de valor entre usuários e plataformas orientadas por dados.
Para as maiores empresas de plataformas digitais, os métodos de rastreamento podem ampliar a área de superfície de coleta de dados. A maioria das pessoas está familiarizada com cookies, usados na internet para nos identificar e para que os sites possam oferecer experiências mais rápidas e personalizadas quando voltarmos a visitá-los. Cookies em primeira mão diminuem o atrito de utilizar sites e permitem que as experiências sejam mais customizadas.
Mas a situação fica mais complexa: serviços de web podem também adicionar partes de dados a outros sites que podem continuar a capturar interações depois de usuários terem visitado outras páginas. Cookies de terceiros, cada vez mais sob apuração por rastrearem usuários sem seu consentimento, estão sendo removidos dos principais navegadores, coibidos por bloqueadores de anúncios e controlado por reguladores. Esforços estão em andamento para substituir cookies de terceiros com mecanismos de navegadores que priorizam a privacidade do usuário ao mesmo tempo que ainda apoiam o ecossistema de publicidade — um exemplo de como os serviços e modelos de negócios voltados para o consumidor com base em dados já estão sendo reequilibrados.
Além da web, muitas pessoas passam seu tempo em aplicativos móveis que podem criar visualizações muito mais refinadas de como usuários estão interagindo com conteúdo, outros usuários e com o serviço em si. A confiança nesses casos pode ser predicada em um senso de contenção — a segurança inerente a “jardins com muros”. No entanto, esses jardins costumam ser parte de ecossistemas de dados que apoiam suas necessidades de negócios, e são nas ramificações desses ecossistemas que os problemas surgem, muitas vezes longe das vistas dos fornecedores. E, quando isso acontece, os provedores geralmente são responsabilizados.
Os maiores fornecedores podem ter agregadores múltiplos de audiência — uma rede social com base em um site, um aplicativo móvel de rede social, uma plataforma de mensagens — que podem capturar dados de usuários em todas as suas propriedades. Alguns agora incluem também pontos de contato físicos, com a proliferação de reconhecimento facial, pagamentos por smartphone e assistentes de voz em casa. Os provedores podem ainda comprar dados de outras empresas, garantindo o acesso a informações como hábitos de compra offline, propriedade de imóveis e educação.
As plataformas de publicidade direcionada dos serviços de redes sociais permitem que pequenos negócios atinjam públicos que antes estavam fora de seu alcance, e tais serviços podem ganhar importância no processo de recuperação econômica. No entanto, seu crescimento acelerado revelou deficiências críticas na maneira como são geridos.
Depois de anos de críticas e controvérsias, os principais serviços de redes sociais e de mensagens são agora amplamente transparentes sobre a coleta e uso de dados. Essa transparência desaparece no cenário indefinido e em constante mudança de corretores de dados e redes de lances de anúncios em tempo real. Quando alguém visita um site, as redes de troca de anúncio intermediam o acesso ao visitante, oferecendo perfis relevantes ao licitante mais alto. Quando um anúncio nos segue pela web é porque o emissor da publicidade está pagando uma rede de troca de anúncio para exibir aquele anúncio toda vez que nosso ID de cookie pseudonimizado entra em um novo site com um banner publicitário.
Para tornar a segmentação ainda mais precisa, as trocas de anúncios enriquecem seus perfis de usuários ao comprarem dados do maior número possível de fontes. Essas fontes podem incluir diversos corretores de dados que são menos transparentes em como adquirem esses dados — e o quão precisas as informações correspondem a quem somos. Alguns deles desenvolvem e oferecem perfis que podem ser totalmente imprecisos, o que não importa muito para um anúncio online, mas podem fazer com que um requerimento de hipoteca seja negado ou que um seguro de saúde seja retido. E os consumidores podem achar oneroso corrigir esses erros ou entrar em contato com um corretor de dados — se eles ao menos puderem identificar a fonte de informações incorretas. Colocar o foco nessas redes é uma medida importante para reguladores.
Um risco adicional de corretores de anúncios e trocas de dados é a quantidade de dados que transitam nas redes. Não há requerimentos compreensivos de segurança que podem ajudar a garantir contra vazamentos, violações de dados ou acessos indesejados. Por exemplo, empresas de telefonia usam dados de localização de seus assinantes para identificar e combater fraudes, mas esses dados podem respingar em outras redes de agregadores de localização que são menos regulamentadas do que as redes de telecomunicações. Para empresas legítimas que participam de redes de anúncios, pode haver visibilidade limitada em relação a quem estão se associando nessas trocas. Progressivamente, as organizações estão exigindo uma transparência maior para examinar e auditar esses parceiros para que possam reduzir seus riscos.
Corretores de dados e trocas de anúncios imprecisos e não regulamentados apresentam um risco para indivíduos e empresas: não apenas prejudicam a privacidade e a segurança de dados pessoais — como também corroem o valor desses dados por meio de metodologias inadequadas que podem resultar em imprecisões e responsabilidades legais. A falta de supervisão os tornou — e as empresas que compram seus dados — vulneráveis à infiltração de fraudadores e agentes duvidosos com o objetivo de desestabilizar populações e minar democracias. Se as maiores empresas de redes sociais e serviços de mensagens usassem seu poder para revisar de maneira radical essas ferramentas, haveria um grande alento na remediação de suas reputações, dando um valor maior aos seus dados e recuperando a confiança do usuário.
Quando a coleta de dados é transparente, protegida e contida em uma única empresa, o risco é reduzido. Essas empresas podem canalizar os dados de usuários de volta para seus próprios canais de inovação para entregar mais valor aos seus usuários e clientes. No entanto, esse “acúmulo de dados” pode fazer com que reguladores antitruste estejam conscientes do poder agregado das maiores empresas orientadas por dados. Talvez, uma legislação de privacidade que exija que as empresas mantenham dados de usuários com mais rigidez acabe por reforçar monopólios. E, ainda assim, a vantagem competitiva pode ser atribuída àquelas mais capazes de extrair percepções significativas em vez de àquelas com mais dados.
Quando a coleta de dados é transparente, protegida e contida em uma única empresa, o risco é reduzido e empresas podem entregar mais valor a seus usuários e clientes. No entanto, esse “acúmulo de dados” pode alertar reguladores antitruste.
Pode haver muito mais valor inexplorado no desenvolvimento de liquidez de dados entre empresas, pesquisadores e governos. Em resposta à crise da Covid-19, concorrentes se uniram para compartilhar dados e recursos em busca de melhores soluções. Rivais estão se unindo para desenvolver rapidamente soluções de “rastreamento de contato” para ajudar a mitigar a disseminação do vírus. Essas ações reforçam políticas iniciais de transferência de dados que podem permitir que usuários movam seus dados entre serviços, mas podem também permitir reflexões mais amplas. Por exemplo, cidades estão acessando as ligações aos serviços de emergência para mapear os locais onde o vírus aparece mais e organizações globais de saúde implementaram painéis integrados em que é possível visualizar dados em tempo real ao redor do mundo. A divisão de informações em silos pode permitir respostas mais rápidas à mudança: quando dados são compartilhados entre setores, as percepções, eficiências e otimização em escala do setor tornam-se possíveis — uma habilidade crítica em tempos nos quais a mudança está sendo disruptiva em setores inteiros. Além disso, empresas poderiam se libertar de fardos relacionados à gestão de dados e compliance ao apoiar trusts de dados que descentralizem essas responsabilidades sob entidades regulamentadas. Trocas de anúncios e dados podem se tornar clientes de trusts de dados fiduciários.
Esse é um caminho difícil para empresas, consumidores e reguladores. Falta um esforço amplo e concentrado para proteger e validar dados que coloquem a privacidade e o valor social no centro dos modelos de negócios. Tecnologia, transparência e supervisão inteligente podem proteger dados e garantir a privacidade, mas o debate atual parece tratar essas metas como mutuamente exclusivas.
Redes sociais e serviços de mensagem foram algumas das tecnologias mais amplamente adotadas e que mais escalaram rapidamente na história. Com foco no digital e orientados por dados, as ferramentas são modelos para estratégias de dados em todos os setores. Porém, poucas delas previram um uso tão amplo e global. Seus modelos de negócios, implementações técnicas e arquiteturas tiveram de mudar, algumas vezes de maneira delicada. Como muitas ofertas de produtos maduros, muitos serviços acabam operando sob o peso de decisões anteriores enquanto buscam maneiras de evoluir com segurança. Pode não haver momento melhor do que o atual para assumir riscos e fazer jogadas ousadas.
Pessoas, empresas e governos podem enfrentar melhor os desafios e oportunidades de uma sociedade orientada por dados ao observar o que está faltando ser discutido no debate atual.
Para consumidores:
Para empresas:
Para governos:
A ideia de que “dados são o novo petróleo” pode ser mais profunda do que parece. As maiores empresas orientadas por dados são mais valiosas do que as maiores empresas de energia. Empresas podem oferecer um maior desempenho e valor da “intensidade de energia” com base em dados sólidos do que de abordagens menos informadas. A expansão da economia de dados provavelmente moldará o futuro tanto quanto os combustíveis fósseis construíram o século passado.
A analogia também é cautelosa. O óleo poluído não queima bem e expele emissões poluentes. Sua capacidade de impulsionar economias contribuiu para os altos custos do aquecimento global e mudanças climáticas. O óleo também não conseguiu resolver os conflitos e crises decorrentes da competição por seu controle. E o excesso de dependência da sociedade nele pode ser perigosamente frágil.
Se a economia está se tornando uma economia de dados e todos os setores estão se tornando setores de dados, então será crítico — especialmente neste ponto delicado — que líderes empresariais, consumidores e governos se unam para desenvolver um conjunto responsável de princípios, melhores práticas e soluções que apoiem uma sociedade digital durável, próspera e equitativa.
Fonte: Material originalmente publicado no portal Mundo Corporativo, revista digital da Deloitte -