Vamos conversar? - CRA-SP
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Vamos conversar?

Sou virginiano com ascendente em Escorpião e lua em Leão. Nunca soube o que isso significava até que uma amiga me contou. Com o intuito de não assustar vocês, vou focar na lua em Leão, que diz que sou “emocionalmente dramático” (palavras do mapa astral que recebi dessa amiga). Eu tenho minhas ressalvas com relação a isso (meus amigos endossariam o mapa astral), mas o fato é que sempre me importei demais o emocional de todos. Sempre quis resolver os problemas do mundo inteiro. Quanto mais o tempo passou, mais as pessoas foram me rotulando como dramático. 

Sou fã de dramaturgia. Seja novelas, filmes ou séries, fico preso em todos os enredos. Não por acaso, uma das minhas autoras favoritas é a Lícia Manzo. Ao ler uma crítica da novela “Sete Vidas”, escrita por ela, o crítico havia dito que a frase “vamos conversar” havia aparecido mais de 200 vezes durante toda a novela. E ele dizia que isso dava ótima forma à trama e mostrava que realmente não existem vilões ou mocinhos, todos somos humanos e temos nossos momentos. Algo bem parecido com a vida.   

Mas ao analisar a nossa vida me dei conta que, infelizmente, vivemos em um mundo em que as conversas são cada vez mais raras e rápidas. Não há tempo para nada. A mais nova atualização do WhatsApp trouxe a possibilidade de acelerar a velocidade dos áudios. Podemos transformar 1 minuto em 30 segundos. Que ganho!!!   

Cada vez mais perdemos a interação. Cada vez mais achamos que conversas, diálogos e trocas são dispensáveis. Cada vez mais temos que fazer tudo rápido. Cada vez mais temos que fazer várias coisas ao mesmo tempo. Cada vez mais temos que priorizar o imediatismo.   

O mundo está sendo levado para essa nova configuração que me traz um enorme desconforto. Quando vamos perceber que o que mais faz sentido na vida é a troca? Que o que devemos valorizar são os encontros, as conversas, os abraços, os áudios que recebemos? O nosso maior ativo é esse. É o amor, é o carinho, é a experiência que temos com cada um.   

Em uma conversa recente com um conhecido, ele me disse que estava sem paciência com um funcionário que havia pedido respeito em algumas conversas, pois certos comentários se configuravam como homofobia. E esse conhecido, gestor de uma grande equipe, estava cansado de tanto “mimimi”. Aquilo me causou uma tremenda indignação. Cheguei à conclusão de que cada vez mais as pessoas encaixam aquilo que não as afetam e elas não têm interesse em entender como “mimimi”, ao invés de praticar empatia e buscar entender as dores do outro. O melhor caminho tem sido fugir de uma conversa franca.  

Os maiores sucessos em relacionamentos, sejam eles de amizade, românticos ou profissionais, têm como principal alicerce a escuta. Alguém que ouve bem, sabe falar bem. Alguém que busca compreender o outro, conseguirá suceder em diversos aspectos, inclusive na desconstrução daquilo que acham tratar-se de “mimimi” (expressão terrível para falta de empatia).   

Cada vez mais tenho tentado incorporar o “vamos conversar” na minha vida. Fascina-me entender o que cada um está pensando, sentindo e esperando. O alinhamento de expectativas é um bem precioso. Além disso, conversas francas geralmente trazem um grande aprendizado e oportunidade de mudarmos. Guimarães Rosa, em Grande Sertão: veredas, traz uma frase que muito me motiva: “O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam e desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou.”   

Temos a oportunidade de mudar diariamente. Não são cinco minutos do seu dia que lhe trarão mais olheiras por dormir menos, pelo contrário. Isso lhe trará um sono melhor. Não é meu signo que me define, mas sim o que vou fazer a partir das informações que eu souber dele. E sempre que precisarem, estarei aqui, emocionalmente dramático querendo abrir um vinho e falar: vamos conversar?  

Por Adm. Guilherme Krupelis

CRA-SP nº 133934

Diretor de Relacionamento






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