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É tempo de liderar pelo exemplo!

Rotinas inteiramente diferentes da normalidade, líderes e liderados distantes fisicamente e muito medo em relação à saúde, à economia e ao desemprego. É nesse ambiente caótico, instalado por conta da pandemia do novo coronavírus, que as lideranças precisam se reinventar para conseguir motivar seus times, inovar nas operações e planejar um novo futuro. Um desafio sem tamanho que, na opinião de César Souza, um dos maiores especialistas na área de liderança do Brasil, precisa ser vencido por meio do exemplo, de atitudes coerentes com os discursos e, acima de tudo, de coragem na hora de tomar decisões. 

Souza participou da live “O papel do líder em tempos de crise”, promovida pelo CRA-SP em seu perfil oficial no Instagram no último dia 27 de abril, e falou sobre os desafios que os líderes estão enfrentando para manterem seus times engajados, mesmo diante de tanta incerteza no País e no mundo. A live reuniu mais de 250 espectadores interessados em saber como lidar com uma situação tão adversa e César foi enfático em dizer que muitas das transformações atuais foram apenas aceleradas pela Covid-19. “Já tínhamos uma série de circunstâncias acontecendo, já existia uma tempestade que estava transformando a vida das empresas, nuvens pairando sobre o horizonte empresarial. Então veio o coronavírus, como se fosse uma ventania, e precipitou essas nuvens na forma de uma tempestade muito grande, antecipando o futuro e tirando o sono dos líderes empresariais em quase todas as funções e cargos dentro das organizações. Essa mudança trouxe uma série de transformações na natureza e nos modelos de negócio, no ritmo em que as coisas eram feitas, nas relações sociais e trabalhistas e na imprevisibilidade. Por exemplo: o home office não é uma invenção agora do mês de março. Ele já existia, mas em menor escala. O que ia acontecer em três ou cinco anos está acontecendo em um mês, três meses”, definiu Souza.  

O líder do momento

As transformações atuais são tão grandes que até a definição de líder 4.0 parece ter ficado para trás. Para Souza, o profissional que estava mais próximo dessa concepção de liderança, que já previa conduzir os colaboradores de acordo com as mudanças do mercado e com o uso cada vez mais rotineiro da tecnologia, provavelmente está mais preparado para conseguir desempenhar o seu papel no futuro. Porém, o que ficou claro para ele com toda essa situação é que não há uma só maneira correta de exercer a liderança. “Líderes brilhantes em tempos de abundância hoje parecem perdidos porque estão num momento de restrição de recursos. Líderes centralizadores, tão atacados no passado, agora estão assumindo um protagonismo na hora de tomar decisões.  É como o piloto de um avião que está caindo. Já pensou se ele tivesse que perguntar para os passageiros e tripulantes o que fazer? Não ia dar certo, ele tem que tomar a decisão e é isso que tem feito a diferença em alguns dos líderes centralizadores de antes. Líderes participativos, tão admirados no passado, agora sofrem grande pressão de seus subordinados, muitas vezes sendo acusados de serem complacentes com determinadas situações, pois não estão conseguindo resistir à pressão do tempo nem à velocidade com que precisam decidir”, exemplificou.

Souza, que também é autor de vários livros, o mais recente coincidentemente intitulado de “Seja o líder que o momento exige”, ressaltou que isso não significa que há apologia a qualquer tipo de liderança, mas sim que, nesse momento, é preciso “dançar conforme a música”. Isso, consequentemente, implica na delegação de atividades para as equipes que, em grande parte, estão atuando a distância. “Se eu tenho liderados que estão acostumados a terem autonomia eu posso delegar mais. Mas se eu tenho liderados que estão em um nível de maturidade menor eu não posso delegar tanto. A arte da liderança é de entender o momento, a circunstância, o perfil dos liderados e ajustar o seu estilo de acordo com aquele momento”, explicou. 

 César Souza

Hora de se reinventar e inovar

Seguindo essa premissa de atuar de acordo com a situação, Souza mencionou também que o CEO (Chief Executive Officer) agora pode ser chamado também de Chief Emergency Officer, pois ele tem que decidir emergencialmente e, ainda, equilibrar uma série de questões como o cuidado às pessoas, em termos de saúde e segurança, e os aspectos jurídicos, legais, tributários e financeiros, sem esquecer, também, de clientes, parceiros e comunidades. “O apelido que eu estou dando para o CEO agora é CRO, ou seja, Chief Reinvent Officer. O grande papel do líder no futuro será o de reinventar suas empresas e reinventar a sua profissão”, defendeu. 

Para que essa reinvenção possa acontecer, a inovação precisa estar presente não só no discurso, mas também nas atitudes dos líderes. Para Souza, não adianta querer ser inovador sozinho. Ele explicou que é necessário existir uma cultura de inovação clara para os liderados, que deve estar alinhada com investidores, com o líder imediato e com o Conselho de Administração, ou seja, inovar faz parte de um processo de negociação. “É preciso trabalhar não só nos problemas, mas também nas oportunidades e soluções. A segurança para isso virá da confiança que esse líder conseguir estabelecer nas suas relações”, completou. 

Todos esses comportamentos, segundo Souza, estão resumidos a uma única palavra: atitude. “Agora não é hora do líder se esconder, mas sim de assumir o protagonismo da situação. É o momento de o líder liderar pelo exemplo e ter um otimismo saudável e, também, energia, coragem, determinação, perseverança e velocidade. Não dá para atuar lentamente nas coisas, pois teremos que mudar bastante, de uma forma brutal”, previu. 

Empatia e feedback

Colocar-se no lugar no outro nunca fez tanto sentido quanto agora e, por isso, Souza também foi muito claro ao defender que as lideranças sejam solidárias com seus profissionais, que podem estar passando por momentos difíceis, tanto em relação à saúde (de si mesmos e de seus familiares) como ao medo das inúmeras incertezas que se apresentam. Por isso, mais do que cobrar engajamento, é imprescindível que os líderes tenham três comportamentos básicos: solidariedade, generosidade e compaixão. “Não é o momento de só cobrar resultados. Não adianta pedir engajamento das pessoas com as metas da empresa se você não se solidariza com a dor que um liderado seu possa estar sentindo. A solidariedade é uma competência essencial do líder. Isso o capacita para advogar e, até mesmo, exigir um grau maior de engajamento com a causa da empresa”, explicou. 

Para ele, também não é hora de dar feedbacks, a menos que eles sejam bons e possam contribuir positivamente neste momento, pois o contrário só aumentaria a atual pressão. Segundo César, é hora de “relevar uma série de coisas” e, em vez de só cobrar, procurar dialogar e combinar com os profissionais aquilo que pode ser realizado. 

Lições para o futuro 

Ao falar sobre a volta à normalidade, Souza lembrou que daqui para a frente teremos um novo normal, muito diferente daquilo que vivíamos antes da pandemia assolar o mundo. E que, diante disso, será necessário reinventar produtos e serviços. “Estamos vivendo uma dose de incerteza muito grande, por isso é preciso alinhar para obter maior sinergia e compromisso com acionistas e dirigentes. Seria fazer o que eu chamo sempre de uma reflexão estratégica”, projetou. Essa reflexão, segundo ele, não deve ser realizada apenas pelas empresas, mas também por profissionais, que precisam aproveitar esse momento para se cuidar, se capacitar e aprender novas competências. Outra questão importante mostrada por Souza foi o questionamento do propósito. “Da mesma forma que uma empresa precisa pensar nisso, você também deve questionar qual o propósito da sua vida daqui para a frente. É necessário, ainda, pensar nos resultados e metas que você quer atingir, bem como as suas prioridades até o fim de 2020 e, também, para 2021. A palavra-chave, para todos, é reinvenção!”, aconselhou. 

Por fim, Souza resumiu as ações primordiais para o líder neste momento e no mundo pós-pandemia. “Esteja perto. Esteja perto dos seus liderados, clientes e parceiros. Seja coerente com o discurso e a prática e mantenha a inteligência emocional. É época de respirar fundo, controlar certas irritações e demonstrar generosidade e solidariedade. Nada, também, de ficar postergando e empurrando com a barriga. Lidere pelo exemplo”, finalizou. 




Noemi Vieira Santos

12/05/2020 Muito boa essa matéria.

Noemi Vieira Santos

12/05/2020 Até a próxima
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